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Políticas de Governança: entre fragmentação e integração

O capital, o sistema imobiliário e a maioria das administrações públicas não determinaram a solidariedade

* Por Luiz Roberto Alves

Nossos sociólogos, economistas e antropólogos nos mostraram que as cidades não explodiram socialmente porque as culturas populares criaram redes sociais. O capital, o sistema imobiliário e a maioria das administrações públicas não determinaram a solidariedade; muito ao contrário, exacerbaram ânimos, afugentaram os pobres para antigas áreas rurais e instituíram vitrines urbanas. Emergiram, no entanto, movimentos sócio-culturais para garantir mínimos consensos, expressar belezas, brincar e jogar, ainda que em lugares inventados e adaptados. O sistema econômico e administrativo brasileiro deveria dar graças a Deus pelas culturas populares. O olhar positivo, embora crítico delas, tem feito a diferença.

No entanto, persistem no mundo urbano os riscos das antigas fragmentações e dependências. Basta localizar as centenas de ambulâncias e ônibus que trafegam de cidades “ricas” do Interior aos hospitais da Capital para ter um sinal pragmático da fragmentação. Pelo menos 4.000 das 5.564 cidades do Brasil têm menos de 20.000 habitantes e sobrevivem do INSS e da Bolsa Família. Até quando? As cidades, como já sabemos, são insustentáveis sob vários ângulos e raríssimas administrações públicas têm visão holística desse laboratório humano maravilhoso, que é a cidade. Menos do Estado e parcamente do País. Na última edição da Revista de Estudos Avançados, da USP, Ana Fani Carlos mostra que as concentrações fragmentam, dividem. Em São Paulo há um nítido movimento de desconcentração industrial e concentração de capital em movimento, além de crescimento da multi-nacionalidade dos novos setores, pouco empregadores. Somente em São Paulo estão 49 das 100 sedes das maiores empresas privadas e 19 das 30 instituições financeiras. Tais aglutinações puxam outros setores e desgovernam o controle social. Na medida em que algumas cidades produzem concentração econômica e tecnológica, o que se chama reprodução capitalista, tudo ao seu redor se transforma em mercadoria, especialmente o solo urbano, os transportes, o meio-ambiente, etc. Expulsos os pobres, arrisca-se a construção de governos paralelos em geografias especiais. A cidade se torna vitrine, inteiramente submetida aos interesses do capital. Reproduz-se, de modo sofisticado e moderno, o velho esquema republicano, que degradou as cidades. Agora, novas manchas geográficas caminham para mais perigosa degradação, pois muito habitadas. Fani Carlos afirma que "se o narcotráfico fosse extinto hoje o mercado financeiro entraria em colapso". Já chegamos ao horror da ficção?

Integrar políticas econômico-sociais equivaleria a uma recuperação antropológica: o humano voltaria a ser visto como cultura-natureza solidária. E o cotidiano da cidade sinalizaria que o habitante deixou de ser morador para ser cidadão.

* Luiz Roberto Alves é pesquisador e coordenador da Cátedra Gestão de Cidades da Universidade Metodista de São Paulo.

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