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Representação midiática responsabiliza vítimas de violência, segundo pesquisadora da Universidade de Porto Rico

Doris Martínez Vizcarrondo participou de atividade conjunta da Metodista e ESPM

15/08/2017 17h22

“Toda notícia é um processo de recontextualização de um fato. Um acontecimento, como um incêndio, por exemplo, é filtrado pela ideologia do jornalista e da imprensa para que trabalha”, diz Doris Martínez Vizcarrondo, docente da Universidade de Porto Rico e presidente da Associação Latinoamericana de Estudos do Discurso, que pesquisa o discurso midiático na América Latina. Logo, os fatos são abordados pela imprensa de forma que refletem a visão da sociedade em que está inserida.

Segundo Doris, quando a vítima de um crime noticiado pela imprensa é mulher, negra ou homossexual, sempre se repetem as mesmas estratégias de contestação do crime, levando em conta aspectos como sua vida sexual e social, por exemplo, como forma de relativizar a violência. O caso de duas jovens turistas argentinas que foram mortas no Equador, em 2016, foi citado pela docente. “Questionaram o fato de viajarem sozinhas, das roupas que usavam, por que andavam sem homens e bebiam álcool”, relembra.

A professora esteve na Universidade Metodista de São Paulo para ministrar a palestra “La representación de la víctima y de los victimarios en situación de violência”, ou a representação das vítimas e dos agressores em situação de violência, em tradução livre. O evento foi uma iniciativa conjunta do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Metodista e da Pós-graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

No bate-papo, a pesquisadora citou que a vítima de violência é determinada de forma relativamente clara como alguém que sofreu uma violência, no ponto de vista legal. Mas essa visão não é a mesma em outros espaços: “através da consciência social é construída intolerância a certas vítimas. Quando falamos de uma vítima, se supõe que a defendamos, mas não – nós as excluímos e insultamos”.

Quando se tratam de crimes praticados por homens, de acordo com a pesquisadora, há uma legitimação da violência. “Isso acontece pelo consenso social de que a figura do homem deve ser violenta, quando há necessidade, e que possui poder absoluto sobre a mulher e os filhos”, enquanto a culpa pela agressão sempre recai sobre a mulher.

Doris cita outro caso famoso na imprensa, de Angel Colón Maldonado que matava homossexuais em Porto Rico na década de 80. Acusado de 27 assassinatos, Maldonado foi condenado, mas só admitiu seis crimes. A pesquisadora analisou o discurso dos jornais na época e conta que o criminoso nunca foi tratado como um assassino em série pela imprensa, mas era descrito como ‘amigo’, ‘jovem’, ‘bonito’. “Nesses casos de crime de ódio, pouco discutidos, o criminoso é retratado como alguém que está fazendo uma ‘limpeza’”, completa. Há, então, uma representação ambígua do acusado, em que é tratado como vítima e violador.

Clique aqui e leia mais sobre a análise do caso no artigo "La Representación de la Víctima y el Victimario: La Cobertura Periodística del Caso del ‘Ángel de los Solteros’: Un Examen de Este Producto de Consumo Noticioso", publicado por Doris em 2014. 

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