Projeto SOL África: esperança de um novo tempo para a Igreja Metodista em Angola e Moçambique
03/11/2009 14h50
E me pôs nos lábios um novo cântico
um hino de louvor a nosso Deus....
“Só tenho motivos para agradecer a Deus pelo Projeto SOL África”, diz o Rev. Salvador Bacar Catine, Diretor de Educação Cristã e Evangelização da Igreja Metodista Unida em Moçambique. Ele nem precisava expressar seu contentamento com palavras. Seu largo sorriso já diria tudo. O Reverendo Salvador esteve no Brasil entre os dias 19 e 23 de outubro para participar de uma reunião de avaliação do SOL África – Solidariedade com a África – projeto de apoio à educação teológica de Angola e Moçambique, desenvolvido pela Faculdade de Teologia da Igreja Metodista no Brasil/Universidade Metodista de São Paulo (FaTeo) em parceria com a Igreja Metodista nestes dois países e com a Junta Geral de Educação Superior e Ministérios da Igreja Metodista Unida nos Estados Unidos.
Em sua primeira visita ao Brasil, o pastor afirma que se sentiu em casa ainda no aeroporto e atribui à proximidade afetiva e cultural entre Brasil e África um dos grandes fatores de sucesso do projeto. O Rev. Salvador conta que nenhum dos países vizinhos que circundam Moçambique fala português, o que dificulta o intercâmbio de experiências e material de ensino. “Sentimo-nos isolados e nosso desenvolvimento em termos de literatura é muito reduzido”. Ele explica que há poucos livros de produção local, em português, e muitas necessidades às quais a Igreja Metodista em Moçambique busca atender. Aids, gravidez precoce, desemprego e falta de motivação dos jovens para prosseguir nos estudos são alguns dos problemas que pedem a ação missionária da Igreja Metodista. E missão requer capacitação.
Pelo Projeto SOL África, atuais e futuros professores/as em seminários teológicos metodistas em Angola e Moçambique passam um período de três meses no Brasil, na FaTeo, realizando estudos tutorados e observação de salas de aula nas áreas de Bíblia, Teologia Sistemática e Estudos Wesleyanos. Retornam ao país de origem com a mala repleta de materiais de ensino, entre Bíblias, livros acadêmicos, revistas de estudo bíblico e CDs. O Rev. Salvador recebeu materiais didáticos para Escola Dominical e Escola Bíblica de Férias como quem encontra um tesouro de valor incalculável. E chegou a se emocionar quando ganhou de presente uma Bíblia de Estudos. É fácil entender: em Moçambique não há Bíblias suficientes sequer para os/as estudantes de seminários teológicos, que precisam compartilhar as poucas edições disponíveis.
Mas o que mais anima o Diretor de Educação Cristã é a capacitação de pessoal e a possibilidade de formação contínua, o que pode dar uma nova perspectiva para a educação teológica na África. Ele conta que, dos 140 pastores e pastoras que atuam em Moçambique, não chega a 30 o número daqueles/as que têm graduação e 15 os/as que cursaram mestrado, e não necessariamente em Teologia. “Moçambique não tem nenhuma Faculdade de Teologia, a maioria fez licenciatura em outras áreas”. Uma saída, diz ele, é estudar Teologia no Zimbábue ou na África do Sul, o que requer pelo menos um ano de adaptação prévia e aprendizagem do idioma, o inglês. No Brasil, tão logo o/a estudante chega à Faculdade, ele/a já inicia o estudo dos conteúdos, o que representa economia de tempo e recursos.
Desde 2008 já passaram pelo projeto 12 pastores e pastoras, dos quais oito já concluíram os estudos. Apesar da curta temporada no Brasil, apenas três meses, a mudança na qualidade do ensino pôde ser sentida de imediato. “Houve um impacto no modo como eles preparam as lições e transmitem as matérias. Muitos não tinham nenhuma experiência com o ensino antes de serem nomeados para atuar no seminário. Depois desse período de estudos na FaTeo, eles melhoraram muito a capacidade de ensinar”, atesta Salvador. Para ele, ainda mais animador é saber que os/as professores/as que passaram pelo programa SOL África são potenciais multiplicadores dos conhecimentos que adquiriram. “Nos encontros com outros pastores, eles já estão trocando experiências. Eles podem formar outros professores. E a vinda de docentes da FaTeo à Africa, já agendada para o próximo ano, nos dará ainda maior impulso.”
