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Síria - Ebla

Célio Silva

Localização do sítio

Tell Mardikh, situado a ca. 70 km ao sul de Alepo, na Síria, é a localidade da antiga cidade de Ebla. Tell Mardikh foi escavada pela primeira vez por uma expedição italiana chefiada por Paolo Matthiae em 1964. Ela revelou-se promissora no sentido de que trouxe à luz um centro urbano da Idade do Bronze e muios desafios para o conhecimento histórico da Síria no período.

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Mapa: Localização de Ebla[1]

As pesquisas arqueológicas

8Fortificações*

As pesquisas arqueológicas têm mostrado que Ebla possuía a estrutura de uma cidade monumental, com “maciças fortificações” circundadas por “grandes baluartes de terra”,[2] cuja área era de “quase seiscentos mil metros quadrados”, correspondendo ao período do Bronze Médio IIA (ca. 2000 a.C.).[3] Os muros da cidade pertencentes ao nível Mardikh IIIB (cerca de 1800 – 1600 a.C.) tinham cerca de trinta metros de espessura e uns vinte metros de comprimento, com quatro portões.[4] Os portões da fase do Bronze Médio IIA (ca.2000 a.C.) caracterizavam-se por ser

“uma grande casa de guarda, retangular e simétrica, composta de duas torres maciças flanqueando uma passagem alongada; a passagem era dividida por três pares de pilastras em duas câmaras de guarda. As torres usualmente tinham salas de guarda e escadarias internas que levavam ao segundo piso, que servia de cobertura à passagem central.”[5]

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Mapa da porta sudoeste de Ebla.[6]

Palácios

O Palácio G constitui-se no símbolo de Ebla em seu período dourado (2400-2250 a.C.). Ele encontra-se no lado oeste da Acrópolis. Era um complexo arquitetônico invejável, com ala administrativa, a sala do trono e a “biblioteca”.[7] Da mesma época datam: um grande palácio no lado oeste (área Q), do nível Mardikh IIIA e o Palácio Real E do nível Mardikh IIIB. Este último situava-se na parte nordeste da acrópolis, possuindo um grande pátio central, salas administrativas em volta e um corredor pavimentado.[8]

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Planta da ala administrtiva do Palácio G.[9]

Templos

Ebla apresenta modelos distintos de templos. Encontra-se ali o tipo que será característico dos santuários da Palestina e que se relacionará com o de Salomão, possuindo um recinto sagrado e o “Santo dos Santos” (às vezes esta parte limita-se a um nicho).[10] Segundo Alan Millard,

“o grande templo prefigura, na sua planta, o templo de Salomão, com pórtico, salão interno e recinto sagrado. As proporções, porém, são diferentes.”[11]

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Planta do templo de Ishtar[12]

Pode-se perceber na planta do templo de Ishtar, do nível Mardikh IIIB (cerca de 1800 – 1600 a.C.), acima, que uma grande sala (possivelmente o “lugar santo”) possui um compartimento menor, que talvez equivaleria a uma espécie de “santo dos santos”. Seus muros são de pedra maciça.[13]

Arquivo

Foi descoberto um arquivo contendo mais de quinze mil tabuinhas de barro, num idioma semítico ocidental (denominado eblaíta). A natureza dos textos é diversificada: documentos administrativos, políticos, comerciais, religiosos, dicionários em outras línguas.[14] O epigrafista chefe da expedição, professor Giovanni Pettinato, alegou haver descoberto os nomes de cidades como Sodoma e Gomorra. Nomes como Mi-ka-ilu (“quem é como el?”), mi-ka-ya (“quem é como ya?”), e-as-um (“Esaú”), da-‘u-dum (“Davi”), sha-‘u’-lum (“Saul”), Ish-ma-il (“Ismael”) mostram afinidade lingüística com os textos bíblicos.[15] O professor Giovanni Pettinato levantou uma “tempestade” entre os eruditos, ao concluir que o próprio Yahweh fosse cultuado em Ebla porque a terminação de muitos nomes que apareciam nas inscrições era el e ya.[16] Vale dizer que atualmente tem se duvidado de tal afirmação, pois o culto de Yahweh ou as cidades da planície (Sodoma e Gomorra) não seriam citados nos documentos como ele procurou provar.[17]

De qualquer maneira, as escavaçõpes em Ebla têm proporcionado materiais suficientes que a ligam à língua e cultura do Médio Oriente – e, em nosso caso, à hebraica.

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Os arquivos de Ebla[18]

Cerâmica e obras de arte

Também foram encontrados diversos utensílios de cerâmica e enfeites pessoais, tais como colares, brincos e braceletes de ouro.[19] A ilustração a baixo, retratando um touro em madeira revestido de ouro, é uma prova contundente da habilidade artística daquela civilização.

