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A compreensão da cidade e o lixo

Por Anderson Rafael Nascimento

Já faz um tempo que a varrição das ruas deixou de ser realizada pelo Estado e foi transferida para organizações sociais ou empresariais. O problema é que, nessa transferência, o controle social é o aspecto menos valorizado.

A formulação dos contratos entre as prefeituras e as empresas ainda não alcançou um nível de maturidade que contemple a transparência necessária nas ações públicas por parte das empresas e responda às necessidades dos beneficiários dos serviços. Digo isso porque ainda falta, nos instrumentos jurídicos, espaço para o planejamento de indicadores de resultados, aspecto a ser compartilhado entre governo e sociedade. Tal ação parte de uma gestão compartilhada construída pelo exercício político.

O lixo jogado nas ruas demonstra uma falta de conscientização individual em relação ao papel de cada um na construção e organização do espaço da cidade. A realidade é que falta às pessoas a importante percepção de que a cidade que sujam é a mesma em que moram, trabalham e vivem.

Essa carência de civilidade aumenta o trabalho dos serviços de varrição, que passa a ser um exercício quase que eterno, pois nunca alcança um resultado satisfatório. Neste sentido, fica claro que a cidade carece de comunicação educativa que demonstre às pessoas o seu papel na construção do espaço como um todo e na preservação do ambiente.

É impossível negar que uma cidade do tamanho de São Paulo sofre os efeitos de sua imensidão. E isso porque as pessoas normalmente não se sentem incluídas no gigantesco território em que conduzem as suas vidas.

A metrópole engole todas as representações e desencanta ações integrais. A compreensão da cidade ou do espaço em que vivemos se faz por meio de ação local e interessada.
A gestão da cidade por aqueles que convivem em seu território é uma das formas de reapropriar o espaço da vida, por parte de cada um que a compõe.

E, por meio dessa ação e ativando os espaços da metrópole, é possível chamar os cidadãos - beneficiários da limpeza pública - para, por exemplo, criar indicadores de sua satisfação e acompanhar a prestação de contas públicas das empresas contratadas.

Para que esses indicadores pudessem fazer diferença no cotidiano de cada cidadão, neles poderiam ser previstos fatores como a comunicação educativa, com vistas à diminuição paulatina dos serviços de varrição e dos recursos gastos nos contratos.

* Anderson Rafael Nascimento é professor do curso de Gestão Pública da Universidade Metodista e pesquisador da Cátedra Gestão de Cidades.

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