Doutorando da Metodista estuda fim da TV tradicional e presença audiovisual em muitas telas
16/05/2017 12h10 - última modificação 14/05/2019 13h30
A TV, no Brasil e no restante do mundo, vem sofrendo com a diminuição de público. Mas não é que as pessoas estejam passando menos tempo assistindo à TV, e sim que a forma de consumir conteúdo audiovisual mudou ao longo dos últimos anos. Cada vez mais telespectadores acompanham seriados e filmes favoritos por meio de plataformas de vídeo sob demanda, como Netflix por exemplo, e deixam de lado a programação de TV tradicional.
Com mais de 20 anos de experiência trabalhando em TV, Dirceu Lemos é fascinado por este universo. Em sua dissertação de mestrado estudou a estrutura de programação da TV, fortemente influenciada pelo modelo da Rede Globo de Televisão. Agora, com essa estrutura ameaçada, decidiu pesquisar o fenômeno que está alterando a forma de consumir conteúdo. O título provisório de sua tese é “Ubiquidade audiovisual: as infinitas telas e o 'fim' da TV” e ela visa compreender essa transição e refletir sobre quais serão as próximas etapas dessa mudança.
O doutorando explica que a tese terá três partes: a primeira mostrará números sobre a crise da TV aberta no Brasil; a segunda falará sobre o vídeo sob demanda, ou streaming, com números e dados sobre essa forma de consumir conteúdo; e a terceira traz predições sobre a TV do futuro, com base em estudos bibliográficos e dados da TV atualmente. “Meu trabalho é muito factual, então utilizo alguns livros que falam sobre teorias, mas uso muito dados do mercado e notícias do que está acontecendo agora”, diz.
Queda da audiência na TV aberta e novas tecnologias
Serviços de transmissão de audiovisual sob demanda estão crescendo em grande ritmo no mundo inteiro. A gigante Netflix é ótimo exemplo da transição do público para essas plataformas. Atualmente a empresa soma mais de 93 milhões de assinantes ao redor do mundo, segundo dados divulgados no início do ano pela própria companhia. Com as novas tecnologias, os telespectadores podem ter acesso ao conteúdo de qualquer lugar e em qualquer tela, do relógio de pulso às smartTVs.
"Os conteúdos estarão espalhados em múltiplas telas, buscando a audiência. E quem tiver conteúdo de qualidade vai reter essa audiência. Não acredito que a TV vá acabar. Acredito que tudo isso vai coexistir, elas vão se somar e muitas vão cair. Já que cada um de nós será um canal, na minha visão, os canais de TV no futuro serão simplesmente marcas", argumenta.
Amudança está acontecendo rapidamente, mas no Brasil pode encontrar dificuldades. Em dezembro do ano passado, a banda larga fixa teve 26,6 milhões de acessos no Brasil, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), mas o País ainda está na posição 75º do ranking de penetração de banda larga fixa, com 12,24% de penetração em 2015, segundo relatório da Comissão de Banda Larga da União Internacional de Telecomunicações (UIT).
Para Lemos, essa deficiência de conexão banda larga é e continuará sendo o empecilho na difusão dessas novas formas de consumo audiovisual no Brasil e o processo deverá ser lento. “Enquanto a banda larga não for uniformizada, é mais fácil ligar a TV. Isso é o que vai fazer o Brasil ficar do jeito que está por um bom tempo. Até o País inteiro ter banda larga, precisamos sair da crise econômica e mudar muita coisa”, conclui.