Pesquisa de doutorando mostra que mídia brasileira resiste a adotar algoritmo e inteligência artificial
26/01/2018 14h30 - última modificação 26/01/2018 14h54
Em parte devido ao alto custo tecnológico e em parte por se tratar de um campo pouco explorado no País, os maiores grupos de mídia brasileiros ainda não incorporaram tecnologias como inteligência artificial e algoritmos na produção jornalística. Empresas como Globo, SBT e Folha de São Paulo enfatizam o conteúdo produzido pela inteligência humana como seu principal diferencial e destacam questões legais e normativas, já que a tecnologia algorítmica altera substancialmente o sistema de confecção de notícias, suprime empregos e muda atribuições dos jornalistas e na própria estrutura de cargos das redações.
Conclusões como essas fazem parte da primeira pesquisa no Brasil sobre adoção de tecnologias como IA, algoritmos e NLG (Natural Language Generation) nas empresas de mídia brasileiras, feita pelo doutorando da Universidade Metodista de São Paulo Lucas Vieira de Araújo. O levantamento é parte de sua tese a ser defendida em 19 de fevereiro próximo e já foi convertido em artigo que acaba de ser publicado na revista “Estudos de Jornalismo e Mídia” da Universidade Federal de Santa Catarina.
O artigo é intitulado “Adoção de algoritmos, NLG e inteligência artificial na imprensa brasileira em âmbito nacional e regional” (veja abaixo). A tese de Lucas Araújo e outros artigos relacionados já o levaram a participar de congressos como o da Sociedade de Engenharia de Televisão (SET) em 2016 e 2017 e a publicar papers como "Journalism Crowdfunding: innovation in communication?" na revista científica Internacional Journal of Broadcast Engineering (IJBE).
Fake news
Sua tese é considerada o primeiro estudo do Brasil a identificar, classificar e analisar iniciativas de inovação em comunicação em startups, empresas de mídia, fundos de investimento e organizações de fomento à inovação, além de avaliar como essas iniciativas se sustentam e interagem com o ecossistema. No caso dos grandes grupos de comunicação de massa, a pesquisa o levou a concluir pela descrença e ceticismo com os algoritmos. Lucas Araújo contextualiza que a cultura organizacional das principais empresas de mídia brasileiras não internalizou mecanismos de integração entre humanos e máquinas para produção de notícias.
“Apenas um dos entrevistados afirmou de forma categórica que seria positivo o jornalista se concentrar em atividades menos mecânicas, como a apuração dos fatos, enquanto a máquina coletaria dados e produziria textos menos elaborados. Aliás, um dos aspectos mais abordados entre as empresas participantes da pesquisa foi o mal que as notícias falsas geram à sociedade”, afirma o doutorando, citando exemplos como o do editor executivo de conteúdos digitais do Grupo Estado, Luis Fernando Bovo, que disse: “Algoritmos coletam informações na web, como de redes sociais, e distribuem sem apurar se a informação é verdadeira”, em referência à onda de fake news que se alastra pelas plataformas digitais.
Outro entrevistado, o CEO do Grupo RBS, Eduardo Melzer, afirma: “Algoritmo é adequado para informações simples e de feedback. Não é apropriado para produção jornalística séria e profissional, que precisa ter discernimento, apuração, visão plural e responsabilidade social”.
Segundo estudos, nas empresas jornalísticas algoritmos e inteligência artificial podem priorizar, classificar e filtrar informações, além de envolverem-se no jornalismo em vários estágios, incluindo a distribuição – como nos resultados de busca e métricas de público –, determinando tópicos a serem abordados, ou até mesmo escrevendo as histórias por meio da NGL. Há quem veja qualidades como a possibilidade de melhorar a eficiência das redações ou de livrar jornalistas do trabalho técnico mais simples. Também se destacam os motores de busca para potencializar a distribuição de conteúdo nas novas mídias.
Leia a íntegra do artigo.