A outra face
"... a qualquer que te bater na face direita, volta-lhe também a outra" (Mateus 5,39b)
Especialmente num contexto de violência, no qual o desejo de vingança ou de defesa pessoal se radicaliza, é difícil para nós o cumprimento desse ensinamento de Jesus. Todavia, é preciso compreender melhor e perceber que o texto acima não é uma proposta de passividade, antes é uma proposta de pacifismo-ativo.
O texto está se contrapondo à lei do talião, a saber, “olho por olho, dente por dente”. Essa lei, conhecida na época, levava muitas pessoas a verem no castigo, proporcional ao erro, o cumprimento da justiça. Mas o que de fato sempre acontecia é que o violento não se intimidava frente a uma contra-violência. O contexto de Jesus e o do Evangelho de Mateus é o das ações do Império Romano. Percebe-se que a força agressora dos romanos não era extinta por atitudes de contra-violência. Antes, o ciclo se reforçava: o violento, diante de uma violência torna-se mais violento e não se intimida. Logo, só há uma saída: a não-violência. Não como algo que aceita a agressão e se coloca de maneira submissa, mas uma não-violência que reage com a paz. No texto não há espaço para submissão. O texto é de protesto, estimulando as pessoas a reagirem com uma postura pacifista. O que se busca é quebrar o ciclo vicioso, onde violência gera mais violência.
Nos dias atuais, em que discutimos sobre o desarmamento, é fundamental refletirmos sobre qual postura devemos adotar frente aos problemas relacionados ao tema. Creio que a proposta de Jesus, apresentada pelo Evangelho de Mateus é importante por dois aspectos: 1) mostra a ineficiência da violência como superação da violência; 2) propõe uma postura coerente com aqueles que não desejam a violência, propõe um pacifismo-ativo.
É óbvio que a sociedade precisa ter instrumentos de defesa de seus membros que passa por instituições armadas (no caso as polícias) para enfrentar em pé de igualdade os grupos que se armam para agredir as pessoas. Todavia, conforme o texto, não podemos ver nessas atitudes a solução definitiva para o fim ou diminuição da violência, nem podemos crer que quanto mais pessoas se armarem menos violenta será a sociedade. O que, de fato, precisamos é enfrentar com mais atenção as causas da violência, sejam elas sociais ou pessoais, diminuindo as situações que levam pessoas a agirem violentamente, e criando novas condições que tirem muitos de um convívio violento. Além disso, precisamos criar uma consciência pacifista social que seja ativa, que não seja conformista, mas que leve as crianças, os jovens e os adultos a refletirem sobre a ineficiência da violência como combate à violência.
Rev. Wesley Fajardo Pereira Pastoral Escolar e Universitária