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Israel - Laquis - B

Milton Schwantes

Nome

Cinco cartas de Tel Amarna mencionam lakix. A localidade já existia, pois, na segunda metade do segundo milênio. Os assírios a nomeiam como lakisu. Há quem diga que a palavra teria sua origem em línguas da Ásia Menor, sendo lingüisticamente semelhante por exemplo a Cárquemis.[1]

A que tel corresponde a Laquis?

Houve debates a respeito da localização da Laquis bíblica, já há uma certa diversidade de colinas/tel da região sudoeste da Sefelá, nas quais uns e outros entendiam estar encontrando a Laquis.[2] Enfim se impôs, hoje com relativo consenso, localizar o Laquis bíblico num tel atualmente designado em árabe de tel ed-duwer, usa-se chamar, hoje, este tel de tel lakix.

Localização

Laquis não é um tel que se vê de longe. Antes situa-se num vale. Sobressai com seus 40m de altura, a uma altitude de 250m acima do nível do mar, ocupando uma área de 7,2 hectares. Há quem compare ao impactante tel de Laquis com um leão na espreita, um tanto escondido nas colinas da Sefelá.[3]

Laquis está a 18km a ocidente de Hebrom.

Escavações

A primeira etapa das escavações ocorreu em 1932-1938, sob a direção de J.L.Starkey. Esta primeira escavação foi abruptamente interrompida pelo assassinato de seu diretor em 10 de janeiro de 1938. A continuação dos trabalhos coube a L.Harding até setembro de 1938. A publicação dos resultados destas escavações, em quatro volumes, se deve à sra. O.Tufnell.

De 1966 até 1968 as escavações estiveram sob a direção de Y.Aharoni.

Em 1973 iniciaram as escavações sob a coordenação de D.Ussishkin. Estas duram, pelo que consta, até os dias atuais.

Períodos de ocupação do tel de Laquis

As escavações já feitas, que comparativamente são amplas, permitiram propor uma estratificação confiável:

Estrato período datas tipo de assentamento

VIII - bronze médio IIB - 1700-1550 - cidade com muro
VII - bronze tardio IIA - 1400-1300 - ?
VI - bronze tardio IIB - 1300-1180 - sem muro (?)
V - ferro IIA - 950-900 - palácio-fortaleza
IV - ferro IIB - 900-800 - cidade fortificada com palácio
III - ferro IIC - 760-701 - cidade fortificada com palácio
II - ferro IIC - 650-587 - ?
IA período persa - 500-330 - residência persa
IB - período helenista - 330-150 - "templo do sol"

Daí se deduz que há dois momentos principais de ocupação de Laquis: nos dois séculos de 900 até 701, isto é, desde os começos do Reino de Judá separado de Israel até a destruição pelos assírios em 701. As demais ocupações do tel foram mais ou menos esporádicas ou restritas a alguma construção que combinava um palácio com um forte.

A segunda cidade no Estado de Judá no começo do 9o até o final do 8o séculos

As escavações não permitem dúvidas quanto à importância de Laquis, justamente na primeira fase do Estado autônomo após a separação do norte. De acordo às evidências arqueológicas Laquis é um centro urbano de grande relevância.

Mas, isso não é corroborado pela memória bíblica! Nos textos bíblicos esta cidade não é muito citada. Não lhe é dada grande relevância histórica. Aparece em meio a alguns textos, mas sem que encontrássemos uma só história que podéssemos alocar em Laquis. Não é uma central' das memórias colecionadas na Bíblia! Tão pouco está inscrito na trajetória da maioria dos personagens bíblicos. O que, aliás, é, novamente, um destes evidentes sinais de que os textos bíblicos não são expressão das instituições do estado e de seus esteios em meio à sociedade. Há, de fato, uma significativa defasagem entre a memória bíblica e a memória que as escavações arqueológicas nos trazem à tona. Isso não torna insignificante os dados obtidos sobre Laquis, mas evita que deles façamos de modo muito direto perspetivas hermenêuticas para ler os textos. Afinal, quem quisesse fazer de Laquis seu ponto de partida para ler trechos bíblicos, estar-se-ia assentando numa cidadela militar, para a partir dela pretender, ler a Bíblia. Os traçados bíblicas passam por outro viés. Mas, enfim, vamos às passagens que mencionam nossa cidade, cidadela, fortaleza:

Js 10,3.5.23.31-35; 12,11; 15,39;
2 Rs 14,19; 18,14.17; 19,8; Is 36,2; 37,8;
Jr 34,7;
Mq 1,13;
Ne 11,30;
2 Cron 11,9;
25,27; 32,9.

