Workshop UNESCOM discutiu trabalho da escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch

Pesquisador Arthur Marchetto analisa evolução estilística da autora

23/11/2018 16h55 - última modificação 27/11/2018 11h38

Igor Neves

O mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (PósCom/UMESP), Arthur Marchetto, foi responsável por comandar o último workshop UNESCOM de 2018, Vozes Anônimas da União Soviética, realizado no dia 21 de novembro, que teve como tema a evolução estilística das obras da jornalista e escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch.

Arthur traçou o trajeto profissional de Svetlana, desde o início da carreia como repórter de um jornal rural, na década de 70, até 2015, quando ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, o primeiro dado a uma autora que possui seu trabalho voltado para a não ficção. A partir de uma técnica única, cada uma das suas obras reúne, em média, 300 a 500 entrevista, onde 100 são escolhidas para fazerem parte do livro e, dessas, em torno de 10 a 20 entrevistas formam a base do trabalho.

O trabalho do pesquisador foi desenvolvido a partir de três obras clássicas: A guerra não tem rosto de mulher (1985), Vozes de Tchenóbil (1997) e O fim do homem soviético (2013), traduzidas e distribuídas no Brasil pela editora Companhia das Letras.

Segundo Arthur, os três elementos memória, oralidade e polifonia, escolhidos, por ele, para análise, caracterizam a obra de Svetlana, ao dar plena atenção ao registro do cotidiano e do homem pequeno. Nesse aspecto, segundo ele, a memória recria o passado no presente e serve como uma porta de acesso aos sentimentos, a oralidade serve para levantar a voz do homem comum frente ao discurso oficial, valorizando o sujeito e criando redes de resistência para as memórias reprimidas e a polifonia, termo usado pelo teórico russo Mikhail Bakhtin, é tradição russa na literatura.

Em A guerra não tem rosto de mulher, os depoimentos escolhidos são de mulheres soviéticas que participaram na II Guerra Mundial, dividindo os relatos por temáticas a como beleza, amor, vida e morte, heroísmo, história oficial, memória, oralidade e feminilidade. Esse livro discutido por Arthur, apresenta uma nota histórica (que também está presente nas outras obras) contando a versão da história oficial, através de um relato pessoal da autora, em formato de diário, onde ela se distingue das outras personagens do livro. Já os depoimentos são divididos em monólogos ou em coros, quando várias pessoas falam. A presença da didascália, indicações usadas em textos teatrais que descrevem as ações dos personagens, é muito fraca no texto.

Em Vozes de Tchenóbil, a estrutura é semelhante ao livro anterior, como nota histórica, relato pessoal, onde a autora substitui o diário por uma entrevista consigo mesma, depoimentos divididos em monólogo ou em coros e a didascália se apresenta mais forte na obra.

No último livro analisado, O fim do homem soviético, que trata da queda do comunismo no bloco soviético, a nota histórica persiste, porém, o relato pessoal agora acaba com a separação da Svetlana como apenas autora e se coloca como personagem na história. Os depoimentos ainda são divididos em monólogos e em coro, mas o leitor não sabe mais quem foi que concedeu a entrevista e a didascália se consolida na obra, apresentando passagens maiores com descrições e ações.

A partir da análise, Arthur concluiu que, conforme a autora ia ganhando mais experiência e legitimidade, as tradições russas como a polifonia e o homem comum são recuperadas, os depoimentos ficam mais complexos e mais experimentais e acabam se integrando dentro do discurso oficial da História.

A palestra pode ser vista na íntegra pelo Facebook da Cátedra Unesco/Umesp.

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