Desconhecimento e despreparo geram exclusão da população surdocega no Brasil, aponta mestre em Educação da Metodista
08/10/2018 10h50 - última modificação 08/10/2018 14h33
O Brasil tem cerca de 40 mil surdocegos, segundo a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis). No entanto, ainda falta conhecimento para que essas pessoas sejam, de fato, incluídas em todos os espaços da sociedade. Elaine Gomes Vilela, de 35 anos, dedicou os últimos dois anos a pesquisar os desafios de educar essas pessoas, tema pouco explorado até então no País.
No mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo, orientada pela professora Adriana Barroso de Azevedo, Elaine desenvolveu a dissertação “Surdocegos e os desafios nos processos socioeducativos: os mediadores e a tecnologia assistiva”.
O trabalho teve como objetivo investigar a trajetória formativa dos surdocegos considerando singularidades e necessidades individuais, o papel da escola na formação dos participantes, recursos de tecnologia assistiva utilizados como facilitadores no processo de ensino-aprendizagem e, sobretudo, refletir sobre as narrativas e percepções dos surdocegos sobre suas próprias experiências.
Elaine conta que o trabalho voluntário que realizou com uma surdocega a motivou a iniciar a pesquisa. “Não sabia como lidar com essa especificidade, por isso busquei formação na área. A partir de então, no contato com surdocegos e conhecimento das formas de comunicação, desenvolvi um encantamento pelo tema. Por meio da dissertação passei a buscar surdocegos que agregassem à minha pesquisa de mestrado. Assim encontrei os sujeitos alvo da pesquisa, que eu pude auxiliar na abertura de horizontes e ampliação da comunicação”, relata.
Despreparo gera exclusão
Elaine Vilela utilizou pesquisa autobiográfica em modalidade narrativa, seguindo os autores Clandinin e Connely: “A experiência dos participantes é o coração, o fundamento, a cerne, da pesquisa. Eles são os protagonistas desta história”. Além disso, foi até uma escola com crianças surdocegas para observar o dia a dia e produzir recursos de tecnologia assistiva para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, levando o tema para dentro de sua vida.
Ao fim da investigação, a mestre concluiu que a sociedade está despreparada e desconhece as singularidades da surdocegueira. “Julgam que a surdocegueira é uma deficiência múltipla pelo fato de ser a junção da perda auditiva e visual. Mas a surdocegueira é condição única. O desconhecimento gera exclusão em vários âmbitos”, explica.
Ela ressalta que é fundamental que o profissional/educador esteja atento às necessidades dos surdocegos e que, ao mesmo tempo, seja ousado para propor desafios para eles superarem. Além disso, a participação da família no processo de superar barreiras e do uso de instrumentos de tradução e práticas de guia-interpretação.
“Contemplei a importância da tecnologia assistiva abarcada pelos recursos e serviços. Os recursos são relacionados aos materiais pedagógicos adaptados, que são imprescindíveis na educação de surdocegos e no ensino-aprendizagem. Os serviços são relacionados aos profissionais que atendem a esses indivíduos, sendo eles especialistas, professores e guias-intérpretes”, ressalta.
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