A Laquis do final do bronze tardio (já sem muro?) teve um fim dramático, o que é atestado pela camada de cinza que corresponde a este período.

Segue-se um hiato de dois a três séculos, em que Laquis não esteve ocupada por uma cultura urbana ou semi-urbana. A ocupação é retomada, em torno de 900 a.C., através de um palácio/fortaleza no centro do tel, portanto por uma edificaçã pública. E tais palácios=fortalezas irão caracterizar Laquis nestes próximos dois séculos, em que esta cidade foi a segunda mais importante cidade em Judá, somente suplantada por Jerusalém. Afinal, ela cobria a entrada e a saída ao sul, ao Neguebe e ao Egito. Esta era, em termos de estratégia militar-estatal, a porta sul de Judá. A porta norte era Jerusalém (veja Miquéias 1,9). Não será acaso que justamente nesta cidade tenha sido encontrado o mais poderoso complexo de portões de uma cidade judaíta e(!) israelita do período das monarquias.

As camadas arqueológicas IV e III, que correspondem ao período da monarquia de Judá, após a separação do norte, em 926 a.C., nos atestam uma impactante cidade-cidadela. Em seu centro está, sobre um elevado artificial formado de escombros de construções anteriores, um palácio/cidadela, com muros consideráveis e um glacis. Em suas imediações existem outras edificações públicas que há de ter servido como armagéns e estábulos.

Sim, Laquis não há de ter sido uma cidade de moradores, de cidadãos. Trata-se antes de uma guarnição militar, dominada por um edifício público e, de resto, ocupada pela guarnição, por soldados, armamentos e depósitos de alimento.

Miquéias, oriundo de Moresete-Gate, nas proximidades de Laquis e certamente um conhecedor da cidade em questão, vê nela carros de combate, cavalos e "habitantes", aliás, autoridades.[4] Lemos em Mq 1,13: "ata os corcéis ao carro, moradora de Laquis". Laquis como que é sinônima de carros de combate! A cidade era mesmo um quartel!

Em meados do 8o século tornaram-se necessárias as algumas reformas em Laquis. Seria conseqüência do terremoto mencionado em Amós 1,1?

Mas a ruína maior, quase definitiva representa a camada de escombros e cinzas oriunda da conquista assíria, em 701.

A conquista assíria de 701 por Senaqueribe

Inscrição no baixo relevo sobre o trono de Sanequeribe: "Sanequeribe, o rei do mundo, o rei da Assíria, sentou-se num trono, após o que os prisioneiros de Laquis passaram diante dele."[5]

...

7o e 6o século

Notas

[1] Veja a respeito Othmar Keel e Max Küchler, Orte und Landschaften der Bibel - Ein Handbuch und Studienreiseführer zum Heiligen Land, v.2 (= Der Süden), Benzinger/Vandenhoeck & Ruprecht, Köln/Göttingen, 1982, p.881-882.

[2] Veja a respeito Othmar Keel e Max Küchler, Orte und Landschaften, p.882.

[3] Esta é a expressão usada por Othmar Keel e Max Küchler, Orte und Landschaften para caracterizar Laquis (p.881).

[4] O termo "habitante" (yoxeb) aqui e em outros lugares da Bíblia há de ser sinônimo de "governante"/"administrador".

[5] Veja Israel e Judá - Textos do Antigo Oriente Médio, Edições Paulinas, São Paulo, 1985, p.77 (Documentos do Mundo da Bíblia, 2).

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