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O sindicato, ou a nova geografia do cidadão

A cidadania real não é dada no nascimento. Apesar das leis e dos discursos dos poderes. O momento da travessia dos habitantes das cidades à condição de cidadãos está na linguagem.

O que significa ouvir dos habitantes das periferias “ eu vou prá São Bernardo...” ou “eu vou prá Santo André...”? Não é o simples jeito de dizer as coisas. Trata-se de assumir, até sem plena consciência, a falta de direito à cidade. É outro lugar, para onde vai às vezes participar do mercado local, entreter-se ou tentar algum benefício público. A sua cidade é, de fato, menor, o arrabalde. As relações de classe e de capital somente se enraízam no coração da sociedade quando criam linguagens automáticas. E isso não muda sem mobilização.

Conhecemos uma outra frase no correr desses 50 anos, que se organizou na cultura do trabalho local: “eu vou pro sindicato...”, “eu moro perto do sindicato...”. Qual sindicato? Depois das mobilizações e das lutas, bastavam duas ou três palavras para criar todo o sentido. Não só na boca dos sindicalistas, mas de amplos setores da sociedade local e regional. O sindicato era – e é – referência explicadora e intérprete de valores.

Nem seria necessário que o sindicato se qualificasse “cidadão”. Ele o era pela linguagem e pelos gestos que criara. Quando se torna sede do projeto regional de alfabetização, já era referência para o que não mais queríamos no Brasil e sinal para o que desejávamos: o País justo, educado e desenvolvido para todos e por todos/todas. Metalúrgico é uma palavra bendita no vocabulário cultural deste País.

* Luiz Roberto Alves é professor e pesquisador na Universidade Metodista de São Paulo e na USP. Ex-secretário de Educação, Cultura e Esportes de São Bernardo e Mauá.

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