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Eleições municipais e debate político

Eleições municipais como as que se realizam em 2004 têm características bastante particulares, algumas delas repetidas freqüentemente pelo senso comum, que vale a pena considerarmos. Em primeiro lugar, as eleições de vereadores e prefeitos costumam ser descritas como menos politizadas, por serem eleições em que o debate de grandes projetos políticos ou de diferentes alternativas para a sociedade - que pautam, paradigmaticamente, as eleições presidenciais - seria substituído por temas mais cotidianos, em que ganha maior ênfase a capacidade e probidade administrativa, os temas locais, em que costuma ser mais relevante o contato direto com o candidato, o bairro em que ele mora, as pessoas que o indicam, e não seu posicionamento ideológico: seriam, por assim dizer, eleições "bairristas".

Esta perspectiva, bastante difundida, que em certo sentido desqualifica as eleições locais ao situar acima delas o debate político mais consistente, desconsidera características relevantes do debate político que se encontram preservadas justamente nesse âmbito de discussões.

Desconsiderando-se o caso dos grandes centros ou capitais, em que as campanhas têm outra dimensão, na qual a comunicação de massas tem um papel mediador predominante (a cidade de São Paulo, por exemplo, tem no currículo de seus candidatos dois ministérios, duas candidaturas à Presidência da República, um governo estadual e uma presidência do Congresso Nacional, além de três gestões da própria cidade), as eleições locais são menos influenciadas pela estrutura de mídia.

Nesses casos, a circulação de informação se faz por meio do contato direto, dos comícios e das visitas às casas dos eleitores e às comunidades. Os temas em geral não são técnicos, e se situam muito próximos das preocupações mais imediatas dos eleitores. Dizem respeito à escola dos filhos, às praças e parques, à relação com a economia local, à saúde, à cultura.

Esta forma de fazer política certamente inverte a estrutura clássica das "democracias ocidentais", em que o debate se trava em geral a partir de delimitações teóricas extremamente gerais (que seria o fundamento da estrutura partidária) e que estabelece relações de representação política muito tênues, estabelecidas por um discurso que já há muito tempo se situa inteiramente no terreno da publicidade - e não propriamente da política.

Eleições locais são a nossa melhor aula de política, são nosso retorno à terra firme e às relações entre pessoas de verdade, não entre suas imagens ou entre peças publicitárias, são o reencontro do cidadão com a possibilidade efetiva e próxima de se determinar a forma de nosso cotidiano.

A política local, onde se situa essa atividade política menos mediada, ainda guarda a possibilidade de uma participação direta dos cidadãos e das comunidades que, em âmbitos mais amplos, se mostra cada vez mais sufocada pela distância, pela propaganda, pela sobreposição da imagem ao diálogo e tantos outros elementos estranhos ao processo político.

A particularidade do debate municipal e seu "bairrismo" devem ser vistos como um desafio aos discursos generalizantes a que a política está muitas vezes subordinada, e lembrar-nos tanto de nossos objetivos quanto da forma de buscá-los e construí-los a que chamamos política: essa vigorosa dialética do particular.

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