Apresentação
As comunidades religiosas são profundamente expressivas. Elas produzem textos, rituais e artefatos dos mais variados tipos. Tradicionalmente, os estudos de religião privilegiavam os materiais escritos produzidos pelas comunidades religiosas.
Havia, é verdade, uma consideração gestual e da oralidade. Mas essas eram entendidas sempre em relação com a escrita ou com as escrituras.
Sua referência na análise era constituição semiótica dos textos escritos das religiões. As religiões de comunidades sem escrita ou que se constituem da oralidade e da gestualidade eram vistas como desprovidas de estruturalidade.
Desde a virada visual, no entanto, esse quadro mudou drasticamente. Nas ciências humanas, a partir dos anos noventa, houve uma guinada nos estudos de imagens, da visualidade e da arte. Criou-se um campo de estudos intitulado: cultura visual. Nele, as imagens não são mais consideradas como complemento de textos ou como substituto dos mesmos, mas ganharam um estatuto semiótico próprio.
Reconheceu-se que texto visual dispõe de estrutura própria, a partir de elementos que compõem as imagens e as práticas do olhar.
Nessa guinada também foi reavaliado o papel das imagens, da imaginação e do olhar na cognição humana. Novos campos são revalorizados, como o aspecto icônico e metafórico da cognição, da comunicação humana e mesmo da linguagem.
O estudo das imagens não ficou a partir daí restrito às especialidades da história da arte e à análise de características de artistas e estilos. Pelo contrário, além de uma nova consideração da arte nessa perspectiva semiótica, o olhar se expandiu para as imagens cotidianas e para as imagens do consumo da massa.
A virada visual não demorou a acontecer na relação com os estudos da religião e a encontrar as primeiras articulações nas Ciências da Religião. Seminários, cursos, congressos e publicações inauguraram espaços de interlocução e reflexão sobre as complexas relações entre as imagens e as religiões.
Elas cobrem um campo muito amplo, que vão da reavaliação da história da arte na perspectiva das compreensões religiosas de mundo, passando pela reavaliação semiótica visual de arquitetura religiosa, dos gestos e ritos das comunidades, até o uso profissional de recursos midiáticos para a sua articulação e comunicação.
Merece destaque também a inserção do conceito de religião como prática visual, que vai desde a devoção visual de imagens e espaços religiosos, até a piedade promovida e alimentada por objetos até então desprezados pela história da arte, como santinhos, chaveiros, adesivos para automóveis.
O que esses diversos artefatos visuais dizem sobre as pessoas e suas práticas religiosas? Ou melhor: como as práticas se constituem das práticas visuais? Qual o papel do espectador das imagens? Como ele as vê e as imagina? Aspectos materiais e visuais até então desconsiderados pelas Ciências da Religião ganham destaque nas análises.
Essas e muitas outras questões nos ocuparão na XIX Semana de Estudos de Religião, evento internacional anual do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da UMESP, que tem por tema: Religião: Cultura Visual & Cultura Material. Para tratar desses temas, contaremos com a colaboração e participação de especialistas nacionais e internacionais, das Ciências da Religião e de diferentes áreas do saber.