Busca por ambiente ético valoriza profissionais de auditoria e compliance, diz especialista
06/09/2016 17h55 - última modificação 06/09/2016 18h32
Nada menos que 66% dos trabalhadores brasileiros aceitariam infringir alguma lei ou regra interna corporativa “dependendo da circunstância” e 6% praticariam irregularidades “sem hesitar”, revela pesquisa da ICTS Protiviti feita em 2015, no auge das ações da Operação Lava Jato, que desvendou uma rede de corrupção dentro da estatal Petrobrás. Foi em torno dessa investigação que o sinal amarelo começou a piscar mais intensamente nas empresas brasileiras, até então pouco atentas aos riscos financeiros e de imagem vindos de atitudes antiéticas dos colaboradores.
“Auditores e compliances passaram a ser profissionais dos mais requisitados ultimamente. As empresas passaram a questionar se, além de os executivos tomarem as melhores decisões para a companhia, estão dentro da lei e das regras aplicáveis”, descreveu Marcelo Rosa, office compliance da Volkswagen do Brasil, em palestra a alunos de Administração da Educação Metodista a Distância na noite de 5 de setembro último.
Pelo menos três desvios colocam a governança corporativa sob risco. Primeiro, decisões enviesadas tomadas devido a conflitos entre interesse pessoal em prejuízo dos interesses da empresa. Por exemplo, a aceitação (ou oferecimento) de propina em uma licitação. Segundo, a limitação técnica do funcionário sobre determinados assuntos, o que o leva ao erro. Terceiro, o viés cognitivo, pelo qual o colaborador ou grupo de colaboradores têm excesso de confiança sobre determinado tema ou pensam de forma homogênea, o que induziria a práticas irregulares, descreveu o palestrante.
Treinamento e comunicação
Segundo Marcelo Rosa, cuja exposição versou sobre ‘Governança, Risco e Compliance nas Organizações’, o treinamento dos funcionários e um bom plano de comunicação sobre o que é ilegal e quais são as punições e ônus fazem parte das boas práticas de compliance (do verbo to comply, que significa agir de acordo).
“É preciso atuar sobre esses 66% de trabalhadores indecisos que, se tiverem uma oportunidade, podem agir errado”, orientou o executivo, ao dizer que não há um projeto acabado de compliance, pois depende da atuação de cada empresa. As que movimentam R$ 10 mil por mês, por exemplo, dificilmente praticam lavagem de dinheiro, enquanto o treinamento anticorrupção é indicado para corporações que participam de licitações públicas que, conforme mostrou a Lava Jato, podem levar a pagamento de propinas e combinação de preços, exemplificou.
Agir eticamente deve ser compromisso assumido a partir da alta direção, dita outra boa prática de compliance. Analisar as áreas de risco (identificando onde estão as vulnerabilidades para o desenvolvimento de atitudes antiéticas), criar políticas e procedimentos a seguir e deixá-los bem claros à equipe são outras recomendações. Abrir um canal para denúncias também é importante para que a empresa identifique onde estão as irregularidades, mencionou Marcelo Rosa, citando que a partir desse mapeamento deve-se iniciar investigações, monitorar e acionar a auditoria.
“Outra ação importante é o duo-diligência, pelo qual se pode envolver fornecedores e outros públicos que se relacionam com a empresa a aderir às boas práticas”, citou o executivo da Volks, especialista em Governança Corporativa e Compliance pelo Insper e em Compliance pela Society of Corporate Compliance and Ethics, dos Estados Unidos, entre outros.
A palestra integrou o calendário de comemoração pelos 10 anos de Educação à Distância da Universidade Metodista de São Paulo e também pelo Dia do Administrador, celebrado em 9 de setembro. Marcelo Rosa falou dentro de um circuito de teleaulas com o tema ‘Encurtando Caminhos para o Sucesso Profissional”.
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Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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