Desfrutar o bem de todo o seu trabalho
"... Também isto é vaidade e correr atrás do vento." (Ecl 2,26)
Geralmente quando pensamos em trabalho, vem-nos à mente a imagem de algo ruim, algo que nos faz sofrer, uma espécie de tortura, assemelhando-se ao sentido da palavra latina tripalium (instrumento de tortura). É certo que não pensamos na origem latina da palavra para sentirmo-nos incomodados com a idéia do trabalho. O que talvez esteja acontecendo é que hoje o trabalho se tornou apenas um meio de conquistarmos coisas. Desta forma, ele perdeu sua capacidade própria de proporcionar realização. Trabalhamos para buscarmos realização naquilo que está fora do trabalho. Ou seja, trabalhamos apenas para comprarmos coisas (roupas, comida, viagens etc), como se essas coisas trouxessem a realização que o trabalho não trouxe. Além disso, quando o trabalho é mal pago, essa situação se agrava, pois nem ao menos a ilusão do consumo existe.
O livro bíblico de Eclesiastes faz uma reflexão sobre o tema e pergunta: "Que proveito tem o trabalhador naquilo com que se afadiga?"(Ecl 3,9) Isto é, o trabalho também é visto como fadiga nesse livro da Bíblia. Todavia, a novidade do livro está naquilo que ele diz ser a vaidade, o vazio para o qual o trabalho se destina: é sem sentido trabalhar e não ter o suficiente para viver; também é sem sentido fazer do trabalho apenas uma busca de acúmulo, como se isso trouxesse a felicidade, como se isso fosse a razão de nossa existência. Portanto, muitos perdem o encanto com o trabalho por não terem o pão na mesa; por outro lado, uma minoria perde o encanto com o trabalho, pois busca nele apenas o acúmulo de bens. O trabalho perde a sua capacidade de realização, perde sua capacidade de transformar a morte em vida.
Neste mês de maio, devemos todos refletir sobre isso: como tem sido nossa vida no trabalho? Qual a verdadeira razão de tanto nos esforçarmos? Onde temos colocado o sentido de nosso trabalho? Por sua vez, aqueles que administram as instituições devem se esforçar ao máximo para criar um ambiente acolhedor para seus funcionários.
O livro de Eclesiastes, sob a inspiração de Deus, alerta para o perigo de estarmos correndo atrás do vento, ou seja, buscando coisas que não sustentam a vida plena, vida com alegria e justiça.
Coloquemo-nos nas mãos de Deus e sejamos sinceros para confessarmos quando nos desviamos do verdadeiro sentido da existência. Façamos de nossas vidas instrumentos nas mãos divinas para a construção de melhores relações no mundo do trabalho.
Rev. Wesley Fajardo Pereira