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Onde você guarda o seu racismo?

Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão. Gálatas 5:1

Há alguns anos, o IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) criou um projeto chamado Diálogo contra o Racismo - e a questão que “provocava” esta reflexão era a seguinte: onde você guarda o seu racismo? E, nas ruas, as pessoas apresentavam as mais diversas respostas: “Dentro de mim!” – “Dentro da cabeça e no coração da gente!” – “No meu espaço crítico!” – e outros se sentiam constrangidos e, entre sorrisos tímidos e ao mesmo tempo tensos, diziam: “Está tão escondido, que eu nem sei...” – “Não faço a menor ideia”.

E você o que responderia diante desta questão?

Acredito que muitas pessoas diriam: “Não guardo! Não sou racista!” – e ficaria extremamente contente como se esta afirmativa fosse verdade. Mas, infelizmente, o racismo está aí, cada dia mais escancarado no meio da nossa sociedade. Está no futebol, no telejornal, nos corredores das universidades, nos parques, nas praças, nas igrejas etc. Por isso, devemos falar sobre o mesmo, refletir sobre as nossas práticas e verificar qual seria a nossa resposta para tal questão.

Para muitas pessoas, esta questão ainda está “na cabeça das pessoas negras.” - “Isto é complexo! Vocês, negros/as, precisam se livrar disto!” ou “O Brasil não é um país racista!” – e não percebem (ou será que percebem? às vezes, desconfio que sim!) que tal fato faz com que a vítima acabe por se tornar réu, responsável pelo ato que sofreu. Tudo isso porque, tal como afirma o antropólogo Florestan Fernandes , “o brasileiro tem preconceito de ter preconceito”, fomos educados/as para negar nossas práticas de exclusão. E as pessoas adeptas do cristianismo, então, se apegam ao “lema” – “Para Deus, somos todos iguais!”. Mas, na primeira curva, prepare-se pois o preconceito vem à tona nos gestos, nas insinuações, nas expressões, nas canções, nas piadas, etc.

É importante também observar que não somos todos/as iguais. E que as diferenças são naturais e estão aí para serem celebradas, elas refletem a criatividade divina e a interação humana. Entretanto, a desigualdade é que deve ser combatida: ninguém pode ser menosprezado pela sua cor, credo, crença etc.

O dia de combate à discriminação racial – 21 de março – foi instituído pela ONU após o massacre ocorrido em Sharpeville, em Joanesburgo, na África do Sul, no qual negros e negras foram assassinados durante o regime do Apartheid. Massacre este que reflete o racismo da sociedade da época. Mas, se observarmos atentamente, vemos que a chacina continua: basta olharmos para o genocídio da juventude negra brasileira, o alto índice de mulheres negras vítimas de violência doméstica etc. E o que dizer do número de crianças mortas nas favelas cariocas ou nas periferias paulistanas, por exemplo? Será que estes atos não refletem o racismo da nossa sociedade?

A campanha do IBASE também ouviu pessoas vítimas de racismo e pessoas que conseguiram perceber como o preconceito estava infiltrado nos atos do dia a dia, nas mais diferentes esferas da sociedade. Ao final de cada depoimento, a pergunta inicial era repetida, mas acrescida de uma sugestão: “Onde você guarda o seu racismo? Não guarde, jogue-o no lixo!”

Que nós, cristãos e cristãs, possamos seguir o exemplo de Cristo: superando os preconceitos, incluindo, denunciando os atos de exclusão e propondo uma sociedade em que de fato haja justiça e igualdade de direitos para todas as pessoas. Jogando no lixo o que não colabora para vivência plena do evangelho.


Revda. Lídia Maria de Lima
Coordenadora do Ministério AA-AFRO
Ações Afirmativas para Afrodescendentes

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