Indústria 4.0, as fábricas inteligentes estão chegando
12/04/2013 11h40 - última modificação 16/03/2016 16h39
A moderna administração e seus conceitos de agilidade, redução de custos e busca de qualidade têm na tecnologia seu maior foco. Esse conceito, no entanto, está saindo do ringue dos projetos – onde é possível planejar e desenhar peças e produtos na tela do computador – e saltando para o chão de fábrica. Isso mesmo. Todo o processo de produção poderá em breve ser simulado e aplicado no ambiente real por meios digitais, cabendo aos funcionários acompanhar tudo a distância, só supervisionando o trabalho das máquinas via computador ou tablet.
Trata-se da chamada fábrica inteligente, ou indústria 4.0, onde trabalhadores, máquinas, produtos e matérias-primas se conectam e se comunicam em período integral, explica Rogério Luiz de Albuquerque, gerente da Siemens Industry Software. “Vai ser como se interage numa rede social”, compara o executivo, que falou na primeira noite da Semana Facet 2015 sobre “Indústria 4.0 – A Nova Revolução”.
Esse salto para a modernidade está sendo possível sobretudo porque computadores estão cada vez mais potentes, ágeis e baratos. Albuquerque citou que, em 1985, o computador mais rápido do mundo (Cray-2) custava US$ 30 milhões. Um ipad atual tem capacidade de processamento superior à do Cray-2 e custa US$ 2 mil.
Mas o que move a produção para as fábricas inteligentes é também a corrida pela alta produtividade. Calcula-se que esse ganho possa chegar a 40% nas fábricas onde linhas de montagem e produtos “conversam” e até mesmo unidades externas, em diferentes lugares, colaboram com informações sobre compras e estoques. Além disso, defeitos até agora detectados somente no produto final podem ser corrigidos ainda na fase de preparação, por meio de testes virtuais.
“A fábrica 4.0 tem a produção baseada em sistemas ciber-físicos. O produto é criado de forma inteligente, com todas as informações necessárias para cada etapa da sua produção. É possível monitorar quanto de recursos vão em cada peça, quantos robôs são necessários, quantos turnos vão trabalhar etc”, descreveu o executivo da Siemens.
Produtos sob medida
Ele cita que fábricas inteligentes chegarão ao requinte de ir além da produção massificada, em série, pois poderão ser programadas para customizar peças. “Nos Estados Unidos é possível comprar uma camisa com gola diferente, com o tamanho do seu punho e a cor do seu gosto”, exemplificou sobre a demanda crescente da produção sob medida.
Na Alemanha, onde está a Siemens, desde 2012 há uma união entre governo, empresas, universidades e associações de classe na corrida pela competitividade a partir do projeto da indústria 4.0. Além do avanço cósmico da capacidade dos computadores, outros dois fatores que impulsionam o projeto da fábrica inteligente são a quantidade de informação digitalizada disponível hoje nas empresas e as novas estratégias de inovação.
No cenário brasileiro, entretanto, nem tudo são flores. Apesar de um mercado consumidor potencial com mais de 200 milhões de pessoas, perde em produtividade e em investimentos tecnológicos, citou Rogério de Albuquerque. As vendas de robôs na China alcançaram 37 mil unidades em 2013, para apenas 1,3 mil no Brasil. A idade média das máquinas na Alemanha é de 5 anos, contra 17 anos no País. E a produtividades do trabalho na indústria, para uma referência 100 nos Estados Unidos, chega a 80 na França, 74 na Alemanha e apenas 18 no Brasil, conforme estudos da Fundação Getúlio Vargas.
Corrida contra o tempo
“São três os pilares para melhorar a produtividade: eficiência da produção, menor tempo de colocação no mercado e aumento da flexibilidade na linha de montagem. A indústria 4.0 tem que ajudar a resolver isso”, sublinhou o executivo, que enxerga na variável “tempo” outro ponto de inquietação. É questão de poucos anos sincronizar ambientes fabris virtuais com a unidade física, em que tudo estará conectado – da concepção dos produtos, design, testes com novos materiais, protótipos, arquitetura da fábrica,organização da linha de produção, estoque de materiais, entregas etc.
“A Revolução Industrial que começou na Inglaterra no século 18 demorou mais de 100 anos para ganhar escala global. As máquinas a vapor levaram 70 anos para dobrar a produtividade. Mas a popularização dos computadores e da internet ocorreu em apenas 15 anos”, advertiu.
Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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