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Fórum Social Mundial

Partimos do ABC rumo a Porto Alegre cheios de expectativas. Semanas antes eu já estava bastante ansioso com a proximidade do Fórum Social Mundial e com a possibilidade de encontrar reflexos para minhas inquietações, anseios e sonhos. Afinal, esse é o evento que congrega estudantes, pesquisadores, intelectuais, progressistas e loucos de toda espécie que acreditam ser possível a construção de um mundo diferente com paz e justiça social.

Já no caminho formamos um grupo bastante interessante que era o prenúncio do que seria o FSM. Um mestrando em Comunicação e Cultura, eu; uma estudante de Jornalismo, Marina, minha irmã; um estudante de Administração, Gilberto; uma estudante de História, Talita; um poeta artesão, Milton Aguiar; um artesão camelô, Joãozinho; e uma menina de dezessete anos, Kaká. Interesses diversos, idéias convergentes e muita conversa boa no caminho.

Ficamos no Acampamento Intercontinental da Juventude que tinha sua própria programação, palestras, oficinas, protestos e ações que aconteciam nos "Espaços" e nos "Centros de Ação". Lá estava concentrada a massa do evento, cerca de 78 mil pessoas das mais diferentes nacionalidades, etnias, culturas, credos, grupos, movimentos sociais e partidos políticos. Estavam presentes o Movimento Hip Hop, MST, MTD, Movimento GLS, Punks, Hippies, Santo Daime, Calendário Maia, PSTU, PC do B, PSOL, Hare Krishna, Escolas de Samba e muito mais. A grande diversidade do Planeta sendo ali representada, um grande espetáculo. O que mais se ouvia eram gritos de guerra contra o imperialismo, neoliberalismo, Bush, ALCA, FMI e muita solidariedade às causas de povos, como o palestino e o iraquiano. O auge da integração e da emoção foi ao som de "Imagine", do John Lennon, tocado por Gilberto Gil no show de abertura. O Movimento Hip Hop tinha um espaço próprio, "A Cidade Hip Hop", onde aconteceu o III Fórum Nacional de Hip Hop. Como sou pesquisador do Movimento, foi ali que fiquei a maior parte do tempo. Assisti, gravei e fotografei mesas muito boas. Sendo que considerei mais importantes as mesas de "Organizações Nacionais de Hip Hop" e "Políticas Públicas para o Hip Hop". Os debates foram quentes e os principais motivos de conflito eram em torno das questões dos vínculos partidários e da institucionalização do Movimento Hip Hop. Estou escrevendo um relatório mais elaborado e posso apresentá-lo em breve.

Como mestrando foi uma experiência muito rica. Pude pesquisar, refletir, questionar e trocar contatos com outros pesquisadores e com integrantes do Movimento Hip Hop. Como sonhador foi frustrante em alguns aspectos. O que era pra ser o exemplo de um outro mundo, foi a metáfora da contemporaneidade. Gente politizada, gente que saiu de colônia de férias, gente consciente, gente que foi só pra ficar locão, gente que argumentava, gente que hostilizava e agredia e até gente que roubava e estuprava. Centenas de barracas foram saqueadas, inclusive a do nosso amigo Milton Aguiar, que estava do nosso lado e teve o prejuízo de R$ 1.000,00, e duas garotas foram estupradas. No último dia o clima era de tensão. Ninguém deixava suas barracas ou companheiras sozinhas.

Poderia ter voltado pessimista com essas barbaridades. Mas não. Lá era o retrato do mundo hoje, só que tudo acontecia mais perto da gente, tanto as coisas boas como as coisas ruins. Não deixei de acreditar que outro mundo é possível, continuo acreditando sonhando e lutando, e cada vez mais, lutando. Porque acredito ainda mais que outro mundo com paz e justiça social é possível, e isso depende do nosso empenho, do nosso trabalho e da nossa luta diária contra as injustiças, contra a violência, contra a corrupção, a fome, a miséria e todos os males que afetam a humanidade. E nunca vou esquecer dos momentos que tivemos lá, todas as boas conversas e o lindo pôr do sol do Guaíba, Marcelo, Nancy, Gilberto e eu somos algumas das testemunhas.

Pablo Bastos é mestrando de Cultura e Comunicação - ECA/USP e integra a Cátedra Pref Celso Daniel de Gestão de Cidades.

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