O Senhor o deu, o Senhor o tomou – Finados
Na Bíblia há um relato bastante dramático sobre um homem chamado Jó que vivia em Ur dos Caldeus. Tinha esposa, muitos filhos e filhas. Jó era proprietário de fazendas e animais como bois, jumentos, ovelhas, camelos. Era muito rico e possivelmente, realizado e feliz.
Porém, num só dia, toda a sua vida muda: Jó perdeu quase tudo.
13 E sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam, e bebiam vinho, na casa de seu irmão primogênito,
14 Veio um mensageiro a Jó, e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pastavam junto a eles;
15 E deram sobre eles os sabeus, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova.
16 Estando este ainda falando, veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu, e só eu escapei para trazer-te a nova.
17 Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Ordenando os caldeus três tropas, deram sobre os camelos, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova.
E como se todo aquele infortúnio não fosse suficiente, Jó recebe outra notícia ainda mais arrasadora:
18 Estando ainda este (empregado) falando, veio outro, e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito,
19 Eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, que caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei para trazer-te a nova.
Diante de tamanha tragédia, Jó rasga suas vestes em sinal de tristeza e dor e raspa seus cabelos num ato de humilhação. Entretanto, Ele declara:
21 Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor.
É possível imaginar o imenso desespero deste homem e desta mulher.
Muitos de nós pensaríamos não suportar tamanha desolação: ter os bens roubados, ter os empregados/as assassinados/as e especialmente saber que durante uma festa de família, morreram seus filhos e filhas.
Mas ao contrário do que qualquer um/a de nós, pudéssemos imaginar, a afirmação de Jó nos apresenta uma pessoa que soube agradecer tudo o que teve, muito embora, sua perda.
Diante do luto, é comum que façamos uma série de indagações (também de revolta, de negação). Tudo na tentativa de compreender o porquê daquela morte ou mortes.
Mas Jó nos mostra uma possibilidade: agradecer pelo que tivemos e reconhecer que toda a vida vem de Deus. E volta para Deus.
Dia 2 de novembro foi o dia de Finados e (entre outros) é mais um dia que recordamos de nossos mortos. Que choramos a ausência. Que sintamos saudades. O luto é uma experiência da qual ninguém escapa. Não importa a idade nem circunstância.
Mas qual de nós consegue reconhecer o privilégio de viver/conviver com aquela pessoa que morreu e agradecer a oportunidade da vida (curta ou longa), ao mesmo tempo, que chora a sua morte? Tenha sido essa morte do modo como for.
A bíblia testemunha que Jó não imputou a Deus culpa alguma. Não cobrou dele explicações. Ao contrário, Jó bendisse o nome do Senhor e reconheceu sua presença.
É um desafio, porém, também é um consolo. A medida que somos gratos/as por aquele/a que amamos profundamente, somos capazes de perceber todas as coisas boas que ele/a gerava em nós e então reconhecer o seu valor, sua importância. Parte desta pessoa está em nós, no que somos. E parte dela portanto, viverá em nós.
No início do texto, escrevo: ‘Jó perdeu quase tudo’, e agora complemento: exceto, a sua fé.
O luto deve ser vivido com paciência, compreensão e apoios necessários. Mas é somente a fé em Deus que nos auxilia diante da lembrança do ente querido, a um possível sorriso de esperança; ou diante da separação no seu sepultamento, sentir paz e consolo. Somente a fé nos faz agradecer o dom da vida.
Que tenhamos de Deus sua graça e paz em todos os momentos.
Amanda de Lima Baptista
Assistente Administrativa
Pastoral Escolar e Universitária IMS