Ferramentas Pessoais

Você está aqui: Página Inicial / Arqueologia / Artigos / 2012 / Israel - Jerusalém e o túnel de Ezequias

Israel - Jerusalém e o túnel de Ezequias

Genildo Provin

1 - Introdução

Apresentaremos neste trabalho alguns dados históricos e arqueológicos da Cidade de Davi no tempo de Ezequias e do Túnel que ele mandou construir para trazer água da Fonte de Gion para dentro dos muros da cidade. Sintetizaremos alguns pontos geográficos a partir de um mapa de Jerusalém do Antigo Testamento que apresenta dois sistemas de abastecimento de água.

Procuraremos simplificar as explicações cientificas de modo que os leitores que não conhecem Jerusalém e nem o Túnel de Ezequias possam ter uma idéia.

2.JERUSALEM

2.1 Geografia

Jerusalém antiga tinha suas bases fora da muralha turca, ou seja Ela situava no Vale Sul. Devemos considerar que o território da atual Jerusalém foi expandido e que esta em disputa política e militar. Esta nova cidade de Jerusalém situa-se mais ao ocidente da antiga cidade ela é a capital de Israel. Está entre as grandes cidades do país. Sua altitude é de 1.100m do Mar Morto e 734m do Mar Mediterrâneo.Localizada sobre as elevações que atravessam de norte a sul o país. Seu clima é sob-tropical, quente e seco. Chove entre os meses de outubro a março e faz seca de abril a setembro. As temperaturas oscilam entre 10ºC no inverno e 30º no verão . O maior rio é o Jordão que é pequeno e outros pequenos córregos que só existem quando chove

2.3 História

A história de Jerusalém começou na Idade do calcolítico (4.500-3300 a.C). Na Idade do Bronze Médio (3300–2200 a.C), pelos vestígios encontrados nas tumbas, provavelmente era uma aldeia ou agrupamento de camponeses. No inicio ela foi chamada de Jebus ou Urushalemu, que pode ser traduzida “cidade da paz”. Desde que os israelitas entraram na Terra Prometida, lutaram para conquistar Jerusalém. A Bíblia diz: “Quanto aos Jebusitas que habitam em Jerusalém, os filhos de Judá não puderam desapossá-los. Por isso os Jebusitas moram com os filhos de Judá em Jerusalém...”(Jos 15,63). A cidade dos Jebuseus encontrava-se no território da tribo de Benjamim( Jos 15,8 e 18,16; Ez 16,3).

A primeira menção epigráfica de Jerusalém encontra-se nos textos egípcios datados (séc.XX-XIX), onde aparece com o nome de Ausamm (Iushamem), na qualidade inimiga dos faraós. Nas cartas de Amarna (séc. XIV), falam do domínio egípcio sobre os cananeus. e inscrições de Senaqueribe (séc. VII) A primeira referência bíblica sobre Jerusalém encontra-se em (Gn14,18-20). Onde Melquiside que rei de “Salem” isto é rei de Jerusalém, que pode ser traduzida por “cidade da paz”, trouxe pão e vinho e abençoou-os juntamente com Abrão, e (Sl 76,2)

Por volta do ano 1000.a.C., Davi tomou a cidade dos Jebuseus (2Sm 5,6-9), embora (1Cr 11,4-7) diz que Joabe foi o primeiro a entrar na cidade dos Jebuseus. Davi transferiu a sede do governo de Hebrom para Jerusalém a capital do seu reino com o nome de Cidade de Davi. Ele trouxe para Jerusalém a Arca da Aliança e construiu um altar no monte Moriáh, onde mais tarde seu filho Salomão, foi construiu o Templo. Hoje este lugar poderia ser localizado próximo da Igreja do Santo Sepulcro ao norte da cidade. Daí por diante Jerusalém passou a ser um referencial, um centro de grandes peregrinações, que se prolonga até os dias atuais .

Com a morte de Salomão em 930 a.C., o grande reino foi dividido. Jeroboão fundou o reino do Norte, chamado de Israel com 10 das doze tribos e Roboão com duas tribos formou o pequeno Estado do sul, Judá, cuja a capital continuava sendo Jerusalém. Com a divisão do reino, aumentaram os problemas internos e externos. No séc. VIII a.C., a Assíria aparece como a potência na esfera internacional. Entre (735-732 a.C.), Razim de Damasco e Peca de Samaria, tentaram envolver Acaz numa coalizão antiassíria, ele se opôs a essa proposta, em reposta Israel declarou guerra a Judá; chamada guerra “siro-efraimita”.Sentindo-se ameaçado, Acaz pede socorro Teglat-falasar III rei da Assíria. A partir de então, marca-se o período de submissão e dependência de Judá. Peca e Razim já estavam no 1º estágio de vassalagem e submissão. A coalizão era para livrar-se da opressão assíria e acabaram agravando mais a situação, passaram para o segundo estágio. Em (722 a.C.) Samaria é sitiada e destruída pelos assírios (2Rs17,5). Houve grandes deportações. O reino do norte, passou a ser uma província assíria da Semerina. Com isso Israel deixou de existir.

