Laranja ou limão?
Num gostoso fim de tarde, eu e as crianças resolvemos passar na casa da vó Iracema. Chegamos lá e encontramos a vovó fazendo tricô, o Tio Silas e tia Neusa, cada um usando seu notebook. Ficamos ali um tempo, conversamos, as crianças brincaram, partilhamos um rápido lanche, convivemos mais um pouco e decidimos retornar para nosso lar.
Neste momento, meu irmão Silas, teve uma ideia, doar uma linda laranja Bahia para nós três. A laranja era realmente bonita. Grande, avermelhada, cheirosa, uma beleza! Ficamos os três encantados com aquela fruta. Foi quando o Bruno disse em alto e bom som:
- Deixa que levo!
Imediatamente uma guerra começou naquele sereno lugar. A Louise logo gritou:
- Não! Eu levo!
E a briga começou.
Os dois não paravam de discutir quem iria carregar a bendita laranja. O clima estava realmente tenso. Foi quando o tio Silas surgiu da cozinha cantando uma música com um limãozinho na mão. A música, que certamente ele inventara na hora, exaltava o limão, dizia que ele era muito especial, algo como: “Limão, meu amigão...” logo os quatro olhinhos estavam voltados para o pequeno limão.
O Bruno rapidamente soltou a laranja tão querida na mão de sua irmãzinha e disse:
-Eu quero levar o limão!
Então, a Louise, discretamente, colocou a laranja sobre a mesa e disse meio constrangida:
- Agora eu quero o limão.
O Bruno, por ser maior, entendeu a jogada do seu tio, logo pegou a laranja que encheu sua mão.
A Louise, com um sorriso no rosto, pegou o limão. E tio Silas, continuou cantando a canção.
Demos risadas, todos felizes... Assim, fomos para casa, cada criança com uma fruta na mão e a paz no coração.
Fiquei com esta história na cabeça e pensei:
Primeiramente, muitas poderiam ter sido as soluções para este empasse, com por exemplo cortar a bonita laranja, mas a solução encontrada manteve a laranja íntegra em sua beleza admirável e ainda agregou um valor a um mero limão, azedo, pequeno e feio (se comparado a laranja).
Ao mísero valor material foi agregado um valor simbólico de “amigão”, enobrecido pela rima e musicalidade, tornando-o realmente especial e superior a linda laranja.
A criança inocente, captou e compreendeu o valor especial do limão/ amigão. A laranja era maravilhosa, mas... o limão era o amigão!
Uma mudança no olhar, tornou algo sem valor em algo desejável!
E não é assim também com as pessoas?
Com certeza todos nós temos alguém que nos chateia, que tira a sua paz, que nos irrita, não é?
Muitas vezes estamos rodeados de pessoas/limões.
Chatas, azedas, por vezes amargas. E estas, certamente não queremos por perto, por vezes nos machucam... nos entristecem, nos causam raiva! Mas, assim como a criança, podemos nos permitir um novo olhar.
Que possamos olhar novamente com amor, amor que vem de Deus e enxergar além das aparências, máscaras e atitudes.
Que possamos desejar carregar estas pessoas, sustentá-las e isso em amor e oração.
Olhemos novamente! Deixemos Deus nos mostrar o melhor das pessoas. Amemos uns aos outros.
Elaine Cezar da Silva
Assistente Administrativa
Pastoral Universitária e Escolar