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A natureza da crise e sua compreensão

Coordenador da Cátedra Celso Daniel, da Umesp, analisa a conjuntura internacional

                                                                                              * Luiz Roberto Alves

Início de ano, guerras, fome, dúvidas, mortes abundantes de inocentes, novos governos nas cidades do Brasil, a mesmice nos fóruns econômicos dos países ricos e as alternativas do FSM em Belém do Pará. Alguns fatos são saudados; outros fortemente lastimados. Bom momento, no entanto, para se ter visão geral do ano de 2009 e, a despeito das muitas seqüelas da crise (ou por causa dela) traçar rumos para o bem comum e as coisas públicas.
 

Jornais europeus e o Wall Street Journal apresentam dados e fatos que vale a pena analisar. Os efeitos da mal chamada crise financeira durarão pelo menos dois anos, mas o capitalismo neoliberal pode gostar do que fez e refazer crises a fim de criar vários territórios de apartheid, de exclusão. Evidentemente, durante 2009 os investimentos maciços dos governos – até agora 2 trilhões de dólares entre EUA, União Européia, China e Japão -   produzirão respiros econômico-financeiros, mas a custo de grande aumento do déficit dos governos para 2010. O problema não é somente que as famílias vão comprar menos (afinal, 30 milhões de pessoas perderão empregos segundo organizações confiáveis, como OIT!), mas sim que haverá menos investimento para fazer girar a economia: produção, comercialização e consumo. Países que buscaram cumprir com sua obrigação no gerenciamento equilibrado da economia, como o Brasil, também terão taxas medíocres de crescimento das riquezas e amargarão desemprego e diminuição de salários, pois o mundo financeiro de 2009 revelará o seu saco sem fundos, uma sangria para o investimento das finanças dos povos. Há expectativa de grandes movimentos de jovens, de tipo inverso aos de 68-69, isto é, de ideológico para mudar mentalidades para pragmático para mudar comportamentos políticos. O movimento mais típico é o dos estudantes gregos. O fato é que toda a juventude mundial será especialmente penalizada na busca de empregos e a formação universitária terá de descobrir e revelar outros valores para se manter. Os imigrantes continuarão a se mover freneticamente (movimento inverso à metáfora do Êxodo, muito trabalhada pela Teologia da Libertação nos anos 60) e vão se constituir como moradores de segunda classe, ou décima, mesmo no mundo europeu que garante a circulação de pessoas. Na França, Suíça e Itália os hospitais deixariam de funcionar se os estrangeiros os abandonassem. Ainda assim, a cidadania planetária é utopia e risco. Os municípios, onde estão os cidadãos, somente darão respostas com alguma qualidade para seus moradores se agrupados por políticas integradoras de base regional, mas ainda há muita desorientação acerca desses projetos. As cidades teriam de pensar todos os seus projetos como alternativas ao modelo neoliberal que, embora entre em colapso no geral, pretende ficar incrustado nas periferias. Ocorrerá que pessoas e famílias sejam levadas (mesmo nas classes médias) a uma vida frugal, mais simples, e os sindicatos terão de engolir muitos sapos diante da iminência da perda brutal de empregos. No entanto, poderá não existir contrapartida dos poderes políticos e aí teremos somente acúmulo de miséria. A mobilização política seria indispensável na direção da plena cidadania, com transparência e controle da economia social a partir das bases da sociedade.
 

Acima de tudo, carece-se de compreender que esta crise não será explicada por economistas eles mesmos. Somente um conjunto de saberes e de atores sociais será capaz de compreender e conhecer caminhos de superação e prevenção de apartheids planetários. Especialmente os saberes que vêem do mundo do trabalho.
 

* Luiz Roberto Alves é coordenador da Cátedra Gestão de Cidades da Universidade Metodista de São Paulo.

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