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Israel - Cades Barnéia

Célio Silva

Localização

Cades Barnéia localiza-se ao sul da terra de Israel, ao nordeste da península do Sinai. Antes associada com ‘ain Qedeis[1] é identificada atualmente com ‘ein el-qudeirat.[2] Está próxima à “estrada de Gaza”, entre esta cidade e o Mar Vermelho.[3] Ocupava um lugar muito importante, já que era um oásis no deserto, conectada a muitos outros pontos que formavam uma teia, um complexo que se relacionava ao sul com o Golfo de Ácaba, produtor de cobre e centro comercial. A ligação com o sul da Arábia também seria muito importante em alguns momentos da história,[4] devido ao fluxo comercial que se instalaria na região do Negueb, no período que vai do 8º século a.C. em diante.[5]

O testemunho bíblico

Cades Barnéia é importante para o estudo bíblico porque está muito associada à história dos primórdios de Israel. Já nas narrativas patriarcais o lugar é mencionado como o ponto extremo a que chegou a invasão de Queorlaomer e seus aliados, no texto, porém, com um suposto nome mais antigo: em mixpat (Gênesis 14,7).

A Bíblia nos informa que os israelitas acamparam em Cades Barnéia, onde Miriam faleceu (Números 20,1). De lá, Moisés enviou os mensageiros ao rei de Edom pedindo passagem por suas terras, mas sem resultado (Números 20,14-21).

Escavações

O sítio de ‘ein el-qudeirat foi escavado por Rudolf Cohen, do Department of Antiquities de Israel, entre 1972-1982.[6]

Amihai Mazar é contundente ao afirmar que não há nenhum indício arqueológico oriundo de uma ocupação de Cades Barnéia na Idade do Bronze Tardio ou no período do Ferro I, o que corresponde do 16º ao 13º e 13º ao 11º séculos a.C. A afirmação de Amihai Mazar é confirmada por Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, os quais afirmam que a ocupação do local teria se dado “principalmente no sétimo e no início do sexto século a.C.”[7] . Assim, parece haver discrepância em relação à narrativa bíblica apresentada acima, não obstante o local haver sido densamente povoado durante o terceiro milênio a.C. Isto significa que os dados não batem com as informações bíblicas de que Israel esteve acampado em Cades Barnéia após o êxodo como está registrado em Números 21,1.

Dividindo a ocupação do lugar em três grandes períodos, Moshe Dothan afirma que as únicas evidências que se tem do primeiro momento são restos de cerâmica: potes usados para cozinhar, utensílios com alças sob a borda ou do lado etc. Conforme suas investigações “nenhum resto de construção foi encontrado”[8] relativo ao período. Os vestígios de cerâmica datam do 10º século a.C.

As ruínas de uma fortaleza foram estudadas. Segundo Moshe Dothan, a cerâmica relativa ao forte data do período compreendido entre o 8º e o 7º séculos a.C. A construção, porém, pode datar do reinado de Jeosafá (9º século a.C.).[9]

Dale W. Manor descreve a história do forte em três fases sucessivas. A primeira, cujos restos encontram-se a cinco metros dos escombros, era uma fortaleza de vinte e sete metros de diâmetro, com muros em casamata. Localizava-se no lado leste do sítio. Havia também um edifício fora do forte oval a oeste. Considerando-se a cerâmica encontrada, esse autor data a construção no tempo de Salomão, havendo sido destruído posteriormente, talvez por Sisaque (1Reis 14,25-28).[10]

O segundo forte teria sido construído após uns duzentos anos (7º século a.C.). Seu plano “não seguiu nem reutilizou as ruínas anteriores”[11] . Era retangular (60 x 40 m), com muros de 4 m de expessura e oito torres. Ele era cortado por uma avenida de cerca de 3,5 m de largura. Ao noroeste, foram encontrados vestígios de instalações feitas com tijolos, restos de fogueira e ossos de animais. Também havia uma cisterna ao sul, com uma passagem de vinte e dois degraus. Ela era alimentada por uma fonte localizada ao sul, do lado de fora da muralha, e que tinha a capacidade para 180 m de água. A leste da cisterna, havia uma sala retangular de 15,5 x 3,8 m que, na opinião de Dale W. Manor, pode ter sido um silo, perto do qual, localizava-se outro menor (cerca de 2 m). Do lado externo da fortaleza, foram encontrados vários locais para estocar cereais, ossos de camelos e uma sala na qual havia um forno, em cujo interior estava um pote feito à mão utilizado para cozinhar.[12] Dale W. Manor acredita que o forte possa ter sido construído durante o reinado de Uzias, que tentou fortificar o sul de Judá (2Crônicas 26,10), havendo sido destruído durante o reinado de Manassés no 7º século a.C.

