Economia do Grande ABC deve ter maior contração ao final do ano e projeções para 2016 não são positivas
27/08/2015 12h29
Depósitos na poupança com queda de 1% até maio, cesta básica em junho 9% mais cara, desemprego já representando 13% da PEA (População Economicamente Ativa) e salário médio reduzido de R$ 2.485 para R$ 2.457 são os principais indicadores do cenário negativo que dominou a economia do Grande ABC no primeiro semestre de 2015.
A 9ª edição do Boletim Econômico do ABC – EconomiABC (acesse aqui o boletim), realizado pelo Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, demonstra que o ajuste fiscal e a política econômica restritiva do governo atingem o ABC paulista de forma aguda, sobretudo pela dependência da indústria automotiva. Mesmo exportando mais favorecida pela desvalorização cambial, a cadeia de veículos continua cortando empregos.
O boletim EconomiABC questiona se, diante das recentes mudanças realizadas pelo governo, a elevação da taxa básica de juros, de 11,65% para 14,15%, é suficiente para conter as pressões inflacionárias? A resposta parece ser não. Mais uma vez pressionada pelos preços dos alimentos, a cesta básica no Grande ABC ficou mais cara, ultrapassando R$ 490 em junho deste ano. Comparado a junho do ano anterior, a diferença é de 10,95%, cerca de dois pontos percentuais acima da inflação registrada pelo IPCA no período. Somente neste ano o aumento foi de aproximadamente 9%.
O desemprego também é fator preocupante. Segundo aponta o boletim, após alguns anos com baixa taxa de desemprego para os padrões históricos da economia, esta aumentou de 4,3% em dezembro de 2014 para 6,9% em junho de 2015, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE. A mesma pesquisa apurou taxa de desocupação de 7,2% da População Economicamente Ativa na Região Metropolitana de São Paulo no último mês de junho.
No Grande ABC, o desemprego medido pelo SEADE, com metodologia diferente da utilizada pelo IBGE, registrou 13% da PEA em junho. O salário médio dos trabalhadores ocupados da região reduziu em torno de 6,3% entre junho de 2014 e de 2015, saindo de R$ 2.259 para R$ 2.116, deflacionado pelo Índice do Custo de Vida (ICV) do DIEESE. A massa salarial no ABC paulista sofreu redução de aproximadamente 6%, segundo dados do SEADE.
No mercado formal de trabalho, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego, no primeiro semestre do ano foram fechados mais de 18 mil postos formais de trabalho no Grande ABC. A indústria de transformação é a grande responsável por esse resultado, com fechamento de mais de 10 mil postos. Este mesmo período também perderam postos de trabalho os setores de comércio (-3.336), serviços (-3.183) e construção civil (-1.507).
Geograficamente, os municípios que apresentaram maior capacidade de geração de valor adicionado, tendo em vista a malha produtiva, apresentam os melhores salários médios. Entretanto, o Observatório Econômico da Metodista observa que em todos eles houve redução do salário médio de junho se comparado ao salário médio de dezembro do ano passado. Na região, o salário médio diminuiu de R$ 2.485 para R$ 2.457 no mercado formal de trabalho no primeiro semestre deste ano.
No Estado de São Paulo a atividade comercial retraiu 1,6% até maio deste ano comparado com igual período do ano passado, segundo o IBGE. Nos 12 meses entre junho de 2014 e maio de 2105, a retração do comércio em São Paulo é de 1,3%. Estes resultados refletem a tendência já apontada nas versões anteriores do Boletim EconomiABC, revelando uma retração no setor que não era captada pela pesquisa do IBGE desde o ano de 2003.
Quanto às operações de crédito, após significativo período de continua ascensão, nos últimos 18 meses essas operações têm alternado períodos de retração e ascensão, o que denota menor capacidade de endividamento da sociedade. O que também permite apontar, diante das condições do crédito no Brasil, a redução da capacidade deste de fomentar o consumo, como ocorrera nos anos anteriores, diz o Boletim EconomiABC.
Segundo o Banco Central, em abril deste ano o endividamento médio das famílias brasileiras correspondia a cerca de 46,3% da renda anual dessas famílias, o maior desde que a série começou a ser calculada, em 2005. No mesmo mês, o grau de comprometimento mensal da renda, com serviços da dívida, foi de aproximadamente 21,9%.
Se de um lado o endividamento das famílias se ampliou, o saldo médio dos depósitos de poupança diminuiu nos primeiros cinco meses de 2015. A redução foi de aproximadamente 1% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos últimos meses, a diminuição acumulada foi de 6,3%.
Exportações melhoram
Dentro do ajuste fiscal, a taxa de câmbio sofreu significativa desvalorização no primeiro semestre de 2015, passando de aproximadamente R$ 2,65 por dólar no final de 2014 para R$ 3,10 por dólar no final de junho. Com isso, diferentemente dos dois últimos anos, a balança comercial do Brasil fechou o primeiro semestre do ano com superávit de US$ 2,2 bilhões, composto por uma redução de 14,6% nas exportações e de 18,5% nas importações, comparativamente ao igual período do ano passado. No Grande ABC o cenário foi semelhante.
Entretanto, apesar da melhora no volume de exportações da cadeia de produção automobilística assim como na indústria química, estas não foram suficientes para acelerar a economia da região. Pelo contrário, os indicadores apontam perdas de postos de trabalho e elevação da taxa de desemprego, bem como retração na massa de salários, indicativos de desaceleração na atividade econômica, como já visto acima.
No Grande ABC, os maiores superávits foram conseguidos na comercialização de bens manufaturados, que registrou saldo positivo de US$ 336 milhões no primeiro semestre. Neste grupo, os industrializados foram os mais importantes. Entretanto, dada a retração das vendas no mercado interno e o elevado volume de estoques, o setor automobilístico não apresentou melhora na produção e diminuiu empregos no período.
Ainda que num ritmo menor que nos anos anteriores, as operações de financiamento imobiliário apresentaram crescimento de aproximadamente 16%, em 2014 na região, comparado ao ano de 2013. Nos primeiros quatro meses deste ano o financiamento imobiliário cresceu aproximadamente 18% comparado a igual período do ano anterior. Porém, este aumento se deve unicamente pelos créditos e contratos feitos antecipadamente, esta é apenas a taxa de retorno do mercado imobiliário. O crescimento não se refere a negócios feitos recentemente.
Para ter acesso a todos os dados e análise completa, acesse aqui o 9º Boletim EconomiABC.
Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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