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O gênero da violência e o imperativo ético cristão

PALAVRA DA ASSESSORIA DE DIREITOS HUMANOS DA IGREJA METODISTA 3RE E DA SECRETARIA DE AÇÃO SOCIAL E CIDADANIA DA 8ªRE

06/06/2016 16h21

Nos últimos dias testemunhamos a comoção do país em torno do caso do estupro coletivo da adolescente do Rio de Janeiro. A barbárie do crime envolvendo vários homens, e sua veiculação nas redes sociais, gerou indignação de muitas pessoas individualmente, de diferentes movimentos sociais e do poder público. Na semana passada outra adolescente, dessa vez do Piauí, foi estuprada por cinco homens, quatro deles menores de idade. Em 2015, também no Piauí, quatro adolescentes foram estupradas, espancadas e, posteriormente jogadas de um penhasco de mais de dez metros. Uma delas morreu. Elas foram violentadas por cinco homens, sendo quatro deles também menores de idade. O que ocorreu com as adolescentes do Rio de Janeiro e do Piauí acontece com uma frequência muito maior do que se imagina. Muitos desses crimes jamais foram denunciados, e muitas mulheres se calaram com medo do julgamento da sociedade, que lamentavelmente tende a culpabilizá-las pelo estupro que sofreram.

Infelizmente, o país se comove tão rapidamente quanto esquece da violência cotidiana experimentada pelas mulheres, e trata desse problema apenas como “caso de polícia”, fazendo ouvidos moucos para as inúmeras reivindicações dos movimentos sociais e acadêmicos, de que é necessário investir na educação de gênero para o enfrentamento da violência contra as mulheres. Muitos grupos religiosos de caráter fundamentalista, lamentavelmente, engrossam a voz dos que se opõem à educação de gênero, tornando-se, dessa forma, cúmplices de todas as formas de violência às quais as mulheres estão expostas. Sim, cúmplices e algozes da força mortal da desigualdade de gênero.

Há um consenso entre estudiosos e estudiosas da violência contra crianças e mulheres de que quanto mais acentuada é a desigualdade de gênero, maior é a violência imposta a elas. Nossas meninas, nossas adolescentes, nossas mulheres adultas e idosas estão sendo violentadas em seu direito de existir. É fundamental educar nossas crianças para a igualdade de gênero, para o reconhecimento da dignidade de mulheres e de homens, para o respeito à diversidade. É necessário educar nossas crianças para o amor, pois o amor “não se alegra com a injustiça” (I Co 13, 6).

Há um texto bíblico que raramente é trazido para os púlpitos de nossas igrejas. O triste estupro coletivo da concubina do levita e seu esquartejamento pelo “companheiro”, em Juízes 19. Talvez seja o momento de refletirmos sobre ele. Por que será que nos calamos acerca desse mal do qual padecem sociedades das mais diferentes épocas e lugares? Em que medida fazemos missão nos calando acerca das inúmeras injustiças vivenciadas por meninas, adolescentes, mulheres adultas e idosas? A Igreja não pode se calar. Se nos calarmos “as pedras clamarão” (Lc 19,40). É aí que reside a importância de uma igreja profética, que não se conforma com a injustiça.

As mulheres são humanas, são sujeitos de direitos, e a violência contra as mulheres se constitui em violação dos direitos humanos. O silenciamento das igrejas diante da violência contra as mulheres alimenta as estatísticas da violência no mundo. Portanto, denunciar a violência, combatê-la e educar para a igualdade de gênero se coloca como imperativo ético para o cristianismo.

Nosso desafio missionário com as mulheres se traduz na afirmação da Junta Geral de Ministérios Globais da Igreja Metodista Unida: Se a Igreja não está rompendo a discriminação de gênero, ela não está sendo Igreja. Somos todas parte da herança das mulheres que trabalham pela transformação. Vamos abraçar esse legado e encorajar outras mulheres [e homens] a juntarem-se a nós enquanto lutamos com as questões de gênero que afetam a todas [e todos] nós.” (Gênero e Igreja, 2004, p. 5)

Sandra Duarte de Souza

Iniciativa:
Assessoria para a Promoção dos Direitos Humanos da 3ª Região Eclesiástica. - rev.Marciano do Prado.
Secretaria de Ação Social e Cidadania da 8ª Região Eclesiástica. - rev.Welinton Pereira da Silva.

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