Contar histórias deve estar no centro das aulas, diz educador
30/09/2019 15h10 - última modificação 01/10/2019 16h58
Miguel Thompson falou em seminário sobre Inovação na Escola em romper com modelo linear de ensino para estimular a criatividade
Provocar a imaginação dos alunos é a grande oportunidade das escolas que querem mudar o modo de ensinar. O mundo deixou de ser linear e espacial – tudo está virtual e aleatório, daí não terem mais lugar as aulas sequenciais, conteúdos formalizados por especializações, estruturas hierarquizadas e controle de tudo para gerar métricas.
“Numa época em que a maioria dos empregos de hoje não existirá daqui poucos anos, precisamos desenvolver outras habilidades nas crianças e jovens, como a oralidade e a cooperação do trabalho em grupo. Aí os pais questionam: mas oralidade cai no ENEM? E a escola desiste de ser criativa, de construir histórias e narrativas para despertar talentos”, advertiu o educador Miguel Thompson, diretor da Fundação Santilanna, em palestra sobre Gestão Escolar em um Mundo Complexo no seminário Inovação na Escola – Criatividade Como Estratégia Pedagógica e de Gestão, realizado em 28 de setembro na Universidade Metodista de São Paulo.
A velha e boa prática de contar histórias tem se mostrado didática bastante eficaz para cativar estudantes de todas as idades. Os games são os melhores exemplos: “São histórias épicas que fazem grande sucesso. Daí a importância de construir narrativas que encantam, em vez que derramar um monte de listas dizendo o que aluno deve pensar”, apontou o educador, lamentando que a maior parte dos professores e gestores escolares ainda trabalha sob um modelo fabril (fragmentado, especializado e sequencial), desprezando emoções e subjetividades proporcionados por experimentos interativos e criativos.
Escola chata?
“A escola ficou boring (chata) porque é só razão. A ciência acha que tudo se resolve na racionalidade”, insistiu, citando que a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) não diz que a aula deve ter 50 minutos nem ser seriada. “Mas estamos condicionados a isso”, pontuou.
Miguel Thompson descreveu alternativas de ensino que podem tornar o aluno autônomo e inovador (quando consegue materializar uma ideia criativa), entre as quais estimular a autoria na realização de vídeos, podcasts e fotos para redes sociais, mostrando-se à comunidade. Conforme disse, o professor também deve incentivar a imaginação colocando um “...e se?” nos temas estudados e assim desafiar conhecimentos já formalizados. O educador destacou ainda que narrativas devem começar com um problema, de modo a despertarem competências como ser crítico, colaborativo, empreendedor e curioso, entre outras. E falou que é essencial envolver as famílias com a escola, para que entendam as mudanças ao lado dos filhos.
O seminário Inovação na Escola – Criatividade Como Estratégia Pedagógica e de Gestão foi aberto com a exposição de Carlotta Ferrozzi e Adele Grotti, que trouxeram da Itália o programa de educação para a sustentabilidade desenvolvido pelo Centro ReMida com materiais descartados. Também contou com mesas redondas e várias oficinas.
“Temos que pensar a escola como espaço de colaboração e aprendizagem em convivência. Assim, poderemos fazer algo diferente na sociedade do conhecimento para que a criatividade e a inovação floresçam”, apontou professor Fábio Josgrilberg, um dos idealizadores do evento. Também a diretora de Pós-Graduação e Pesquisa da Metodista, professora Adriana Barroso de Azevedo, deu as boas-vindas destacando a necessidade de novas formas de atuar na educação por meio de trabalho coletivo e que valorize o humano, não apenas a transmissão de conhecimentos.
Leia também: Experiência italiana coloca a reciclagem na pauta da formação escolar
Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
Conheça Outras.