Jung Mo Sung questiona futuro dos direitos humanos em era pós-humanista
25/08/2017 11h35 - última modificação 25/08/2017 11h36
Nos últimos dois anos Jung Mo Sung, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, vem se dedicando a uma pesquisa sobre religião e direitos humanos em uma era pós-humanista. Motivado pela percepção de que estamos em um processo de transição de uma era liberal, para uma era neoliberal, o professor se questiona sobre como ficam as discussões sobre direitos humanos.
A pesquisa e o questionamento foram apresentados na aula magna do segundo semestre da Pós em Ciências da Religião. “A tese de que humanos possuem certos direitos básicos, fundamentais não é óbvia e nem existiu sempre. Ela é uma criação de religiões universais que creem em um Deus transcendente que dá esses direitos a todos os seres humanos, independentemente de sua nacionalidade, crença ou condição social”, diz.
Na separação entre Estado e Igreja, a tradução mais comum dada a esse direito fundamental foi o conceito de direitos humanos e sacralidade da vida, compreendida por todas as religiões, como dignidade humana. Ao longo da história, a Igreja continuou se posicionando com essa tese para defesa da justiça social e dos direitos civis, sobretudo mediante a governos autoritários, como as ditaduras da América Latina e o racismo institucionalizado nos Estados Unidos e na África.
A busca por direitos humanos inclui a luta pelos direitos civis, da comunidade LGBT, das mulheres, dos direitos dos negros, e pela luta por justiça social, de que os pobres têm direito à vida e a tudo que é necessário à vida. Dessa maneira, a intervenção do Estado se justificaria para garantir os direitos humanos, à vida, à alimentação, moradia, educação, saúde, etc.
Já a lógica do mercado, cada vez mais presente nos dias atuais, visa à competitividade: “qual é a lógica do mercado? É a concorrência, eliminar aqueles que são incompetentes. Esperar que o mercado resolva essas questões sociais é impossível”. Para o neoliberalismo, a justiça social só pode ser atingida por meio da lógica do livre mercado.
O docente ressalta, ainda, que estamos passando por um estágio de anti-humanismo, uma afirmação de Deus contra os seres humanos. “Grupos sociais pós-modernos fazem negação do ser humano. O transhumanismo, que seria a evolução do humano pela tecnologia até atingir a imortalidade, trata da humanidade como um estado a ser superado e, portanto, sem direitos naturais”.
Para Sung, o desafio atual é encontrar uma forma de legitimação dos direitos humanos que alcance a todos. “O discurso da Igreja é suficiente para ações locais, mas precisamos de um discurso global, pois a argumentação do cristianismo não chega à África e à Ásia, com religiões diferentes. Como construir outra narrativa compartilhada por pessoas de narrativas diferentes?”.