Em três anos, SBCSol consolida 20 empreendimentos e duplica renda média
19/05/2015 17h35 - última modificação 11/06/2015 10h46
Segundo livro retrata a experiência com os grupos sob a metodologia aplicada
A gestão compartilhada que muitas vezes ameaça a prosperidade de sócios em negócios particulares não foi obstáculo à convivência harmoniosa de um empreendimento que ganhou propulsão em São Bernardo do Campo: a SBCSol - Incubadora de Empreendimentos Solidários.
Pelo menos 20 projetos que há três anos engrossavam a estatística da economia informal já podem ser categorizados hoje como empreendimentos efetivos de diferentes segmentos, como alimentação, economia criativa, ecoturismo, hortas comunitárias, metalurgia, reciclagem e têxtil, totalizando 215 pessoas beneficiadas.
Muitas delas estavam em situação de total exclusão social – como catadores de lixo, desempregados e trabalhadores de empresa falida – e conseguiram sair da escuridão para cruzar a porta de entrada da SBCSol. As portas laterais foram a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), que ofereceu suporte financeiro e bolsas de estudos, a Universidade Metodista de São Paulo e o Instituto Metodista Granbery, incumbidos da capacitação e do fomento acadêmico, e Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo, que cuidou da logística e dinâmica do processo.
“Apenas como exemplo, temos o empreendimento de reciclagem, que contava no momento da entrada com 64 integrantes e renda média de R$ 620 por integrante. Em dezembro de 2014, após dois anos de incubação, são 135 trabalhadores com renda média de R$ 1.340 por integrante”, destacou Oswaldo Martins dos Santos Filhos, professor da Faculdade de Administração e Economia da Metodista e coordenador da SBCSol, ao falar no IV Seminário SBCSol dia 15 de maio último, que refletiu sobre os “Avanços e Perspectivas da Política Pública de Economia Solidária no Município de São Bernardo do Campo”.
O projeto foi lançado em 8 de março de 2012 e o balanço de três anos de atividades mostra ter sido bem-sucedido: 18 empreendimentos e 3 redes consolidadas (artesanato, alimentação e reciclagem), capacitação por meio de 10 oficinas gerenciais, biblioteca com 1,2 mil títulos, site, blog e perfil próprio no Facebook, mais de 20 palestras de sensibilização sobre as possibilidades de geração de trabalho e renda, assessoria à legalização que possibilitou nove formalizações como MEI (Microempreendedor Individual) e uma cooperativa, além de duas atualizações jurídica e contábil.
Livros mostram a experiência
Foram também quatro seminários de avaliação, material didático na forma de jogos temáticos e cartilhas de cada empreendimento, além da produção de 10 artigos científicos e 2 livros. “Foi um grande desafio lidar com essa pluralidade, de hortas até metalurgia, e produzir ciência em cima, pois além de montar a metodologia tivemos que implementar a incubadora”, falou a coordenadora técnica da SBCSOL, Vanderleia Lima Sena, reforçada pelo professor Douglas Murilo Siqueira, também professor da FAE Metodista e da coordenação da incubadora:
“Mostramos que a universidade não é uma Torre de Marfim. Além da capacitação, colocamos a experiência em dois livros para divulgar o empreendimento e deixar esse ensinamento para quem quiser seguir o caminho das incubadoras, ainda pouco conhecidas entre os poderes públicos”, citou professor Douglas.
No IV Seminário, realizado no campus Planalto da Metodista, foi lançado o segundo livro sobre o projeto, intitulado “Metodologia de Incubação: Experiências de Economia Solidária em São Bernardo do Campo”. Por meio de ilustrações, a publicação retrata as experiências com os grupos incubados a partir da metodologia aplicada, mostra desde princípios da autogestão até processos de formalização e estruturação. O livro pode ser baixado em http://portal.metodista.br/noticias/2015/maio/editora-metodista-disponibiliza-livros-gratis. A SBCSol foi relatada pela primeira vez na obra “A Política Pública e o Papel da Universidade”, também lançado pela Editora Educa da Metodista em agosto de 2014, quando somava dois anos de ações.
Modelo inédito
Apoiada nos principais alicerces, que são os ideais de cooperativismo e associações, a SBCSOl não só colocou no centro do alvo pequenos negócios familiares de baixa renda e informais, como adotou um modelo misto por meio de parceria entre poder público e o mundo acadêmico da universidade. É uma concepção inédita no Brasil. Mais do que isso, o modelo foi construído com os próprios participantes, que a partir de suas realidades deram forma às cartilhas, aos manuais e à prática gestora de seus empreendimentos.
A incubadora está institucionalizada na Metodista, em local fixo no campus Planalto, contando com biblioteca e recursos de informática onde são atendidos os incubados. No campus Rudge Ramos está sua coordenação administrativa.
“Não é uma iniciativa trivial. Foram quase 700 pessoas envolvidas, entre 215 incubados e mais de 400 no apoio entre professores, técnicos e estudantes. É exemplo de como as coisas devem funcionar: a união entre governo, academia e sociedade”, descreveu o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da Metodista, Fábio Botelho Josgrilberg.
O economista Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, destacou que também no Brasil as incubadoras seguiram perfil diferenciado: em vez dos Estados Unidos que incentivam ideias e empresas emergentes a partir dos melhores cérebros nas universidades, o Brasil optou por ajudar os menos favorecidos, sobretudo com a onda de desemprego surgida pós-choque de petróleo dos anos 70 que repercutiu nos anos 80 e 90.
“Temos hoje 110 universidade no Brasil que apoiam incubadoras, colocando-se a serviço da sociedade por meio de projetos de extensão universitária. A forma mais cruel de exclusão social é o desemprego. Por isso, depois do pioneirismo do Brasil nos anos 90, a economia solidária viceja na França, Espanha, México e Portugal”, citou Singer, que foi o palestrante do evento e sublinhou um dos trabalhos, o de catadores de lixo, que somam 70 mil no Brasil, a maioria mulheres.
“São pessoas resgatadas da exclusão e de uma importância ambiental enorme, pois recolhem o lixo que descartamos e o transformam em fonte de ocupação e renda”, elogiou.
Tanto o secretário de Serviços Urbanos de São Bernardo, Tarciso Secoli, quanto o de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Jefferson Conceição, destacaram no encontro que economia solidária tornou-se política pública no Município, apoiada em lei e agora em metodologia. Jefferson antecipou que há 10 APLs (Arranjos Produtivos Locais) em estruturação no Grande ABC que podem ser clientes dos 20 incubados. O secretário Secoli destacou o que chamou de “tecnologia social” desenvolvida pela experiência de cooperativismo e associação em benefício do coletivo. Disse ser essa a inovação obtida pela experiência e que foi cobrada pela diretora da FINEP, Alba Lourenço, para que a entidade apoie trabalhos e projetos inovadores.
Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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