Ciclo de palestras “Comunicação e Democracia no Brasil: 50 anos do Golpe de 64” lota o Auditório Sigma
01/04/2014 19h45 - última modificação 26/08/2014 13h08
Vídeo do depoimento de Darci Miyaki, militante política, à Comissão Nacional da Verdade mostrado pela Profa. Magali durante sua palestra
Texto e fotos por Roberto Bueno Mendes
A Metodista deu inicio ao ciclo de palestras “Comunicação e Democracia no Brasil: 50 anos do Golpe de 64”, ontem, dia 31 de março, data que foi relembrada com pesar e estabelece o início da ditadura militar no Brasil. Cerca de 300 pessoas compareceram ao evento, realizado no Auditório Sigma, do Campus Rudge Ramos, e contou com os professores José Marques de Melo e Magali do Nascimento Cunha, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Metodista (POSCOM).
“64 mexe muito com todos nós”
A primeira apresentação coube ao diretor da Cátedra, pesquisador José Marques de Melo. Ele foi afetado pela repressão militar ao cassarem o seu cargo de professor da Escola de Comunicação e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP), em 1975. O professor apresentou a palestra “Brasil: História, Política, Jornalismo1964. Golpe, contragolpe, revolução? (1964-2014)”.
“Essa questão de 64 mexe muito com todos nós. Eu elaborei esta minha apresentação com muita dificuldade, por causa do tema. Ele é um tema que inquieta, mas, ao mesmo, também, quem participou de tudo isso, como a minha geração participou, isso acaba se projetando no comportamento de cada um”, explicou o professor na abertura.
Dedicando a sua palestra ao reitor B. P. Bittencourt que o trouxe para a Metodista no mesmo ano em que foi
afastado da USP, o professor Marques de Melo explicou que os militares deram um golpe ao impor um governo de cima para baixo. Ele demonstrou que os militares não fizeram nada mais do que sempre foi feito desde 1500, quando Pedro Álvares Cabral teria dado o “Golpe do Achamento Casual” e diversos fatos ao longo da História do país também seriam golpes.
Marques de Melo passou por eventos históricos brasileiros e mundiais que demonstraram que sempre houve golpes, - militares ou não - , como os da Independência do Brasil e do Proclamação de República. “O Brasil é um sociedade golpista. O golpe não foi só em 1964, vem muito antes e continua depois de 1964”, afirmou o pesquisador. E, ao final, ele sugeriu uma bibliografia para que o público. – principalmente os estudantes de graduação –, possam entender o período de 1945 até hoje.
Entre os livros indicados tem o do historiador Sérgio Buarque de Holanda, “Raízes do Brasil” e “1964: visto e comentado pela Casa Branca”, de Marcos Sá Correia.
Comissão Nacional da Verdade
A professora Magali do Nascimento Cunha, ao iniciar a sua fala, deu um depoimento pessoal sobre a história de seu pai. Agricultor no norte do estado do Rio de Janeiro, ele acabou se mudando para a cidade do Rio de Janeiro e se tornou ferroviário e integrante do sindicato. “Quando o golpe aconteceu, eu tinha um ano e fui criada nesse contexto, mas eu tive a graça de ter um pai que me falava: ‘quando você for para a escola, nas aulas de Moral e Cívica, não acredite em nada que eles falarem’. E em casa eu tinha uma aula que era muito diferente do que tinha lá".
A professora Cunha expôs o que é a Comissão Nacional da Verdade (CNV), na qual faz parte. Ela explicou como os pesquisadores estão contribuindo para os trabalhos realizados pela Comissão. “Ela tem por finalidade apurar as graves violações de direitos humanos (...) a fim de efetivar o direito a memória e a verdade histórica e promover a reconciliação nacional, isto é o que está escrito na lei e ela se inspira em mais de 20 comissões de países que viveram circunstâncias semelhantes a que viveu o nosso país, como Argentina, Guatemala e África do Sul.”.
Mas ela ressaltou que a Comissão brasileira demorou quase 30 anos para se instalada, ao contrário das outras que foram implantadas assim que houve a mudança de regime político. “Mas já havia iniciativas, como o grupo ‘Brasil: Tortura Nunca Mais’ e Comissão Nacional de Mortos e Desaparecidos Políticos”, relembrou.
A Comissão, segundo a pesquisadora, está levantando a verdade. A professora explicou que a Comissão tem a missão de apurar fatos sobre a ditadura militar e foca episódios como a deposição de governantes, cassação arbitrária de políticos, exoneração de intelectuais de cargos públicos e prisões arbitrárias; “Algumas verdades já vieram à tona”, disse.
A pesquisadora ainda analisou que em nome da “segurança nacional”, aparelhos de repressão foram criados, como, por exemplo, a Operação Bandeirantes (OBAN), o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI).
A professora Cunha anotou que a CNV é formada por sete integrantes. Existem 13 grupos de trabalhos – como o “Papel das Igrejas durante a Ditadura”, ao qual ela faz parte –, e seis tipos de trabalhos que a Comissão realiza como, por exemplo, as audiências públicas. Uma delas, a da Darci Miyaki, está no canal da Comissão em uma rede social de vídeo.
Ela encerrou a sua explanação com a música “Cálice”, de Chico Buarque de Holanda, para que o público refletisse sobre o que ocorreu durante aquele período.
O ciclo, idealizado pelo professor José Salvador Faro, conta com o apoio da Faculdade de Comunicação (FAC), do POSCOM e da Cátedra UNESCO/Metodista de Comunicação. A coordenadora do POSCOM, professora Marli dos Santos informa que será realizado ao longo de 2014 outras palestras sobre o período da ditadura militar ocorrido no Brasil de 1964 a 1985.