A construção de um mundo de Diversidade e Participação
O outro mundo possível de que fala o lema adotado pelo 5º Fórum Social Mundial poderia ser caracterizado, a partir da experiência dos participantes do evento, em Porto Alegre, entre 26 e 31 de janeiro de 2005, como um mundo cuja característica mais marcante é a diversidade, bem como a disposição das pessoas em conviver com ela e de superar os problemas que dela surgem. A experiência de participar do Fórum é vigorosa: pessoas de todas as partes do mundo, falando em uma Babel que se esforçava pacientemente para tentar se comunicar, transitando por uma infinitude de temas e tendas em que se distribuía o evento. A sensação era de que para qualquer assunto da pauta de questões sociais que se propusesse haveria pessoas à volta dispostas a ouvir e debater: 150 mil pessoas estavam ali para isso.
Mas, talvez, nesse perfil de vigorosa diversidade esteja também a fragilidade do Fórum, como dizem muitos de seus críticos. A proposta do Fórum, de colocar em debate os movimentos sociais e construir um pólo que se contraponha às políticas indicadas pelo Fórum Econômico Mundial, de Davos, se efetiva sob a forma de uma inevitável pluralidade de temas, de relatos, de diálogos, que dificilmente se poderia conceber resultar em posições fechadas ou unificadas. A própria estrutura do Fórum o impede: não há assembléias ou deliberações, não há unificação de posições ou consensos para além dos criados, circunstancialmente, em cada um dos debates. O resultado pode parecer desconfortável para aqueles que esperam enormes consensos, além de, talvez, processos e lideranças centralizadas. Arredio, o evento se apresenta como uma experiência de pluralidade e gestão participativa, de ação no sentido de construir novos modos de vida política, muito mais relevante, talvez, dos que os discursos mais audíveis que ecoam para além do evento, ou por sobre ele. Este perfil, que pode ser caracterizado negativamente como uma "feira" dos movimentos sociais, resulta do respeito ao projeto inicial, grande responsável pelo crescimento do Fórum, de não sobrepor posições ou interpretações particulares à diversidade de que se compõe a defesa de "um outro valor", como diz Frei Beto, a partir da qual Porto Alegre tem se contraposto a Davos. Seu resultado, para além do grande gesto de construir plataformas unificadas, se faz presente nas micro-estruturas, sob a forma da criação de canais de comunicação e influência cada vez mais cotidianos entre os movimentos sociais do mundo todo.
A proposta apresentada pela Cátedra Celso Daniel de Gestão de Cidades, de debater a Apropriação e socialização do conhecimento pelo controle social das cidades, sai fortalecida desse ambiente e do diálogo ali efetivado, pela clareza com que coaduna ao espaço e ao processo do Fórum Social Mundial: propondo parâmetros claros para a construção de formas participativas e democráticas de gestão do espaço público no âmbito local.
Marcelo Carvalho é coordenador do Curso de Filosofia da UMESP e integrante do Comitê Executivo da Cátedra Pref. Celso Daniel de Gestão de Cidades