O custo humano das guerras e o destino da humanidade pelas fotos de Lynsey Addario em “É isso o que eu faço: uma vida de amor e Guerra”

10/05/2018 12h09

Vittória Cataldo 

Lynsey Addario é uma fotojornalista americana que colocou suas experiências como fotógrafa de guerra em um livro. “É isso que eu faço, uma vida de amor e guerra” reúne seus conhecimentos dos conflitos que rodeiam o mundo, principalmente no Oriente Médio, como também diversas de suas fotos trágicas e emocionantes sobre a desordem da humanidade.

A fotojornalista ainda tentava se estabelecer no jornalismo quando os ataques do 11 de Setembro mudaram o mundo e o olhar da mídia sobre o Islã. Nessa época, por ser uma das poucas profissionais com experiência na área, ela já tinha ido ao Afeganistão, foi chamada de volta ao oriente Médio para cobrir a invasão americana.

“Naquele dia na Líbia, fiz a mim mesma alguns questionamentos que ainda me perseguem: porque você faz esse trabalho? Porque arrisca sua vida por uma foto?” 

Para esse tipo de profissão, o profissional faz uma escolha que se repete ao longo de sua carreira fotojornalística: abrir mão do conforto e da previsibilidade do dia a dia para viajar o mundo e registrar as mais duras verdades que nele acontece. No livro, ela deixa isso bem claro e como, em alguns momentos de sua vida, essa escolha foi difícil de ser tomada.

Lynsey inicia a narrativa relatando como se tornou uma fotógrafa de guerra e como se apaixonou por esse trabalho perigoso e difícil, nos aproximando não só da sua vida profissional como também da sua vida pessoal.

“Não estava pronta para abrir mão da minha vida, do meu corpo e das minhas viagens. Dei uma olhada na mulher radiante e com a barriga do tamanho de uma melancia. Aquilo iria mesmo acontecer comigo em nove meses? Daquele tamanho?”

Ela retrata os afegãos antes e depois do regime talibã, os cidadãos vitimados pela guerra e os insurgentes incompreendidos no Iraque, e outros conflitos como a cultura de violência contra a mulher no Congo e narra também o próprio sequestro, orquestrado pelas forças pró-Kadafi durante a guerra civil na Líbia, uma história que ganhou destaque na mídia internacional.

No decorrer da leitura pensamos em como é necessário ter bravura e, querendo ou não, estômago para registrar momentos em que o profissional é apenas um profissional, que só pode registar o que acontece e não se envolver emocionalmente. No livro, Lynsey mostra sua empatia com suas histórias fotografadas, o que nos transporta para o momento em que ela registra, como quando entrevista com vítimas de estupro, ou documenta a trágica vida das crianças famintas na Somália. E declara até que ponto esse trabalho entra na questão da ética jornalística, o que deve ou não ser fotografado.

Testemunha de tantas atrocidades, Lynsey sabe que não documenta apenas notícias, mas o próprio destino da humanidade. O que ela faz, com clareza, suavidade e beleza, é registrar a realidade muitas vezes em sua condição mais extrema, uma realidade da qual muitas vezes nós não fazemos ideia que existe e muitas vezes realidades que estão próximas da nossa. E apesar de ser um assunto pragmático e que requer atenção, a fotojornalista narra suas experiências de forma leve, o que aproxima os leitores da própria autora.

“Tirei várias fotos enquanto eles se aproximavam, os ombros às vezes roçando os meus, e aqui e ali abaixava a câmera e oferecia um grande Salaam para o fluxo intermináveis de refugiados. Muitos retribuíam meu sorriso, chamando-me pelo meu título: Sahafiya, jornalista. É o que sou. É isso que eu faço”.

Mais do que um trabalho, Lynsey encara isso como sua missão. Mais do que a história de uma vida nas linhas de combate, “É isso que eu faço” é um testemunho tocante do custo humano da guerra e do destino próximo da humanidade.

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