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Estrutura Simbólica de Mitos e Ritos Religiosos

Universidade Metodista de São Paulo
Faculdade de Humanidades e Direito
Curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião

Docente: Prof. Dr. Paulo Augusto de Souza Nogueira

Horário: Quintas, das 16h15 às 18h45.

Disciplina: Estrutura Simbólica de Mitos e Ritos Religiosos: a relação texto e contexto na interpretação bíblica.

I - Ementa

Estuda as estruturas simbólicas presentes nas narrativas e complexos míticos, nos ritos e nas suas inter-relações na história das religiões.

Ementa específica:

A história das formas, principal método exegético dos métodos histórico-críticos, se fundamenta sobre o pressuposto de que as formas literárias dos textos indicam o seu lugar histórico social, o seu contexto (Sitz im Leben), constituindo-se numa primeira tentativa de formulação de exegese sociológica (Theissen 1983: 36). No decorrer do século XX se desenvolveram diferentes abordagens históricas e, principalmente, sociológicas do texto com o fim de determinar o grau de relação do mesmo com a realidade. O pressuposto básico, no entanto, permaneceu o mesmo desde a história das formas: os textos têm origem em contextos específicos que lhes determinam conteúdos e formas literárias. E o inverso: a partir das formas e expressões literárias se pode reconstruir os contextos específicos dos textos.

Nesse curso queremos revisitar criticamente esse pressuposto de ligação entre texto e contexto a partir de provocações da teoria literária e da historiografia. Tomaremos como ponto de partida a reflexão de Wolfgang Iser em seu seminal artigo The Reality of Fiction: A Functionalist Approach to Literature, no qual ele sugere que a literatura tem o poder de reorganizar as normas e os enredos sociais que na realidade histórica são verticais, em novas formações ficcionais horizontais, ou seja, manipuláveis para reavaliação criativa e crítica do leitor. Dessa forma a literatura - no caso, a literatura bíblica – é um espaço de experimentação com a realidade histórica e social, permitindo ao leitor reavalia-la e imagina-la em novos parâmetros. Essa relação fluente e flexível entre texto e contexto confere um novo poder ao texto religioso na crítica e reconfiguração do contexto histórico e coloca o conceito literário e antropológico de ficcionalidade no centro da pesquisa sobre o papel social dos textos bíblicos. Também pretendemos inserir nesse debate a relação entre história e narratividade em Hayden White, que reconhece o papel literário e narrativo do discurso histórico e que igualmente problematiza o conceito de “contexto”.

Nosso curso também terá como objetivo criticar o pressuposto de que a literatura religiosa do entorno histórico do cristianismo primitivo servia para esta como uma espécie de contexto, como se os textos religiosos do helenismo e do judaísmo antigo fossem parte de uma estrutura histórica rígida, frente aos quais os textos do cristianismo primitivo trouxessem novidade. Nesse curso propomos uma análise da relação entre os textos do Cristianismo Primitivo e os textos das religiões do Mediterrâneo pautada pelos conceitos de dialogismo, intertextualidade e interdiscursividade.

Nosso curso analisará, portanto, textos do cristianismo primitivo nessa dupla perspectiva, questionando (a) a causalidade rígida entre contexto (história) e texto, e (b) entre textos “do entorno” (história da religião) e os textos bíblicos. Proporemos como alternativa uma relação dialógica e poética entre os textos bíblicos e sua realidade histórica e entre os demais textos religiosos, que potencialmente questionam e repropõem (ou legitimam?) o seu universo social.


II – Objetivos

a) Analisar criticamente o conceito de “contexto histórico” nos procedimentos exegéticos tradicionais.
b) Propor uma relação dialógica e intertextual entre texto e contexto na análise de textos do cristianismo primitivo.
c) Redefinir a relação entre os textos bíblicos e os textos religiosos do mundo mediterrâneo em termos dialógicos, de propostas alternativas de compreensão de mundo.
d) Incorporar aos estudos bíblicos o conceito antropológico de ficcionalidade e a crítica pós-moderna do discurso historiográfico.


III- Conteúdo programático


1. A história da exegese histórico-crítica e o seu conceito de Sitz im Leben.

2. O conceito antropológico de ficcionalidade (W. Iser).

3. História e narratividade (H. White).

4. Crítica ao princípio de causalidade na história comparada da religião.

5. Conceito de contexto e de comunidade leitora na exegese dos evangelhos sinóticos. (três sessões)

6. Lucas e Atos e a interpretação judaica da lei. (duas sessões)
*** com a participação do Prof. Isaac Oliver

7. Experiência visionária apocalíptica e contexto (duas sessões).

8. Relatos ficcionais sobre as origens e a construção das origens (quatro sessões).
a) Os Atos Apostólicos Apócrifos
b) As Atas dos Mártires

IV – Avaliação

Trabalho de análise e discussão em sala de aula de uma das fontes propostas.
Apresentação de pequenos seminários no decorrer do curso.

V – Bibliografia de referência

BARROS, Diana L. P. de & FIORIN, José Luiz (orgs.). Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade. Em torno de Bakhtin. São Paulo: EDUSP, 1994.

BERGER, Klaus. Exegese des Neuen Testaments. Heidelberg: UTB Quelle & Meyer, 1984.

BERGER, Klaus. Einführung in die Formgeschichte. Tübingen: UTB Francke, 1987.

BERGER, Klaus. As formas literárias do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1998.

FRILINGOS, Christopher A. Spectacles of Empire. Monsters, Martyrs, and the Book of Revelation. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2004.

ISER, Wolfgang. O fictício e o imaginário. Perspectivas de uma antropologia literária. Rio de Janeiro: Eduerj, 2013.

ISER, Wolfgang. The Reality of Fiction: A Functionalist Approach to Literature, in New Literary History, Vol 7, Nº1, Critical Challenges: The Bellagio Symposium (Autumn, 1975), pp.7-38.

THEISSEN, Gerd. Studien zur Soziologie des Urchristentums. Tübingen: Mohr Siebeck, 1983.

THEISSEN, Gerd. The Gospels in Context. Social and Political History in the Synoptic Tradition. Minneapolis: Fortress Press, 1991.

VEYNE, Paul. Como se escreve a história e Foucault revoluciona a história. Brasília: Editora UNB, 2008.

WHITE, Hayden. O texto histórico como artefato literário, in Trópicos do discurso. Ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo: EDUSP, 1994, p. 97-116.

WHITE, Hayden. The Context in the Text: Method and Ideology in Intellectual History, in The Content of the Form: Narrative Discourse and Historical Representation. Baltimore and London: Johns Hopkins University Press, 1987, p. 185-214.

WHITE, Hayden. The Value of Narrativity in the Representation of Reality, in in The Content of the Form: Narrative Discourse and Historical Representation. Baltimore and London: Johns Hopkins University Press, 1987, p. 1-25.

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