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História da cidade

A cidade de Ebla foi o centro de uma grande civilização que se desenvolveu na Síria, desde o terceiro milênio a.C. até ser destruída pelos hititas cerca de 1600 a.C.[20] após ter sido conquistada por Sargão de Acad e, posteriormente, por Naram-Sin na segunda metade do terceiro milênio a.C.

Foi grande centro urbano, devendo sua herança cultural principalmente aos sumérios, dos quais assimilou o tipo cuneiforme de escrita, mesmo adaptando-o ao idioma que ali se falava: o eblaíta. Também era o centro de uma intensa rede comercial, negociando lã, prata e produtos agrícolas.

Bibliografia

GARSCHAGEN, Donaldson M. (ed.). Nova enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro; São Paulo: Encyclopedia Britannica do Brasil Publicações Ltda, 1997.

Grande Enciclopédia Larrouse Cultural. São Paulo: Nova Cultural, 1998. v.9.

MAZAR, Amihai. Arqueologia na terra bíblica: 10.000 – 586 a.C. Trad. Ricardo Gouveia. São Paulo: Paulinas, 2003. (Coleção Bíblia e Arqueologia).

MILLARD, Alan. Descobertas dos tempos bíblicos: tesouros arqueológicos irradiam luz sobre a Bíblia. Trad. Eduardo Pereira e Ferreira. São Paulo: Vida, 1999.

PRITCHARD, James B. (ed.) The Times atlas of the Bible. Londres: Times Books Limited.

SIMONIS, Damien; FINLAY, Hugh. Jordan and Syria: a Lonely Planet Travel Survival kit. 3ª ed. Hawthorn; Berkeley; Londres: Lonely Planet Publications, 1997.

WILLIAMS, Darek. New concise Bible distionary. Leicester: Inter-varsity Press; Oxford: Lion Publishing; Wheaton: Tyndale House, s/d.

Endereços eletrônicos

http://www.digilander.libero.it/ramses007/SiriaLibano/Siria/Archeo/Ebla.em.htm. Acesso em 24.10.2004.

ICR – Institute for Creation Research: a Christ – Focused Creation Ministry. Disponível em:http://www.icr.org/pubs/imp/imp-o46.htm. Acesso em 24.10.2004.

Wikimedia Foundation Inc., Florida – Department of State. Disponível em: http://en.wikipedia.org . Acesso em 24.10.2004.

http://www.ancientneareast.tripod.com/Ebla_Mardikh.htmlAcesso em 24.10.2004.

Célio Silva


Notas

[1] www.digilander.libero.it/ramses007/SiriaLibano/Siria/Archeo/Ebla.em.htm. Acesso em 24.10.2004.

[2] MAZAR, Amihai. Arqueologia na terra da Bíblia: 10000-586 a.C., p.187.

[3] Ibidem, p.204.

[4] STANLEY, Phillip. Ebla. In:http://www.ancientneareast.tripod.com/Ebla_Mardikh.html. Acesso em 24.10.2004.

[5] Ibidem, p.209.

[6] MUHAMMAD, Fajr Haj. Ebla – Tell Mardikh: un’introduzione alla storia e ai resti archeologici del regno dell’ antica Ebla. In:http://www.ancientneareast.tripod.com/Ebla_Mardikh.html. Acesso em 24.10.2004.

[7] Idem. Acesso em 24.10.2004.

[8] STANLEY, Phillip. Ebla. Op. Cit. In:http://www.ancientneareast.tripod.com/Ebla_Mardikh.html. Acesso em 24.10.2004.

[9] Ibidem. Acesso em 24.10.2004.

[10] Ibidem, p.217-8.

[11] MILLARD, Alan. Descobertas dos tempos bíblicos: tesouros arqueológicos irradiam luz sobre a Bíblia, p.49.

[12] MUHAMMAD, Fajr Haj. Op. Cit. Acesso em 24.10.2004.

[13] STANLEY, Phillip. Op. Cit.. In:http://www.ancientneareast.tripod.com/Ebla_Mardikh.html. Acesso em 24.10.2004.

[14] Ibidem, p.49.

[15] WILSON, Clifford. “Ebla: its impact on Bible Records”. In: ICR – Institute for Creation Research: a Christ – Focused Creation Ministry. Disponível em: < www.icr.org/pubs/imp/imp-o46.htm >. Acesso em 24.10.2004.

[16] MILLARD, Alan. Op. Cit., p.48.

[17] É importante observarmos, porém, que as conclusões a que se tentou chegar não estão isentas de interesses políticos. Cf. “Ebla scholarship à la Syrienne”, in Biblical Archaeology Review. V. VIII, n. 1, p.54, January / February, 1982.

[18] MUHAMMAD, Fajr Haj. Op. Cit. Acesso em 24.10.2004.

[19] MILLARD, Alan. Op. Cit., p.49.

[20] SIMONIS, Damien; FINLAY, Hugh. Jordan and Syria: a Lonely Planet Travel Survival Kit, p.330.

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