O reino do sul, Judá se submeteu a Assíria para ter apoio contra Israel, pagando altos tributos. Com a morte de Teglat-falasar do rei da Assíria (720- 710 a.C.), houve um período de trégua. Neste período encontramos Ezequias, rei de Judá. Ele buscou fazer alianças com o Egito e outros povos vizinhos para se livrar da Assírios. Com a queda de Samaria em (722 a.C..), Jerusalém expandiu-se consideravelmente, a maioria do povo refugiou-se na cidade por causa da ameaça de invasão. Para se proteger Ezequias mandou “reparar as brechas da muralha e sobre ela construiu torres e ergueu uma segunda muralha na parte externa, mandou fazer armas e escudos em abundância para enfrentar a Assíria” (2Cr 32,5). Até casas Ezequias derrubou para construir esse muro (Is 22,9-11).

Quando o novo rei da Assíria, Senaqueribe organizou-se em (701 a.C.) começa avançar com seus exércitos contra Judá. De inicio toma 46 cidades fortificadas de Ezequias e depois cercou Jerusalém. Ezequias vendo-se derrotado não restou outra saída a não ser se submeter novamente ao rei da Assíria pagando-lhes altos tributos .

2.4. Arqueologia

O arqueólogo inglês Ch. Waren, em 1867, foi quem explorou os fundamentos da antiga cidade de Jerusalém. Suas pesquisas estabeleceram que os primeiros habitantes de Jerusalém se estabeleceram durante o Calcolítico (no inicio do III milênio a.C.), na colina de Ofel, local onde posteriormente foi chamada de Sião. A antiga cidade cobria uma área de 4,5 hectares. Descobriu um sistema de abastecimento de água, que começa da parte de dentro dos muros da cidade e vai até a fonte de Gião.

Em meado do séc.XIV a.C. a população de Jerusalém começa aparecer nos textos orientais qualificada de Jebuséia. As principais informações deste período encontram-se nos arquivos do monarca egípcio Amenófis IV (1370-1353 a..C.). Nas escavações na cidade de Davi foi encontrado um sistema de fortificações feito de muralha de pedra que chegam atingir 7 metros de espessura. Segundo o arqueólogo N. Avigad elas foram construídas no tempo de Ezequias para agüentar os aríetes assírios. A muralha seguia na direção sul e fazia uma curva aguda por causa de uma ravina e continuava para o oeste até bem ao sul do Portão de Jope. Provavelmente a muralha atravessava o Vale Central, neste ponto por de trás ficava o “reservatório entre dois muros para as águas da piscina antiga”(Is 22,9). Os dois muros podem ser um do tempo de Davi e outro de Ezequias. No processo da construção da muralha, no tempo de Ezequias, casas foram demolidas (Is 22,10). Outro sistema de fortificações, descoberto ao norte da maciça muralha, no bairro dos judeus. Consiste em uma grande torre de 8 metros de altura e 4 metros de espessura, construída de grandes pedras. Provavelmente esta muralha foi construída no período de Ezequias antes da destruição da cidade em 586 a.C. pelos babilônios.. Perto da torre foram descobertas camadas de cinza e pontas de flechas de tipo babilônico) .

2.5 Habitações

Calcula-se que a cidade de Davi abriga uns 2000 habitantes. No tempo de Ezequias, havia casas feitas com pilares de pedra. Suas dimensões variavam de 25 a 110 metros quadrados, dependia do nível social do indivíduo. A sua altura interna não ultrapassava de 1,5 a 2 metros. As naves na maioria dos casos eram pavimentadas com pedras, a passagem central era de terra batida que levava diretamente ao pátio central Algumas casas tinham um segundo piso ( Cf.2Rs 4,10). Nesse caso usava-se o térreo para deposito de alimentos e abrigo dos animais. O mais comum era casa de quatro cômodos. Este tipo de casas pertenciam aos donos das terras e tinham a capacidade de abrigar entre 5 a 8 pessoas.

