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Inovação na área educacional

08/12/2014 09h19

Wenovate: Na sua opinião, que fatores podem limitar projetos inovadores?

Fabio B. Josgrilberg: A cultura escolar ou universitária foi sedimentada ao longo dos séculos. Nisso reside a sua força e o seu limite. Goste-se ou não, foi essa cultura que fez a sociedade avançar em diferentes áreas. No entanto, a força da cultura local, seja do ponto de vista administrativo, educacional ou de pesquisa, pode ser um fator limitante para projetos inovadores.

Não se deve desprezar a memória local. Ao contrário, ao aprender novas estratégias de inovação aberta, design centrado no usuário, brainstorming, crowdsourcing etc., deve-se ter claro que não há processo criativo que não faça recurso à memória coletiva institucional e à individual cotidiana. É pela memória que os problemas a serem resolvidos são identificados e as conexões estabelecidas para semear o futuro.

Wenovate: Para inovar basta ter uma boa ideia?

Fabio B. Josgrilberg: Ter ideia é mais simples do que inovar. A inovação exige estratégias para levar uma boa ideia adiante e transformá-la em um novo serviço educacional ou prática pedagógica institucional.

É claro que há inovadores e empreendedores locais que promovem a inovação na escola ou universidade sem necessidade de capacitações formais. No entanto, a existência de workshops e treinamentos sobre estratégias de inovação ajudam a difundir a cultura e ampliar o horizonte de reflexão dos colaboradores.

Wenovate: Que importância você atribui à comunicação interna/externa no processo de inovação?

Fabio B. Josgrilberg: O processo de inovação exige fluxos comunicacionais intensos. No ambiente educacional, essa regra não poderia ser diferente. Deve-se ter coragem para expressar ideias e humildade para ouvir outras propostas, críticas e sugestões.

As ideias podem vir dos diferentes atores do processo educacional: alunos, docentes, gestores, funcionários, fornecedores, instituições parceiras ou mesmo visitantes. No caso de instituições dependentes de mensalidades para a sua sustentabilidade financeira, deve-se incluir ainda os concorrentes. Não faz sentido esperar ideias novas sempre das mesmas lideranças acadêmicas e administrativas. Por exemplo, que tal um crowdsourcing entre alunos para resolver problemas didáticos?

Wenovate: Quando se fala em inovação, é importante se permitir correr riscos?

Fabio B. Josgrilberg: Sem dúvida. Não raramente a organização das instituições de ensino tolhe a criatividade. As disciplinas são organizadas para atingir objetivos pedagógicos previamente determinados e posteriormente premiados com a aprovação. O mesmo acontece com teses e dissertações. Não se deve abrir mão de objetivos pedagógicos, mas incluir um novo: assumir riscos.

Permitir ao aluno assumir riscos em seu processo de aprendizagem por meio de projetos individuais ou em grupo cujos objetivos pedagógicos são definidos por eles. Permitir ao docente assumir riscos em novas propostas de ensino-aprendizagem.

Aqui, deve-se valorizar o processo de construção. No curto prazo de uma disciplina, talvez não haja tempo para avaliar os resultados, mas o esforço e risco de criação de algo novo trará um aprendizado inestimável para alunos e docentes, mesmo que o projeto “falhe” em sua conclusão. Contudo, “corre-se o risco” de semear um processo transformador da vida instituição.

Wenovate: Que outros fatores podem inibir a inovação em sala de aula?

Fabio B. Josgrilberg: Costumo dizer que é preciso valorizar as “fadas” e não caçar as “bruxas”. Os projetos inovadores na sala de aula começam, em geral, em menor escala, seja por meio de projetos-piloto institucionais, seja por iniciativas isoladas de docentes e estudantes. Essas iniciativas devem ser reconhecidas, promovidas e, sempre que possível, valorizadas com incentivos de diferentes naturezas – financeiros, equipamentos, recursos humanos para apoio ao projeto.

Há docentes que inovam em suas práticas educativas, mas podem ver suas iniciativas inibidas pela burocracia institucional. Outros colaboradores inovadores podem ver suas ideias ameaçadas por pressão de pares que criam cenários futuros trágicos, impedindo qualquer alteração das práticas estabelecidas.

Em lugar de “caçar as bruxas”, é muito melhor valorizar e proteger as “fadas”. É sempre mais efetivo disseminar uma cultura inovadora por meio de exemplos de pares e casos de sucesso.

 Fonte: Wenovate