Conceito de experiência foi tema de aula magna da Pós-graduação em Educação
26/04/2019 09h55 - última modificação 28/06/2019 17h54
O Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo promoveu, no último dia 23 de abril, a aula magna do primeiro semestre de 2019. A convidada foi a professora Lúcia Pintor Santiso Villas Bôas, da Universidade Cidade de São Paulo, que tratou sobre o conceito de experiência, sobretudo no âmbito educacional.
Antes de aprofundar as problematizações em torno do termo, Lúcia Villas Bôas destacou que conceitos teóricos são operativos, por partirem de premissas e pressupostos que permitem uma melhor operação da ideia. Já quando o conceito emerge do cotidiano há outras variáveis a serem consideradas, com desafios próprios.
O termo experiência é polissêmico (possui vários sentidos) e ganha aplicações diversas no dia a dia, de acordo com a área ou do momento em que é aplicado. O mercado publicitário, por exemplo, há algum tempo distancia sua retórica da venda incisiva, buscando apresentar e garantir experiências – no sentido de conexões emotivas com o serviço ou produto apresentado. "Existe uma mercantilização das sensações e das vivências baseadas na utilização do termo experiência", disse a docente.
“No campo profissional, a utilização do termo também é comum: profissionais com experiência levam vantagem em processos seletivos e os responsáveis pelas contratações e definições de salários geralmente são os mais experientes em suas funções. De modo geral, quando vamos ao dicionário ou ao senso comum, a experiência geralmente é definida como conhecimento adquirido pela prática, muito embora ela e prática não sejam a mesma coisa", explicou.
Contexto educacional
Apesar da comum associação, essa relação entre teoria e prática esconde uma série de problemáticas, pois as duas nem sempre estão em diálogo – essa é uma realidade bastante presente entre a sala de aula e a atuação profissional. "A divergência é recorrente. Nem sempre a teoria oferece utensílios e ferramentas mentais para reflexão e operação prática", apontou a professora.
Há um outro extremo nessa compreensão popularizada do termo: comumente a reflexão não é vista como experiência. "O pensar sobre um assunto não é visto como uma atividade sendo realizada; nós não entendemos a elaboração de uma teoria também como uma experiência, que no senso comum só ocorre na execução", diz. A partir disso surgem discussões sobre como planejamento, pesquisa e reflexão são considerados tópicos relevantes na atividade profissional de professores, muitas vezes associados exclusivamente às funções exercidas em sala de aula.
Pesquisa
Para fortalecer a compreensão dos presentes, a professora Lúcia apresentou uma associação entre a experiência e a formação de adultos, fundamentada por modelos teóricos em que o conceito teve um papel importante, especialmente nas pesquisas dos educadores John Dewey, Malcolm Knowles e David Kolb.
A palestrante ainda compartilhou uma pesquisa realizada com professores de escolas públicas do Estado de São Paulo que atuam em duas cidades do interior, uma de pequena e outra de médio porte. A partir de suas atuações, os docentes associaram o tema a diferentes palavras/práticas, como conhecimento, atividade e vivência.
Após as pesquisas, a professora concluiu que existem três níveis para a compreensão de uma experiência: a vivência, a elaboração e a comunicação. Enquanto a primeira etapa é sensorial, a segunda é a reflexão sobre o que se passou; já o terceiro passo ocorre no compartilhamento da experiência vivida e compreendida, quando é construído sentido para o outro. Na Educação, as atuais discussões sobre os processos de formação e de profissionalização docente evidenciam a necessidade da compreensão dessa realidade.