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Por que a educação não decola no Brasil?

Educação precisa ser programa de valor cultural e cerne da política

Paulo Freire costumava dizer que a educação não podia tudo, mas que não seria possível construir desenvolvimento verdadeiro e justo sem ela. A louvada reportagem da revista The Economist, recente e alardeada, não demonstra que nosso desenvolvimento é integral, feito ao modo de país educado e por ação da diversidade cultural e suas inteligências. De fato, movimentamo-nos por saltos de competência em vários pontos do espectro político e econômico. Uma decolagem parcial, comum às que são feitas sem fundamento na educação e na cultura.

A educação não decola de modo suficiente porque se tornou obsessão pragmática e não programa de valor cultural e cerne da política. Porque não se fundamenta nas mediações culturais das populações e porque sua relação com as tecnologias é instrumental e não uma referência crítica. Para alcançar novo patamar, não são suficientes a boa vontade e o desejo.

Carecem explicações. Um alfabetizando somente pode chegar a ser alfabetizado se as suas leituras de palavra e mundo forem fundamentadas na memória histórico-comunitária e num conjunto de objetivos que excedam a leitura dos nomes de destino dos ônibus. Alfabetizar implica construir um destino novo, algo “evangélico”. Do mesmo modo as políticas de educação devem mobilizar valores que excedam a reprodução de capitais econômicos (bem como dos mal chamados capitais humanos e culturais) e precisam se organizar como transversalidade da cultura dos governos e da sociedade civil. Educação é muito mais um processo de mudança de direção e organização de rumo político do que conjuntos de metas, currículos, programas de ensino, construção de edifícios etc. Educação é atitude indicativa do destino político de um povo e não um projeto de investimento. O ato de investir recursos é somente o “móvel” que garante a expansão do valor pactuado. O sucesso da educação depende de pacto simbólico, ao qual se agregam todas as pragmáticas. O contrário leva ao investimento estéril, suado, de idas e vindas, marchas e contra-marchas.

Por isso, um processo educativo no interior do desenvolvimento é integrador de políticas, indo da atitude ambientalista à relação internacional; da política de emprego ao processo habitacional; do estabelecimento de escolas às decisões coletivas de orçamento. Talvez somente duas atitudes apaixonadas permitam construir a governança integrada pela educação: a paixão pelo ato de gestar e gerir a coisa pública e a paixão pelo crescimento integral das pessoas no interior e à frente das organizações. Tais paixões ainda não são conhecidas pela república brasileira, a despeito de tantos esforços. Os símbolos de uma cultura política educadora ainda estão amortecidos; e os que se movem vão de sinais trocados. Assim, não se pode decolar.

Enquanto isso, ajudar a construir nova consciência.

*Luiz Roberto Alves é professor e pesquisador livre-docente da Metodista e da USP. Assessor voluntário de movimentos sociais e ex-secretário de Educação de São Bernardo e Mauá.

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