Pesquisador de Comunicação defende que somente artistas podem avaliar qualidade de obras
19/05/2017 18h25 - última modificação 22/05/2017 11h38
Quem define se músicas, pinturas ou peças de teatro são boas ou ruins? Em sua pesquisa pós-doutoral pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, o professor Kleber Mazziero de Souza busca definir quem pode avaliar a qualidade de uma obra de arte com propriedade.
Durante os estudos do Doutorado, realizados na Metodista, Souza afirmou que a qualidade musical apresentada na televisão aberta decaiu dos anos 80 para cá, mas enfrentou uma barreira: como dizer o que é bom ou ruim? “Precisamos encontrar uma argumentação do que é qualidade, porque isso pode ser subjetivo, você gosta e eu não gosto. Saí, então, em busca de um referencial para afirmar o que é bom de forma objetiva”, diz Souza.
Na obra de Immanuel Kant, filósofo do século XVIII, o professor encontrou referencial para discutir a questão em seu estágio pós-doutoral. “Kant diz que quando um ser humano está diante de qualquer espécie de apresentação estética, como arte ou música, ele pode se ater à sensação de agrado ou desagrado, que dependerá do repertório pessoal, código genético e até estado emocional”, explica.
No entanto, para Kant, “quando alguém se atém à sensação do agrado ou desagrado, está agindo como um animal, pois não racionaliza”. O filósofo define que existem três degraus nesse reconhecimento, sendo que o primeiro é este estado da sensação. No segundo estágio, a pessoa busca compreender por que gosta ou não de algo, “você implica uma busca racional para saber o que te agrada ou não. Está em busca do belo e não é mais semelhante ao animal, porque tentou entender o que te agradou. Você não está mais no campo da sensação, mas da razão”.
Ainda assim, este estágio é subjetivo, pois a beleza pode variar de uma pessoa a outra. “No terceiro degrau é quando se avança e consegue compreender a estrutura sobre a qual aquela obra foi edificada. Você já não sabe o que é belo, mas o que é bom e o ‘bom’ é um elemento objetivo”, argumenta Souza com base nos estudos de Kant.
Mas quem tem autoridade para definir qualidade?
“Quem pode dizer quais são os elementos estruturantes desse discurso? Só um artista daquela área específica que pode saber o que estrutura aquela arte. Alguém pode entender de música, mas não sabe escrever uma partitura, então não sabe a dificuldade que é. Só um artista saberia qual caminho e recursos utilizados para aquela obra ser realizada”.
Essa foi a conclusão chegada por Souza na pesquisa que ouviu sete artistas, de diferentes áreas, e sete apreciadores de arte. O estágio foi supervisionado pelo professor Daniel dos Santos Galindo que ressalta a importância desse tema: “o que Souza está estudando é como que o artista consome arte. É uma investigação do consumo de arte por quem faz arte, que está no último grau de leitura, e por quem não entende também”.
Os dois pesquisadores já trabalharam juntos anteriormente. Na dissertação de Mestrado, Souza foi orientado por Galindo e analisou a perda da importância do jingle nas peças publicitárias ao longo dos anos. Com a conclusão do Mestrado, percebeu que esse desaparecimento do jingle era resultado da redução da qualidade musical na mídia brasileira, o que foi estudado em seu Doutorado.
Essa trajetória o levou à pesquisa pós-doutoral, que está sendo concluída agora, mas que ainda renderá mais frutos futuramente. O pesquisador viajará para a Europa ainda neste ano, onde vai realizar o mesmo estudo para descobrir se os resultados se repetem em outros países como Portugal, Espanha e Inglaterra.
Os resultados da pesquisa “Estética, Comunicação e Consumo no Campo das Artes - Distinções e Correlações entre as Apropriações Estéticas e o Consumo de Artistas e Não-artistas” de Souza foram tema de três encontros no Póscom entre maio e junho.