3.TÚNEL DE EZEQUIAS

A cidade de Jerusalém dispõe de uma única fonte de água chamada de Fonte de Gion, que significa “geradora “. Ela está localizada no Vale de Cedron, ao leste da colina ao leste da cidade. Seu volume de água não é muito grande mas é confiável. Pode abastecer uma população de 2500 pessoas diariamente. Através das escavações foram encontrados projetos hidrográficos em vários pontos do país. No caso de Jerusalém encontramos três projetos todos relacionados com a Fonte de Gion, que serão descritos separadamente:

a) O primeiro é do tempo dos Jebuseus feito bem antes da conquista de Davi; que foi mencionado acima. Em 1876, C.Waren descobriu a passagem de água que recebeu o nome de Y.Shilon. Começa com um poço que tem uns dois metros de diâmetro, com uma escadaria em forma de circulo, desce em declínio a uma profundidade de uns 12,3 metros. Depois segue uma galeria de uns 50 metros até chegar junto a “Fonte de Gion”.. Do qual se podia tirar água com ajuda de polia, cordas e recipientes de couro. A fonte ficava fora da muralha, coberta por terra Com isso o abastecimento de água era assegurado em tempo de conflito. A crença popular diz que Joabe escalou essa passagem para tomar a cidade dos Jebuseus.(2Sm 5,6-8; 1Cr 11,4-7). Os Jebuseus seriam os construtores deste sistema de aqueduto.

b) O segundo é um aqueduto-canal; uma vala que levava água por cerca de uns 400 metros paralela ao Vale do Cedron, ora aberta, ora sob a terra provavelmente do tempo de Acaz, que conduzia água da Fonte de Gion para uma antiga piscina próxima da Porta da Fonte(Is 8,6). Este sistema tinha aberturas que permitiam irrigações do jardins do rei ao longo do Cedron. Ele é identificado como sendo o Canal de Siloé, porque terminava junto a fonte de Siloé. Ele não é confiável em tempos de guerra.

c)O terceiro é o famoso túnel de Ezequias. Vendo o desenrolar dos acontecimento, Ezequias logo concluiu que ele seria a próxima vitima dos assírios. Tratou logo dos preparativos para a guerra. A Bíblia diz: “Ezequias fortificou a cidade e conduziu água para dentro dela. Cavou com ferro um túnel na rocha e construiu reservatórios”(Eclo 48,17). “Foi Ezequias que tapou a fonte superior das águas de Gion e as desviou por um subterrâneo para a parte ocidental da cidade de Davi”(2Cr 32,30). “O resto da história de Ezequias e do que ele fez e como construiu o reservatório e o aqueduto para levar água à cidade,tudo esta escrito nos anais dos Reis de Judá”(2Rs 20,20).

O túnel tem um comprimento de 513 metros, 0,5% de inclinação. Foi escavado simultaneamente pelos dois lados, seguindo uma linha em forma de S, orientados pelas camadas mais mole da rocha. O momento em que os grupos se encontraram foi emocionante e o perpetuaram na inscrição de Siloé, entalhada na parede do túnel, diz o seguinte:

“[...] e estes foram os dados do túnel quando ainda [os escavadores

brandiam] as picaretas, cada homem ao encontro do seu companheiro, quando ainda faltava três cúbitos para escavar, foi ouvido a voz de um homem chamando seu companheiro, pois havia uma fissura na rocha à direita. No dia em que o túnel foi varado, os escavadores golpearam a [rocha] cada homem de encontro de seu companheiro, picareta contra picareta. E a água fluiu da fonte para a piscina por mil e duzentos cúbitos. E cem cúbitos era a altura da rocha acima das cabeças dos escavadores” A Bíblia cita o túnel como sendo uma das maiores obras de Ezequias. Ele foi descoberto por E.Robson em 1838 e posteriormente explorado por Waren e Père H.Vincent. Ele passa debaixo da crista da Cidade de Davi em curvas e o mais impressionante é que o túnel não tem poços verticais tornando difícil o trabalho por falta de luz, ar e a remoção do entulho escavado.

O fator que determino o sucesso dos escavadores foi expressado na inscrição “zdh”. Supõe-se que ela denota uma fissura na rocha que orientava os escavadores.

Conclusão

A nossa intenção tem sido ilustrar com alguns dados os aspectos a Cidade de Jerusalém no tempo de Ezequias e o sistema de abastecimento de água que foi construído para abastecer a cidade época em que Assíria invadiu Judá.

Mapa da Bíblia de Jerusalém .

Bibliografia

MAZAR, Amihai, Arqueologia na Terra da Bíblia, Paulinas, SP 2003.ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL, Encyclopaedia Britannica do Brasil, SP,1979

KELLER, Werner, E a Bíblia Tinha Razão, Melhoramento, SP 1964

HERBER, Donner História de Israel e dos povos vizinhos, Vol 2, Vozes, 2000.

GORGULHO,Gilberto. Zacarias, A vinda do Messias pobre, Ed. Vozes,1985

KING, Jeremiah, Na Archeoeological Companion Louisville,1993.p.94

LASOR, W., HUBBARD, D. A., BUSH,F., Introdução AT Vida Nova 1999, pp.530-543.

BIBLIA de Jerusalém, 3ª Edição, Paulus, São Paulo, 2004.

Comunicar erros

X