Metodista cria agenda positiva rumo aos 80 anos
23/01/2017 15h50 - última modificação 17/05/2017 14h18
Se a história servir como guia, a Universidade Metodista de São Paulo começa a impulsionar novos passos na corrida rumo aos 80 anos de fundação a serem completados em 2018. Transformar projetos comunitários em campus avançado de educação, potencializar aulas por meio de estratégias como PBL (Aprendizagem Baseada em Problemas), maior centralidade no aluno e na construção de cidadãos críticos, transformar espaços de passagem ou ociosos em áreas de convivência e estudos e, principalmente, estimular maior integração entre as cinco Escolas que compõem a universidade com a instalação, inclusive, de um fórum mensal de troca de experiências são sugestões que vão guiar as atividades do ano letivo de 2017.
Este foi o resultado dos debates que reuniram dias 19 e 20 de janeiro coordenadores de cursos, diretores e reitoria em torno do PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional), espécie de carta de navegação da Metodista, que completa 20 anos neste 2017 atuando com status de universidade. O objetivo do encontro do PDI foi mudar a perspectiva negativa do cenário econômico brasileiro e abraçar com otimismo seus pontos de apoio Missão-Visão-Valores, colocando de pé novos planos de ação em uma agenda positiva. O próprio PDI 2017 ganhou tom de novidade ao abrir pela primeira vez o diálogo da reitoria com diretores de escolas e coordenadores de cursos.
“Precisamos nos reinventar sempre. Em qualquer escola há restrições financeiras, mas temos que correr riscos, criar novas possibilidades”, incentivou o reitor interino Fábio Josgrilberg, também coordenador de Pós-Graduação e Pesquisa.
Ambientes compartilhados
Potencializar ambientes compartilhados da universidade é uma das iniciativas para a Metodista avançar na sua biografia. Espaços que unem teoria e prática como Policlínica, Agicom (Agência de Comunicação Integrada), Sala de Projetos, Observatório Econômico, Escritório de Assistência Judiciária e Agência Metodista de Consultoria, entre outros, são muito bem avaliados pelos alunos, descreve professora Vera Gouvea Stivaletti, coordenadora de Graduação e Extensão. “É onde eles mais enfatizam o aprendizado”, cita, com base em dados da Autoavaliação Institucional feita anualmente com alunos e professores.
Com baixo custo devido ao reaproveitamento de materiais e espaços existentes, professora Andrea Leite, do curso de Gestão de RH, propõe que a Sala de Projetos no campus Vergueiro seja replicada no Rudge Ramos e Planalto. Trata-se de um ambiente de aprendizagem interativa, dotado de Ipads e Datashow com internet. Ela também sugere parcerias entre os próprios cursos, como as estabelecidas com Comunicação (a partir da qual surgiu o programa de rádio Pergunte ao RH) e com Direito, da qual brotou projeto de audiências trabalhistas com presença de juízes profissionais.
Professor Douglas Murilo, coordenador do curso de Administração, entende que pode ser reeditada em outras graduações experiência com a Incubadora de Empreendimentos Solidários SBCSol mantida pela Prefeitura de São Bernardo e que envolveu durante quatro anos 40 alunos, professores e pesquisadores, além de ter beneficiado 400 moradores, sobretudo recicladores de resíduos. A Metodista ensinou métodos de gestão e organização aos empreendimentos.
Já professor Paulo Garcia, da Escola de Teologia, acha que a universidade deve abandonar a relação vertical professor-aluno da sala de aula e permitir que estudantes frequentem módulos de outros cursos para complementar a formação. “É uma construção partilhada, uma aproximação de saberes que enriquece a todos”, define.
Design Thinking
O novo PDI da Metodista envolve uma série de ações nos três níveis institucionais: curso, Escola e instituição. O cronograma até agosto é composto de um mês de reflexão, dois meses de pesquisa e entrevistas, um mês de brainstorming e, por último, a definição de metas em cada um desses níveis. A intenção é fazer um planejamento que integre todas as Escolas e siga os preceitos de Confessionalidade, Educação e Gestão.
Esse documento será pensado utilizando Design Thinking, uma abordagem que permite compreender as necessidades dos alunos, adaptar os serviços e manter um processo de inovação contínuo, seguindo os passos de ouvir, criar e entregar. “Precisamos aumentar nosso nível de confiança e capacidade criativa”, explicou o reitor em exercício Fábio Josgrilberg.
Para isso, cada curso deverá entrevistar quatro alunos, quatro funcionários, quatro professores e dois especialistas da área para compreender as necessidades de alunos, docentes e mercado. Equipes de acompanhamento serão disponibilizadas para cada Escola e coordenadores de curso poderão solicitar workshops e palestras sobre temas como Design Thinking e diversidade na educação, por exemplo.
Aumentar a carga dos projetos de extensão e comunitários é outra ideia lançada no horizonte de curto prazo, começando com iniciativa já praticada por alunos de Direito que prestam assistência jurídica a moradores do pós-balsa em São Bernardo. Segundo a coordenadora de Graduação e Extensão, Vera Stivaletti, o projeto será transformado em um campus avançado, com outros cursos interagindo nessa comunidade como um Rondon Regional, citou.
