Idolatria ao dinheiro e direitos humanos: professor da Pós-Graduação em Ciências da Religião lança novo livro
22/10/2018 16h20 - última modificação 25/10/2018 17h49
Docente do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, Jung Mo Sung é autor do livro Idolatria do dinheiro e direitos humanos: uma crítica teológica do novo mito do capitalismo, lançado recentemente pela Paulus Editora. O título foi inspirado na visita do Papa Francisco à Coreia do Sul em 2014, marcada pela presença de dois tópicos principais em seus discursos: a necessidade que a Igreja seja uma Igreja pobre para os pobres e pela crítica à idolatria do dinheiro.
Mo Sung, que dois meses após a visita papal passou pelo país asiático para lançar o livro “Desejo, mercado e religião” em coreano, foi procurado por jornalistas para tratar sobre as duas questões. “Fiquei impressionado pelo interesse de pessoas que não conheciam quase nada sobre teologia, economia e desejo, mas especialmente por jornalistas de três grandes veículos de circulação nacional. A discussão dos jornalistas estava além das questões da teologia ou das igrejas, mas conectada com o tema da cultura neoliberal que está impactando o mundo e com a visita do Papa Francisco à Coreia, onde ele tinha falado sobre a idolatria do dinheiro”, disse.
O docente explica que a proposta do livro surgiu um ano mais tarde, durante reunião com alguns teólogos. “Comecei a perceber mais claramente a ruptura do 'mito moderno do progresso' com o surgimento de um novo mito, de linha neoliberal, que fortalece uma visão equivocada do ser humano, a qual nega os direitos humanos e só reconhece os direitos dos consumidores”, revelou. A partir dessas impressões, o professor passou os três anos seguintes trabalhando na obra.
Capitalismo e fé
Para Mo Sung, o capitalismo atrai porque criou-se a ideia de que o mercado é capaz de realizar todos os desejos. Ele entende que o neoliberalismo radicaliza a fé no mercado absoluto, tornando-o livre das funções do Estado e das atividades da sociedade civil. “Para isso é preciso sacrificar todos os seres humanos, especialmente os pobres e os não-ricos, e os ambientes que se colocam no meio do seu caminho absoluto", explica.
O professor ainda esclarece, de acordo com a fala do Papa Francisco, que a Igreja deve ser testemunho de valores do evangelho e não ter no dinheiro um critério definitivo, como ocorre na sociedade atual.
"Por isso, o Papa sempre pede para usar um carro simples nas suas viagens e pede aos bispos, como figuras públicas da Igreja, que não vivam em palácios, mas sim em casas mais modestas e que cuidem dos pobres. Para o evangelho, Deus não faz distinção entre pessoas, sejam ricos ou pobres, e ama a todos gratuitamente. Essa mensagem e testemunho tocaram muito os setores não cristãos da Coreia", explica.
Resposta bíblica
De acordo com o título, a Bíblia tem muito a dizer sobre o tema e há muitos desafios a serem enfrentados pelo cristianismo diante dessa realidade. “O princípio cristão mais trabalhado no livro é a diferença entre Deus, que quer a vida abundante de todos os seres humanos (evangelho de João 10:10), e o ídolo, que mata os seres humanos em nome do dinheiro”, disse o autor.
Ele ainda aponta que a teologia tem contribuição a dar, para a toda sociedade e não apenas aos cristãos, sobre os rumos da cultura ocidental. “Nessa situação de violência, intolerância e falta de esperança por uma sociedade mais humana, eu gosto de relembrar que é importante dar ao mundo ‘a razão da nossa esperança, com mansidão e humildade’ e oferecer novos caminhos de humanização”.
"O importante é saber que o dinheiro não deve ser o critério absoluto da vida; o dinheiro e o capital devem estar a serviço da vida das pessoas e da sociedade, e não as pessoas e a sociedade a serviço do capital e do mercado", conclui.
O livro será apresentado e debatido no dia 7 de novembro de 2018, das 19h30 às 21h, na sala 309 do Edifício Capa (campus Rudge Ramos).
Sobre o autor
Nascido em 1957 em Seul, Coreia do Sul, Jung Mo Sung fez doutorado em Ciências da Religião na Universidade Metodista de São Paulo, em 1993, e é professor da instituição desde 1994. Publicou 23 livros, com traduções em inglês, espanhol, coreano e italiano.
Saiba mais sobre “Idolatria do dinheiro e direitos humanos: uma crítica teológica do novo mito do capitalismo”.