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Representação da mulher negra nas artes plásticas reforça estereótipos racistas, diz arte-educadora do NAC

Artes contaram história apenas sob ponto de vista branco

29/11/2017 11h35

A população brasileira é predominantemente negra, ainda assim, é difícil ver pessoas negras na televisão, no cinema e nas revistas. Infelizmente, essa falta de representação é histórica: as artes plásticas, que ajudaram a retratar e preservar a história da sociedade, também tiveram um grande papel na perpetuação do racismo e no reforço de estereótipos que vemos até hoje.

“A base da nossa história, a estrutura real dela vem da mão de negros e indígenas e de um grande misto de portugueses, de espanhóis, de todo mundo que esteve aqui. Mas a gente acaba ressaltando a história pelas vias brancas, contamos uma história hegemônica, que não necessariamente é real”, diz Beatriz Nascimento Bonifácio, arte-educadora do Núcleo de Arte e Cultura da Universidade Metodista de São Paulo.

Beatriz encerrou as celebrações do Mês da Consciência Negra com a apresentação de sua pesquisa sobre a representação da mulher negra nas artes plásticas e com um bate-papo sobre arte, representação e resistência contra o racismo. Em sua pesquisa, pôde constatar alguns aspectos distintos ao longo dessa história: os negros vistos como pessoas exóticas, a romantização da figura da ama de leite, a sexualização da mulher negra, o reforço do imaginário da população negra, o processo de compreensão, com a inserção de artistas negros nas artes plásticas, e a autoimagem, representação de pessoas negras feitas por elas mesmas.

A arte-educadora exibe ao público diversas pinturas que retratavam a mulher negra de forma hipersexualizada, ressaltando atributos físicos e restringindo sua atuação ao trabalho escravo e à reprodução, renegando sua capacidade intelectual. O artista Di Cavalcanti, um dos mais famosos pintores brasileiros, foi um dos responsáveis por levar a imagem da mulher negra para fora do Brasil, reforçando novamente os estereótipos racistas. “É uma ideia que vem desde a escravidão. Nesse período continuam reproduzindo o olhar do branco sobre o negro”, ressalta Beatriz. O mesmo acontece com as pinturas modernistas, como as obras de Tarsila Amaral, que exageravam detalhes etnográficos, ressaltando o nariz largo, as bocas grandes, mãos, pés e seios grandes e cabeças pequenas, novamente resumindo o negro ao trabalho e tirando seu aspecto pensante.

Por outro lado, os artistas plásticos negros que atuavam em uma época próxima demonstram mais sensibilidade ao retratar as pessoas a sua volta. Beatriz cita Benedito José Tobias pintou as obras Porta da Policlínica e Retrato de Mulher que retratam a realidade e contam uma história. “O olhar muda do colonizador para o colonizado. Essa é a diferença quando a sua fala é sobre você”, comenta a educadora.

Muito além de novembro

O encerramento das celebrações do Mês da Consciência Negra também foi feito durante uma roda de conversa com membros da comunidade acadêmica. Claudia Cezar, coordenadora do NAC, fala sobre a importância da discussão sobre o racismo: “é um despertar, a pessoa branca se torna nossa parceira na luta e a pessoa negra se torna consciente”.

Beatriz relata que vivenciou uma transformação dessas quando sua mãe assistiu ao Sou Show Afro, realizado pelo NAC. “O racismo foi construído de forma velada e muitos negros não se enxergam como negros. Minha mãe nunca se identificou como negra, mas quando veio ao Show, o retorno que me deu foi ‘olha, quantos negros lindos, felizes’. Isso acontece porque a imagem do negro é associada à pobreza, ao crime”.

Mas as participantes do bate-papo concordam que as ações precisam ir além e provocar o diálogo com pessoas em diferentes espaços e sempre. “Ouvi uma fala outro dia de um grupo de dança que dizia que ‘não podemos nos conformar com o 13º terceiro, novembro não pode ser nosso 13º’. E é verdade. Falei muito neste mês, mas o racismo não existe somente em novembro, precisamos discuti-lo ao longo do ano inteiro”, pontua a professora e reverenda Lídia Maria de Lima.

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