O extremo da vida em linhas curvas: Joe Sacco reúne seus quadrinhos em “Reportagens”

07/03/2018 12h15 - última modificação 07/03/2018 15h34

Vittória Cataldo

Hoje temos em nossas mãos diversos recursos para contar histórias. A infinidade de folhas e palavras com as histórias que os livros contam, os desenhos bem feitos que criticam uma situação que as charges contam. Temos as crônicas, os poemas e até mesmo as reportagens. E é justamente sobre reportagens que vamos falar.

Quantas maneiras os jornalistas encontram para produzir uma reportagem? Temos o som, a imagem, o texto e temos todos esses recursos juntos. Angeli utiliza do humor negro nas suas charges em “O Lixo da História”, já Joe Sacco utiliza o recurso das histórias em quadrinhos no seu livro “Reportagens”.

Joe Sacco formou-se em jornalismo pela Universidade de Oregon em 1981, mas logo deixou de lado a profissão para se dedicar à outra de suas paixões: as histórias em quadrinhos. Como quadrinista, ganhou visibilidade pela primeira vez com HQs satíricas e autobiográficas nas páginas da revista Yahoo, produzida e editada por ele entre 1988 e 1992. Foi nessa época também que surgiu seu interesse pela guerra e pelos efeitos que ela causa sobre as pessoas, que mais tarde o levaria a investigar o conflito entre israelenses e palestinos e a escrever e desenhar as histórias.

Em seu livro “Reportagens”, o quadrinista reúne diferentes reportagens em forma de quadrinhos, cada uma com um tema específico; porém, todas elas demonstram de modo muito direto os conflitos, a fome, a pobreza e toda a dor e a miséria causada por interesses de poder, guerras e diferenças sociais gritantes existentes em alguns países, como Índia e Iraque, por exemplo.

Sacco consegue transmitir assuntos sérios e relevantes, muitas vezes uma realidade completamente diferente da nossa no formato de quadrinhos com um olhar humanitário. Ele toma o cuidado de transmitir os dois lados das histórias e algo muito interessante é como Sacco desenha ele mesmoe faz com que participe do que está contando. Esse recurso, utilizado com inteligência, aproxima o leitor de cada situação que está sendo representada.  

Não vemos apenas as palavras, mas conseguimos enxergar nos rostos as expressões que também são muito bem retratadas.

Os desenhos são realistas e muitos tocantes, e as falas são duras e diretas. Por serem reportagens, possuem um conteúdo extenso, cujas informações, entretanto, são rapidamente absorvidas por serem apresentadas em forma de quadrinhos.

Foi uma combinação perfeita, nesse caso, dos desenhos e da escrita. Mesmo com as críticas sobre a credibilidade dessa forma de fazer jornalismo, Joe Sacco consegue com maestria nos transportar para realidades diferentes, mas não tão distante das nossas.

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Foto: Vittória Cataldo
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