Charges também contam histórias: Angeli narra uma década de conflitos em “O lixo da história”

21/02/2018 11h49

Foto: Vittória Cataldo

Vittória Cataldo 

O que é necessário para contar uma década de história? Muitas horas de pesquisas, uma vasta quantidade de papel em branco, uma mente focada e voilá. Só começar a escrever. As palavras vão fluir pelo papel, mas existe alguma outra maneira de contar história sem palavras? Ou com mínimas delas? Sim, e o chargista brasileiro Arnaldo Angeli Filho, que assina suas obras como Angeli, mostra exatamente isso em “O lixo da História”.

Um conjunto de linhas, retas e curvadas, que formam desenhos, algumas vezes usando poucas palavras e outras, nenhuma. É assim que Angeli narra uma década de história nas inúmeras charges que produz. Charge é uma ilustração humorística que envolve a caricatura de um ou mais personagens, feita com o objetivo de satirizar algum acontecimento da atualidade. 

Desde 2001, Angeli vem dedicando seu humor negro na política internacional norte-americana e nos conflitos no Oriente Médio, após o 11 de setembro. A política de guerra ao terrorismo de George W. Bush não é poupada. O chargista sempre retrata os anos 2000 como um período sujo, marcados pela presença constante de sangue e de um tratamento à vida humana como meros peões em um grande jogo.

O traço de Angeli descreve muito bem esse período. Sua arte, na maioria das vezes, não precisa de texto, fala por si só. A mensagem é clara. Nada é poupado, sejam governos, crenças, ideias. Angeli atira para todos os lados, e, absurdamente, quase sempre acerta.

Todas essas charges políticas que produziu para a Folha de São Paulo foram reunidas no livro “O lixo da História”, publicado pela Quadrinhos da Cia. O livro narra, em ordem cronológica, uma década de conflitos religiosos e militares entre os Estados Unidos, comandado pelo Presidente Bush, e o Oriente Médio. Conforme viramos cada página, acompanhamos vários acontecimentos que marcaram a história. Ao mesmo tempo, cada charge especificamente gera uma reflexão individual sobre conceitos religiosos, políticos, econômicos e culturais.

Angeli usufruiu daquilo que tem de melhor: seu humor. Satirizando momentos tensos da história para tornar-se de fácil compreensão a mensagem que deseja transmitir. Mesmo com o humor, “O lixo da História” deixa muito claro que os anos 2000 passaram muito longe de ser um período de paz em nossa história e relembra como vidas humanas são desvalorizadas em prol de interesses financeiros ou de poder.

 

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