A terceira fortaleza teria seguido essencialmente o mesmo plano da anterior, com a diferença de que os muros externos eram em casamata e não sólidos. Embora houvesse sofrido mudanças internas, a cisterna continuou sendo usada. No lado noroeste, foram descobertas três salas dando para um pavimento de pedra no qual havia “uma grande estrutura circular (cerca de 1,9 m) construída de tijolos e preservada a uma altura de cerca de 1,2 m”[13], repleta de uma camada de cinzas. Ao lado, foram encontrados um incensário, vasos de cerâmica e ossos de animais.[14] Dale W. Manor escreve que “tem sido sugerido que se constituía num santuário”[15]. Quanto à data do “terceiro forte”, Cohen sugeriu o tempo de Josias e sua destruição durante a campanha de Nabucodonosor.

Para o período persa, encontrou-se um edifício que serviria como centro administrativo. Os muros do forte não foram reconstruídos nesse período. O forte de Cades Barnéia deixou de ser habitado.

Bibliografia

AVI-YONAH, MICHAEL E STERN, EPHRAIM (EDITORES), ENCYCLOPEDIA OF ARCHAEOLOGICAL EXCAVATIONS IN THE HOLY LAND, JERUSALÉM, ISRAEL EXPLORATION SOCIETY/MASSADA PRESS, VOL.III, 1977, P.697-698

COHEN, Rudolf, Kadesh-Barnea – A fortress from the time of the Judean Kingdom, Jerusalém, The Israel Museum, 1983, 60p.

FINKELSTEIN, Israel e SILBERMAN, Neil Asher, The Bible Unearthed – Archaeology’s new vision of the Ancient Israel and the origin of its Sacred Texts, Nova Iorque, Touchstone, 2002, 388p.

FREEDMAN, David Noel, The Anchor Bible Dictionary, Nova Iorque, Doubleday, 1992, vol.4

MAZAR, Amihai, Archaeology of the land of the Bible: 10,000 – 586 B.C.E. Nova Iorque, Londres, Toronto, Sydney, Auckland: Doubleday, 1992, 576p. (Anchor Bible Reference Library); português: Arqueologia na terra da Bíblia 10000-586 a.C., São Paulo, Edições Paulinas, 2003, 554p.

Célio Silva rua Marianos 113 Campo Grande São Paulo/SP 04691-110 Brasil (55-11) 5631.1572res., 5631.7896com.


Notas

[1] Esta é a opinião de W. Ewing, Kadesh, em James Hastings; John A. Selbie (editores), Dictionary of the Bible, Londres, T.&T. Clark, 1910, 992p.

[2] Ver M. Dothan, Kadesh-Barnea, em Michael Avi-Yonah; Ephraim Stern (editores), Encyclopedia of Archaeological excavations in the Holy Land, Jerusalém, The Israel Exploration Society; Massada Press, 1977, vol. III, p.697. Também Dale W. Manor, Kadesh-Barnea, em David Noel Freedman (editor), The anchor Bible dictionary, Nova Iorque, Doubleday, 1992, vol. 4, p.1-3.

[3] Amihai Mazar, Archaeology of the land of the Bible – 10,000 – 586 B.C.E., Nova Iorque, Doubleday, 1992, p.08.

[4] Ver Amihai Mazar, Archaeology of the land of the Bible – 10,000 – 586 B.C.E., Nova Iorque, Doubleday, 1992, p.08.

[5] Israel Finkelstein; Neil Asher Silberman, The Bible Unearthed – Archaeology’s new vision of the Ancient Israel and the origin of its Sacred Texts, Nova Iorque, Touchstone, 2002, p.267-270.

[6] Amihai Mazar, Archaeology of the land of the Bible – 10,000 – 586 B.C.E., Nova Iorque, Doubleday, 1992, p.09.

[7] Israel Finkelstein; Neil Asher Silberman, The Bible Unearthed, p.42. Ver também a p.67.

[8] M. Dothan, Kadesh-Barnea, p.697.

[9] M. Dothan, Kadesh-Barnea, p.698.

[10] Dale W. Manor, Kadesh-Barnea, p.2.

[11] Dale W. Manor, Kadesh-Barnea, p.2.

[12] Dale W. Manor, Kadesh-Barnea, p.2.

[13] Dale W. Manor, Kadesh-Barnea, p.2.

[14] Dale W. Manor, Kadesh-Barnea, p.2.

[15] Dale W. Manor, Kadesh-Barnea, p.2.

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