Qualidade da escola é colocada em xeque por especialistas no Programa Atualizo
30/04/2019 17h10 - última modificação 30/04/2019 17h19
A qualidade da escola, seja na infraestrutura física ou na formação do professor, é uma das causas da evasão de alunos e pode estar na origem de jovens que se rebelam contra a educação e percorrem os caminhos da violência. Currículo ultrapassado, falta de acolher o estudante, docentes que não entendem nem criam espaços de diálogo com a linguagem diferente da criança e do adolescente, além de equipamentos deteriorados, acionaram a bomba-relógio do atual cenário da escola pública no Brasil.
“A evasão no Ensino Médio chegou a 39,8% de jovens com 17 anos em 2017. No Ensino Fundamental, 88,5% das escolas não têm laboratório de Ciências e 52,3% têm fossa no lugar do banheiro. Crianças e adolescentes brasileiros ou estão fora do ensino regular ou estudam nessas condições. De que violência estamos falando?” pergunta a professora Elizabete Ferreira Esteves Campos, da Pós-graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo.
Professora Elizabete foi uma das debatedoras no 2º encontro do Ciclo "Entre o diferente e o semelhante: a emergência de (in)compatibilidades" promovido pelo Programa Atualizo da Umesp em 24 de abril. A série busca discutir o episódio de ex-alunos da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, que invadiram e mataram estudantes em março último.
Muita desinformação
Também definindo a escola como ambiente de debates e reflexão, onde deve haver confronto saudável de ideias e opiniões, o jornalista e professor Luiz Alberto Farias lamenta a ausência dessa troca em sala de aula. “A qualidade questionável da educação leva o jovem a perguntar: por que ir à escola? Hoje tem o Google. Se suprimirmos da vida da criança e do adolescente esse espaço de empatia promovido pela educação, certamente vamos rebaixar ainda mais o conhecimento e agravar o cenário da violência”, entende o coordenador da Pós-graduação em Comunicação Social da Metodista.
Estudioso de temas sobre opinião pública e fake news, professor Luiz Farias alertou para o que define como obesidade informacional, ou seja, o grande volume de informações que circulam pela internet e que resultam em desinformação se não houver critérios de avaliação. Ele acha que só com educação apropriada as pessoas deixarão de “endossar às cegas” fatos e imagens que recebem, evitando assim multiplicar informações erradas ou falsas.
Exibindo dados da ONG Todos pela Educação e notícias baseadas em censos do MEC, professora Elizabete disse que, quando há qualidade e identificação com o conteúdo escolar, os jovens se interessam pela educação. Citou que em julho de 2018 as ETECs (Escolas Técnicas Estaduais de São Paulo) atraíram 5.266 candidatos para apenas 370 vagas.
“A escola pública como funciona hoje não desperta sentimento de pertencimento nos alunos, seu conteúdo não faz sentido para o jovem, temos problemas de segurança e de bullying. O pior é quando o diretor chama a polícia ou usa seu poder de repressão contra eventual indisciplina de um aluno”, citou a docente entre os vários problemas apontados.
Mediador do debate, o coordenador da Pós-graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo, professor Marcelo Furlin, acha que cenas de violência nas escolas não têm causa apenas patológica. “São narrativas humanas de fuga. Como educadores, temos que buscar ambientes de narrativas de mudança, de construção formativa”, falou no evento, transmitido para todos os polos de Educação a Distância da Metodista.
O próximo debate está programado para 23 de maio com os docentes da Pós-graduação em Ciências da Religião Helmut Renders e Sandra Duarte de Souza, e intermediação da professora Cristina Miyuki Hashizume. Os encontros são abertos, das 18h às 19h15, no Auditório Capa do campus Rudge Ramos.
Leia também: Professores debatem acontecimento em Suzano
Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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