Cenário de incertezas mantém indicadores do Grande ABC em baixa
08/12/2016 16h05 - última modificação 08/12/2016 17h44
Há mais de 30 meses o ABC paulista apresenta perdas de postos formais de trabalho. Em 2016, a redução deverá ser de aproximadamente 30 mil empregos com carteira assinada, elevando para mais de 200 mil as pessoas desempregadas na região neste final de ano. Isso reflete diretamente na massa de rendimento dos que estão ocupados, que diminuiu 8,5% nos últimos 12 meses até outubro, conforme a 13ª edição do Boletim EconomiABC elaborado pela Universidade Metodista de São Paulo.
Com um cenário coalhado de incertezas sobre medidas efetivas do governo federal para retomada do crescimento, o Grande ABC segue com todas as atividades em baixa. “A região, assim como a economia nacional, enfrenta uma das mais intensas retrações econômicas de sua história. O caminho para a volta da atividade regional passa não só pela retomada da confiança e do cenário macroeconômico, mas também pela construção de uma política de desenvolvimento integrada, que envolva também os governos estadual e federal”, diz professor Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Metodista, responsável pela análise.
Território fortemente industrial, setor mais danificado pela prolongada recessão, o desemprego mantém-se elevado no Grande ABC, em torno de 15,5% da PEA (População Economicamente Ativa), comparável à taxa presente na região entre 2005 e 2007. O patamar nacional ficou em 11,8% da PEA no terceiro trimestre, segundo dados do IBGE.
Salário 18% menor
Como consequência, nos últimos 34 meses o salário real, deflacionado pelo ICV/SEADE, reduziu cerca de 18%. O fato é explicado pelo aumento da competição no mercado de trabalho dado o maior número de pessoas desocupadas e a menor demanda por trabalho por parte do setor produtivo. O rendimento médio no Grande ABC atingiu em outubro R$ 2.941, cabendo à indústria o maior salário (de R$ 4.314), seguida de serviços (R$ 2.483), construção civil (R$ 2.143) e comércio (R$ 2.097).
No ABC, nos últimos 12 meses encerrados em agosto, o volume de operações de crédito diminuiu 2,96%, somando pouco mais de R$ 33,2 bilhões. Após mais de cinco anos de aumento, os financiamentos imobiliários na região caem desde novembro de 2015, afetando negativamente o setor, indica o 13º EconomiABC.
Com a retração do volume de crédito, somado ao aumento do desemprego e redução da massa salarial na região, o total dos depósitos de poupança diminuiu 20,4% entre dezembro de 2014 e agosto de 2016.
Em decorrência do cenário de retração econômica, pelo segundo ano consecutivo o desempenho da atividade comercial registrou redução no acumulado entre janeiro e setembro. Neste ano, o comércio diminuiu 6,5% no período, acima da queda de 3,3% observada em 2015 no mesmo período. A produção física industrial diminui 7,8% no Brasil no acumulado até outubro deste ano.
Ajustes internacionais
O horizonte não parece animador. O Produto Interno Bruto brasileiro sofreu retração de 3,8% em 2015 e a expectativa do mercado financeiro, segundo o relatório FOCUS de novembro, é de que o PIB caia 3,5% em 2016. Some-se a isso o cenário internacional, igualmente com baixo crescimento econômico, lenta retomada do fluxo de comércio exterior, ajuste dos modelos de desenvolvimento dos países centrais e das economias emergentes, entre outros. Com a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas, aumentaram-se as expectativas com relação à adoção de política protecionista por parte da maior potência econômica mundial, adverte a análise da Universidade Metodista.
“Atualmente, uma das principais críticas enfrentada pela política de combate à inflação tem sido seu efeito sobre a atividade econômica. Isso porque, ao combater a inflação com uma política monetária restritiva, a demanda agregada da economia sofre pressão reducionista, ainda que apresente algum grau de eficácia na redução da inflação. Com menor demanda, o setor produtivo vê o mercado consumidor encolher, levando à queda da produção e suas consequências. Ao mesmo tempo, o combate à inflação pela contenção da demanda não soluciona as questões estruturais que também contribuem com a inflação no Brasil, como a baixa expansão da capacidade de oferta e baixa produtividade, entre outros”, alerta o estudo. A inflação acumulada do ano está em 5,78%. Em 2015 foi de 10,67%.
Veja a íntegra do 13º Boletim EconomiABC.