Ações como essas diferenciam a Metodista na educação superior, segundo a coordenadora de Mestrado e Doutorado em Educação, professora Roseli Fischmann. Ela define a Metodista como uma instituição de pesquisa e extensão, que está à frente do que chama de “cursos de ensino” cujo foco é apenas lucro. “Cursos ligados à pesquisa têm muito mais valor e prestígio. É preciso diferenciar uma instituição reprodutora de ensino de uma instituição produtora de conhecimento”, descreveu professora Roseli, incentivando o lato e stricto sensu a dialogar mais com as graduações. “A pós não tem que se preocupar só com pesquisa. Tem que se envolver com reflexão e formação de um aluno interessado, cidadão e crítico”, disse.
Metodologia ativa
Outras estratégias pedagógicas para dinamizar a prática educativa foram enumeradas pelo coordenador da Escola de Ciências Médicas e da Saúde, Rogério Bellot, entre as quais as salas invertidas (a primeira aula com práticas que estimulam a curiosidade e a aula seguinte conceituando a experiência com teorias). Também foi enfatizada a metodologia ativa, pela qual o aluno é o centro do processo ensino-aprendizagem e o professor passa a ser o mediador do conhecimento.
Ganhou ênfase ainda o método PBL (um problema é a origem de projetos e soluções) como forma de aguçar o interesse pelas aulas. Professor Bellot vê pontos positivos como autonomia para o aluno para realizar atividades, mas também restrições como ensino muito focado e não ampliado para conhecimentos além do aplicado no mercado de trabalho.
Professor Carlos Santi, da Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação, incentiva o método PBL, bastante utilizado em universidades internacionais de engenharia. “Engenheirar é de fato criar soluções, mas temos debatido em congressos que não basta ter alta bagagem técnica, ser profissional qualificado e centrado se o engenheiro não tiver competência relacional. É preciso saber se relacionar e trocar experiências, não apenas relatá-las. E cada vez mais queremos transformar as experiências dos alunos e docentes em pesquisa e extensão prática”, descreveu.
Socializar os relatos e práticas de cada Escola da Metodista na forma de encontros mensais e até promover um momento institucional uma vez por ano foi consenso nos debates da tarde de 19 de janeiro. A coordenadora de Mestrado e Doutorado em Educação, professora Roseli Fischmann, pretende inclusive organizar um livro anual reunindo as experiências.
Relação com tecnologia
Luciano Sathler, diretor nacional da Educação a Distância, entende que o cenário econômico não deve amedrontar: “Estamos em um momento oportuno para nos repensarmos. A crise é a chance para reinventar e temos que ousar sonhar”, entende. O diretor de EAD destaca que, apesar de fazerem parte da sociedade da informação, as Escolas Metodista ainda seguem o modelo da sociedade industrial. “A forma como as pessoas aprendem muda de acordo com nossa relação com a tecnologia. Temos que nos preparar para o futuro e para isso temos que aprender permanentemente”, convidou.
Apesar de estar sempre atualizada com as inovações, para a Educação Metodista é imprescindível seguir os conceitos wesleyanos, segundo Nicanor Lopes, diretor da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades. “Não podemos abrir mão da tecnologia, mas ela não pode dominar nossas ações. A tecnologia não pode dominar nossa humanidade, não pode substituir a sensibilidade humana”, declara.
Professor Nicanor Lopes defende que um valor inegociável da Metodista -- articular a fé pelo amor -- precisa estar presente nas bases da instituição. “Não podemos negociar valores. Como educadores, precisamos ter atitudes de compaixão e libertação para habilitar pessoas e não podemos fazer isso sem ouvi-las”, completa.
Presente durante toda a discussão, a mantenedora das instituições de ensino metodistas – IMS - está acompanhando os planejamentos e mudanças que serão realizados na Universidade Metodista de São Paulo. “Apoiamos todo esse processo de reflexão e estamos aqui para ouvir, entender e aprender. Acredito que estamos seguindo para bons caminhos e teremos bons resultados”, afirmou Robson Ramos de Aguiar, diretor geral do IMS.
84% das metas alcançadas
Fazendo um inventário das ações ao longo da última década, professora Vera Stivaletti anunciou que 84% das propostas idealizadas em 2007 foram atingidas até 2015. O ano de 2016 ainda está em apuração. A coordenadora de Graduação e Extensão enumerou que nenhuma vaga na Metodista foi cancelada pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), não houve nenhum conceito insatisfatório no CPC (Conceito Preliminar de Curso) que integra o Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e vários cursos conquistaram notas máximas 4 e 5.
Também falou da introdução dos PAPs (Projetos de Aperfeiçoamento Profissional) nos cursos de tecnólogos, mais intercâmbios para aperfeiçoamento no exterior e dupla-titulação, formação de professores com programas de licenciatura e agora a 2ª licenciatura, além da duplicação para 72 polos de Educação a Distância. “Não podemos planejar o futuro desconsiderando esse passado”, afirmou.
O reitor Fábio Josgrilberg acrescentou que o horizonte está aberto a ações novas e diferentes, desde que não mexam no código genético da Metodista, que contempla valores como ética, confessionalidade, consciência crítica da realidade e socialização do conhecimento, entre outros.
Em 2017, a Universidade Metodista de São Paulo completa 20 anos como universidade, mas sua história remonta a 1938, com a implantação da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista em São Bernardo, primeiro curso superior no município. À época, a Igreja Metodista acabara de fundir dois centros de ensino teológico, localizados em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, e era interesse expandir a vocação educacional com projeto pedagógico de excelência que a fez conquistar, em 1997, o status de universidade. São hoje quase 21 mil alunos entre graduação e pós-graduação lato e stricto sensu, com mais de 60 cursos em oferta.
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