muitos verão essas coisas, temerão
e confiarão no SENHOR” (Salmo 40:1-3)
“O objetivo do trabalho conjunto de Brasil, África e Estados Unidos é fazer discípulos de Cristo para a atuação no mundo”, diz o Rev. Saul Espino, representante da Junta Geral de Educação Superior e Ministérios da Igreja Metodista Unida dos EUA, uma das parceiras do projeto. Ele veio ao Brasil para conhecer os resultados apresentados pelo projeto e ficou animado com o que viu e ouviu. “Estamos desenvolvendo líderes que se capacitem em seu contexto. Neste processo, a literatura que se envia do Brasil é muito efetiva. O curso na FaTeo provê os elementos básicos para treinar líderes que, depois, replicarão seus conhecimentos na África de língua portuguesa. É um esforço que se multiplica”.
O Rev. Saul explica que o programa tem custo relativamente baixo comparado às possibilidades de aproveitamento e multiplicação dos treinamentos recebidos, potencializadas pela proximidade cultural dos países. “Falando com os representantes de Angola e Moçambique chego à conclusão que o laço fraternal é muito intenso entre as pessoas de fala portuguesa. São países que têm histórias e também muitos sonhos comuns”. Para ele, esta relação com o Brasil, “país que cresce economicamente e em prestígio” é de vital importância. Além da hospitalidade (“chegar aqui é como encontrar família”) o Rev. Saul afirma que um outro aspecto da FaTeo que chama a atenção é seu alto nível educativo e teológico. “Este projeto é um presente de Deus ao mundo. A disposição da FaTeo de oferecer ajuda para caminhar com os irmãos e irmãs de Angola e Moçambique me enche de alegria”. Do lado americano, a disponibilidade é a mesma: “Minha recomendação pessoal é que o programa continue e que se possa expandir, que se multiplique o treinamento”.
Mas não são apenas os/as irmãos/as africanos que se beneficiam com o Projeto SOL África. “Nossa Junta também aprende neste processo”, destaca Saul Espino. Para toda a comunidade da FaTeo, a convivência com irmãos e irmãs vindos do outro lado do oceano também tem sido uma rica oportunidade de aprendizado, intercâmbio cultural e comunhão fraterna. E a próxima etapa do projeto já está agendada: em junho de 2010 um grupo de professores brasileiros ministrará um curso na África. “SOL - Solidariedade com a África é uma oportunidade da vivência do Evangelho entre culturas diferentes, mas com um alvo em comum:a vida. A oportunidade de aprendizado mútuo com pastores/as angolanos/as e moçambicanos/as aqui na Faculdade, bem como nos seus países de origem, tem ampliado os horizontes da missão, do pastoreio e da valorização da educação teológica que envolve contexto, vida e fé”, diz a professora e pastora Blanches de Paula, coordenadora do projeto na Faculdade de Teologia. Para o reitor, Rev. Rui de Souza Josgrilberg, num momento em que o mundo está cada vez mais integrado, é um privilégio para a Faculdade da Igreja Metodista esta possibilidade de estabelecer parcerias e encontrar novos interlocutores. “Esperamos que os países africanos de língua portuguesa desenvolvam autonomia na produção teológica”, diz ele.
Como o autor do Salmo 40, Angola e Moçambique ainda podem dizer que “são pobres e necessitados”. Mas, tal como o salmista, eles também têm a certeza de que, por intermédio da união de irmãos e irmãs metodistas de outros países, o Senhor está cuidando deles.

Na foto acima, o grupo que esteve reunido na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista para avaliação e planejamento do projeto SOL África. Da esquerda para a direita: professor Paulo Garcia, coordenador do curso de Teologia da FaTeo; Rev. Saul Espino, representante da Junta Geral de Educação Superior e Ministérios da Igreja Metodista Unida dos EUA; professora Magali Cunha, coordenadora do Programa de Relações Institucionais; Rev. Almeida Lemba, da Igreja Metodista em Angola; Rev. Salvador Bacar Catine, da Igreja Metodista em Moçambique; professora Blanches de Paula, coordenadora do Projeto SOL Africa; Revda. Joana D´Arc Meireles, Secretária para Vida e Missão da Igreja Metodista no Brasil; professor Rui de Souza Josgrilberg, reitor da FaTeo e Demétrio Henrique Soares, assistente do Programa de Relações Institucionais.