Evento sobre direitos humanos discute ‘memória e verdade’
15/10/2012 18h55
Professor Oswaldo de Oliveira Jr. mediou a mesa em que Lúcia Maria Salvia Coelho (à esq.) e Rose Nogueira (à dir.) contaram o que viveram na ditadura militar. Foto: Mônica Rodrigues
[ ENTRE OS TEMAS DEBATIDOS ESTÃO DITADURA MILITAR, TORTURA, COMISSÃO DA VERDADE E PROJETO BRASIL NUNCA MAIS DIGITAL
A partir de diferentes perspectivas do tema “Memória e verdade”, a 3ª Semana de Educação em Direitos Humanos, realizada no final de agosto, trouxe à tona diversas discussões e reflexões e seus impactos na sociedade.
“A questão fundamental é que a sociedade, para existir, precisa instituir os seus direitos. Os direitos humanos são necessários para a vida”, afirmou o pro fessor Lauri Emílio Wirth, do Programa de Pós-Gradua ção em Ciências da Religião, na abertura do evento.
Dois pontos abordados diante do qual muitas pessoas preferem se calar foram a ditadura militar (1964-1985) e a tortura. Os depoimentos de Rose Nogueira, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, e Lúcia Maria Salvia Coelho, psicóloga e presidente da Sociedade Rorschach de São Paulo, além da palavra de Marlon Alberto Weichert, procurador regional da República, sobre a Comissão da Verdade, mostraram que o assunto é mais do que atual e precisa ser discutido.
De acordo com Lúcia Maria, “esse silêncio é perigoso para a vítima e para a sociedade e confortável para o torturador”. Ela defendeu ainda “um atendimento psicológico para essas pessoas [presos políticos que foram torturados], porque sem isso você pro duz ‘saltos’ e fica sempre à mercê da invasão de pesadelos, de somatismos, como dores de cabeça constantes e outras doenças, e de um sentimento de culpa”.
“Se tem uma coisa em que os tortura dores tinham razão é que a tortura não passa, não passa, não passa...”, afir mou Rose Nogueira, que só conseguiu falar publicamente sobre o que sofreu após 26 anos. “Eu estava dando uma palestra e fui falando. Não conseguia parar até que comecei a chorar na frente de 600 pessoas.”
Para a jornalista, “muito do que vivemos hoje é herança da escravidão, do período da monarquia. A ditadura não é um fato histórico apenas, mas é um processo. E nós fazemos parte dessa história”.
Verdade
“A Justiça Transicional ou de Transição é um conceito jurídico-político consolidado no Direito Internacional pela reconstrução dos países da América Latina após as ditaduras; da África, devido às guerras civis; e da Alemanha Oriental depois da queda do Muro de Berlim, que tem como objetivo a prevenção, para que não ocorram violações aos direitos humanos”, explicou o procurador regional da República.
Marlon Weichert tratou ainda sobre os trabalhos da Comissão da Verdade, que apura as violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988, e do Projeto Brasil Nunca Mais Digital, que digitaliza o material que resultou em um livro homônimo a partir de processos políticos que tramitaram na Justiça Militar, entre 1964 e 1979.
Para o procurador, “tudo isso para que a sociedade esteja preparada para não repetir os erros praticados no passado”.
Confira os vídeos das palestras aqui.
Gabriela Rodrigues