A conscientização e o conceito usuário-pagador e poluidor-pagador
Segundo Waverli, as campanhas de conscientização da população quanto à necessidade de economizar água atingem muito pouca gente porque o desperdício ainda não pesa no bolso do cidadão comum. Ela lembra a época do "apagão", afirmando que medidas restritivas do uso, mesmo que impopulares de início, acabam surtindo efeito porque mudam os hábitos da população a médio prazo. "Muita gente continuou a economizar energia elétrica mesmo após o fim da restrição ao uso", diz Waverli.
Por isso é tão importante a consciência de que cada cidadão deve pagar por seu desperdício. "As pessoas cultivam hábitos terríveis, como lavar a calçada com mangueira", explica.
A Lei de Recursos Hídricos, de 1992, que revê toda a gestão da água no Brasil, inclusive o conceito usuário-pagador e poluidor-pagador, ainda não foi regulamentada por motivos políticos. Afinal, medidas restritivas são extremamente impopulares.
Reuso do esgoto
Esse é um dos mais importantes pontos quando se discute economia de recursos hídricos. A água de reuso, o resultado do tratamento do esgoto, não é potável mas pode ser usada em uma infinidade de atividades importantes como lavagem de ruas, descargas de banheiros públicos e desobstrução de galerias. A agricultura e a indústria seriam as principais beneficiadas.
Tudo sem risco algum para a população. Na divisa entre São Caetano e São Paulo foi construída uma estação de tratamento de esgoto, a ETEABC, que deveria ser responsável pela coleta e tratamento de todo o esgoto do grande ABC. O problema é que ainda não foram construídos os coletores tronco, ou seja, os canos que levam o esgoto à estação. Estima-se que o gasto com a construção da ETE já ultrapasse 1,8 bilhão de reais.
Áreas de mananciais
Esse é um problema que merece especial atenção no Grande ABC. A lei de proteção aos mananciais, de 1974, é complicada porque estabelece limites não concretos. A autorização para construção nessas áreas precisa ser concedida pelo Estado, o que cria um entrave burocrático para pessoas que já compraram terrenos em tais regiões.
O município de São Bernardo do Campo pôs em prática um projeto experimental na região, os bairros ecológicos. São áreas de manancial já ocupadas onde a prefeitura tenta resgatar a permeabilidade do solo quebrando uma parcela de concreto no chão e substituindo-a por grama ou terra batida. "Os Bairros Ecológicos podem dar certo, mas há muito ainda o que caminhar", lembra Waverli.