Democracia e Mídia por Isabel Ferin

28/04/2017 10h50 - última modificação 28/04/2017 10h47

Professora Isabel Ferin

Vittória Cataldo 

Em tempos de crise política e intensa mobilização popular no Brasil e mundo à fora, é imprescindível a análise sobre a cobertura desses eventos e suas relações com as forças envolvidas no processo hegemônico. Nesse sentido, resgatamos um artigo da pesquisadora  Isabel Ferin, publicado na Revista Intercom (2015, vol. 38), “Democracia, Media e Corrupção Política”, em que a autora  analisa a transformação da democracia europeia, a partir de 2008, quando o princípio de uma democracia civil e social começa a ser substituído pelo de democracia de mercado.

Ferin é portuguesa com vasto estudo sobre os meios de comunicação também no Brasil – brasilianista – e, durante os anos em que aqui viveu, permitiu uma total imersão na cultura brasileira que se manifestou em seus trabalhos de pesquisa. Em seu vasto currículo, Ferin acumula também a qualificação de africanista por ter dedicado parte de seus estudos à descolonização dos países africanos.

Em sua recente análise sobre a democracia europeia, a autora destaca a exigência que o capitalismo ultraliberal faz aos governos de uma atitude empresarial que privilegia o superavit nas contas públicas ao invés da justiça social e do amparo às populações sob sua jurisdição. Em razão disso, medidas impopulares de contenção de gastos e de diminuição das despesas públicas passaram a ser exigidas de governos cujas contas parecem não fechar, especialmente nos países considerados periféricos, como Turquia, Portugal, Espanha.

Nesse cenário, Ferin analisa a atuação da mídia que faz eco às tendências globais  no sentido de valorizar as estratégias de combate ao chamado “desperdício”, à “ineficiência” e ao “despreparo” dos que ocupam cargos públicos, aplaudindo, em contraposição, medidas que reduzem garantias, direitos e ganhos dos trabalhadores.

Notícias cobrindo processos de corrupção parecem ser o serviço que a mídia presta ao capitalismo liberal por defender a transparência de contratos e denunciar a fuga de dinheiro público para negócios ilícitos. Diante do sensacionalismo dessas matérias, divulgadas por uma imprensa cada vez mais precarizada pela concorrência dos grandes grupos internacionais, as medidas impopulares parecem corresponder a uma certa e adequada transparência na gestão pública.

Ferin afirma que, se a ênfase dada às denúncias de corrupção pode ser vista como “um serviço prestado à democracia, a saliência dada aos escândalos produz uma crescente desconfiança face à democracia e à capacidade dos políticos representarem o interesse coletivo dos cidadãos”.

A autora também discute sobre a Globalização no capítulo 9 do seu livro “Contextos e Dinâmicas”, publicado pelo Observatório da Imigração, em Portugal. Ali, ela recorre a referências como Bauman, Giddens e Castells, entre outros, para analisar o papel da mídia no fenômeno da globalização. De acordo com esses autores, os meios de comunicação seriam os responsáveis por um processo hegemônico e homogeneizador da cultura criada e difundida pela globalização. Por outro lado, a desregulamentação dos meios de comunicação e sua sujeição às leis de mercado teriam levado a uma mercantilização das programações, dos objetivos e das características dos processos comunicacionais. Em função disso, ocorre no mundo a concentração dos meios de comunicação em um pequeno número de empresas informativas, o que provocaria o enfraquecimento das empresas de menor porte, especialmente as regionais. Assim, a globalização, da mesma forma como enfraquece o Estado-nação, enfraqueceria a comunicação local e regional.

Pesquisas de mais autores brasilianistas podem ser encontradas no Portal do Mutirão Brasileirismo Comunicacional (PMBC) – iniciativa da Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional – que tem como objetivo disseminar, fomentar e promover o intercâmbio entre pesquisadores, profissionais e estudantes da Comunicação, dialogando com outras disciplinas e partilhando experiências com todos os campos do saber.

Para mais informações sobre as pesquisas de Isabel Farin, acesse o link: http://portal.metodista.br/mutirao-do-brasileirismo/cartografia/verbetes/europa/isabel-ferin

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