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Espaço Consciência Negra reabre com palestra do youtuber AD Júnior

Influenciador digital acredita que a internet é fundamental para combater o racismo no Brasil

23/04/2018 15h50 - última modificação 23/04/2018 15h49

AD Júnior crê que houve uma política deliberada de eugenia no Brasil

Depois da exploração da terra e das riquezas naturais utilizando por 400 anos mão de obra escrava, o Brasil não se redimiu com a libertação dos negros por meio da Lei Áurea. Ao contrário, a partir de 13 de maio de 1888 os negros passaram de “empregados maravilhosos” para “preguiçosos e bandidos”, construindo-se desde então preconceito difícil de combater, protesta o pesquisador sobre racismo, eugenia e intolerância religiosa AD Júnior, que utiliza principalmente a internet como plataforma para propagar o que chama de “a história dos negros no Brasil contada por negros”.

AD Júnior falou a alunos da Universidade Metodista de São Paulo na noite de 20 de abril, no relançamento do Espaço Consciência Negra da instituição, destinado a refletir e a dialogar sobre temas ligados a uma população que representa 54% no Brasil. A retomada do ECN - criado em 2.006 mas descontinuado dois anos depois - tem à frente novamente o NAC (Núcleo de Arte e Cultura), com apoio de docentes da Escola de Teologia. “É um espaço coletivo para que negros e brancos se aprofundem nos debates”, define a arte-educadora e coordenadora do NAC, Cláudia Cezar.

Panelista e apresentador, youtuber com 15 mil inscritos e perfil no Facebook com outros 40 mil seguidores, AD Júnior acha que as redes sociais são as grandes plataformas para vencer o abismo social e racial no Brasil, na medida em que multiplicam e dão visibilidade às discussões. “Nunca como agora se fala tão abertamente sobre racismo e é preciso mudar a partir deste momento”, destacou, citando, entre outros, que são negros 77% dos jovens assassinados no Brasil com armas de fogo.

População embranquecida

O estudioso sobre o movimento negro comentou que essa população sempre foi associada à violência e à desigualdade social, num cenário arquitetado intencionalmente desde os brancos colonizadores. Citou que uma política de eugenia (purificação de raças) se instalou no final do século 19 com a libertação dos escravos, na medida em que governantes passaram a estimular casamentos de negros e europeus com vistas a uma miscigenação “embranquecedora” da população.

“Arthur de Gobineau, que veio para a corte de D.Pedro I, escreveu ensaio dizendo que negros são raça inferior, difícil de ser civilizada. Em 1911, no Congresso Internacional das Raças em Londres, que discutiu como acabar com os negros no Ocidente, o Brasil foi representado por João Batista de Lacerda, cuja tese era do cruzamento racial para branquear a população”, apontou, dizendo que outro exemplo de como o Brasil “queria ser branco” está no estímulo, inclusive financeiro, à vinda de imigrantes europeus, ignorando toda a contribuição negra até então.

Ad Júnior citou como livros escolares de Ciências Sociais e de Geografia incentivaram o preconceito, ensinando que negros seriam “grotescos e feios”, enquanto os brancos eram definidos como mais inteligentes, belos e empreendedores. O youtuber também polemizou sobre as cotas universitárias que teriam contemplado apenas 150 mil negros num universo de 2,7 milhões oferecidas entre 2005 e 2015, incluindo deficientes, índios, baixa renda e estudantes de escola pública, entre outros.

O Espaço Consciência Negra na Metodista é aberto a todos os interessados. Contatos podem ser feitos com Cláudia Cezar (NAC) no telefone 4366-5998 e Lidia Maria de Lima (da Escola de Teologia), no 4366-5868.

Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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