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Adaptação é um tempo crucial na adoção

12/2012

13/03/2013 11h16

Augusto à frente de sua família, que o adotou aos 10 anos de idade. Foto: Arquivo Pessoal

Crianças mais velhas devem ter sua história respeitada ao entrarem para uma nova família

Boa parte das pessoas que tem vontade de adotar uma criança costuma pensar apenas em salvar a vida de alguém que foi abandonado pelos pais biológicos, eximindo-se das dores e complicações de um parto ou do trabalho que exige um bebê pequeno. O que muita gente não pensa é que adotar exige mais responsabilidade do que dar a vida a uma criança. O processo de adoção envolve uma longa e rigorosa bateria de testes para que a Vara de Infância possa avaliar, por meio dos assistentes sociais, se os interessados têm condições de adotar. Estes trâmites podem levar de seis meses até cinco anos entre o período de habilitação e o de concretização, que é o mais demorado, porque os perfis das crianças precisam ser coerentes com aquele desejado pela família adotiva.

Além da burocracia, outro problema que os pais enfrentam é a adaptação. Muitos acreditam que, por terem escolhido o perfil da criança, ela será exatamente como sonharam, mas não é simples assim. Segundo a psicóloga Kelly Cristina Brandão da Silva, da Universidade Metodista de São Paulo, há menos entraves com bebês. “Uma criança mais velha conheceu ua família de origem ou já esteve em outro lar antes da adoção.
Muitas vezes os pais adotivos, sem dizer explicitamente, não permitemque essa criança fale sobre seu passado. Como se fosse possível ‘zerar’ a
história e começá-la a partir da nova família”, disse. Para Kelly, esse "nãodito" pode trazer inúmeras dificuldades de inserção dessas crianças, seja na família ou na escola. “Os bebês adotivos podem sentir esses efeitos do "não-dito" quando os pais decidem que não vão contar sobre a adoção”, completou a psicóloga.

Ao contrário de alguns pais que ignoram o passado dos filhos, a enfermeira Rejane Célia dos Santos, de São Paulo, mãe de quatros crianças, adotou Augusto com 10 anos e sempre levou sua história em consideração. Augusto e seus três irmãos biológicos, todos mais novos, foram adotados por uma família dos Estados Unidos, mas o menino não se adaptou à vida no exterior e voltou ao Brasil. “Nós éramos voluntários da Fundação Comunidade da Graça e nos pediram que ficássemos com o Augusto por três dias, para ver como ele se comportava longe dos irmãos. Inicialmente, não tínhamos a intenção de adotá-lo, mas depois nos apegamos, surgiu um amor muito forte. Hoje ele é tão meu filho quanto os
outros”, falou Rejane.

A psicóloga Kelly Cristina explica que muitos pais não sabem como agir
com os filhos adotivos devido aos costumes diferentes. “Há dificuldades para lidar com o passado da criança, sua vida em orfanatos ou em outras famílias adotivas. É preciso enfrentar diferenças na criação, os conflitos sociais e até raciais. Mas isso é apenas uma fase de um processo muito gratificante para quem deseja ampliar afamília”. Rejane concorda. “Uma das coisas mais importantes para este relacionamento florescer é observar”, afirma. Para ela, é preciso preservar a criança e respeitar sua história, suas origens, hábitos e valores ao entrar para a nova família. “É preciso ser sincero. Nós dissemos para nosso filho que não tínhamos planejado adotá-lo, mas Deus o trouxe para as nossas vidas e
agora ela é nosso”, completa.

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