Educação a Distância é defendida pela inclusão universitária que promove
03/06/2019 15h40 - última modificação 10/06/2019 13h14
15º Seminário ABED, sediado na Metodista, debateu futuro da modalidade e como qualificar a oferta (Fotos Malu Marcoccia)
A Educação a Distância não cresce só pela mensalidade cinco vezes menor, em média, do que nos cursos presenciais ou pela flexibilidade de horários que facilita estudar a qualquer tempo. Sua principal virtude está no acesso de milhares de brasileiros a um diploma universitário, seja incluindo a população de baixa renda aos estudos, seja oferecendo cursos em localidades distantes dos centros urbanos.
“Mais de 50% das cidades brasileiras não têm cursos superiores, por isso é importante salientar que a EAD está onde o ensino presencial jamais estaria”, enfatiza Nelson Boni, executivo do Grupo Educamais, que projeta para futuro próximo o fim da dicotomia EAD versus presencial, já que isso significa apenas que alunos e professores estão em tempos e lugares diferentes.
“Não fosse a EAD, os atuais 1,8 milhão de estudantes não teriam oportunidade de estudar num curso superior. 21,7% da graduação universitária são pela EAD hoje”, enfatizou Boni, que coordenou mesa redonda sobre Futuro da EAD no Brasil na tarde de 28 de maio, durante o 15º Seminário Nacional ABED sediado na Universidade Metodista de São Paulo.
O gestor da Educamais entende ser irrelevante a discussão sobre a explosão de polos a distância no Brasil – de 6 mil para 29 mil em poucos anos -, já que o marco regulatório autoriza essa abertura. Para ele, a EAD não rouba vagas do presencial, pois a média de idade dos alunos da modalidade está em 32 anos. “Quem estuda a distância estava fora da idade escolar”, insistiu, enumerando ainda benefícios como mais densidade de conteúdo, já que o aluno é quem determina o que estudar e pesquisa além da sala de aula, assim como o acesso digital, a tutoria, chats e fóruns - ferramentas ausentes no ensino presencial.
Rede pública carente
Já Elisa Teixeira de Faria, da PUC de Belo Horizonte e digital influencer, colocou ressalvas sobre a infraestrutura pública de regiões mais afastadas para oferecer inclusão educacional de qualidade. Mencionou a Região Norte, onde das 29,4 mil escolas da Educação Básica, apenas 6,6 mil têm acesso à internet, das quais 4,6 mil com banda larga. “Ou seja, só 21% dos alunos estão se adaptando para fazer uma faculdade EAD”, lamentou ela, acrescentando ainda o sério problema social em Manaus, por exemplo, onde apenas 6% da população tem saneamento básico.
Elisa Faria propõe o trabalho voluntário para cobrir a carência de ações públicas, sugerindo que educadores promovam aulas grátis pela internet ou polos de apoio itinerantes, com ônibus e bibliotecas. Ela mesma soma 104 mil alunos e 18 milhões de acesso em seu canal no Youtube de aulas gratuitas de Direito Administrativo para exame de OAB e concurso público.
Já Daniel Pedrino, da Rede Descomplica, plataforma de preparação para o vestibular, destacou a importância de conteúdos e linguagem atraentes para a aprendizagem digital. Atribuiu o número de 60% de evasão universitária ao padrão de aula EAD, que a seu ver é “só uma aula presencial gravada”. Citou como alternativa a dinâmica do Descomplica, cujo modelo definiu como “educação espalhada”, na qual aluno aprende com aluno, professor aprende com estudante e vice-versa de forma aberta e avaliações em tempo real. “”Professores de história, química e biologia dão aulas interdisciplinares direto da Amazônia. A dupla sertaneja Fernando e Sorocaba gravou música sobre o que é efeito estufa”, citou.
Docentes EAD
Reforçando a importância da Educação a Distância num país continental como o Brasil, professor Aurélio Wander Chaves Bastos, do Instituto de Pesquisa Científica do Rio de Janeiro (IUPERJ), citou que é da EAD que sai a maior parte dos professores brasileiros de Ensino Médio e Fundamental. “Em 2017, 46% dos licenciados foram formados por Educação a Distância” – citou, dizendo que essa tradição remonta aos primeiros docentes no Brasil, então formados em cursos livres.
Aurélio Bastos fez um histórico da legislação da modalidade, prevista já na Constituição de 1988 que preparou o terreno para a LDB de 1996, depois lei de 1997, a promulgação em 2005 e efetivação em 2006, todas fixando que o ensino a distância deve estar preocupado com a realidade social do educando. O professor criticou a resistência de áreas do conhecimento em aderir à EAD, como o Direito. “O problema das faculdades de Direito não é com a qualidade das aulas a distância, mas sim com a modernidade, porque essas IES não são exigidas no campo da tecnol ogia”, apontou.
Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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